Gen�tica
Not�cia da edi��o impressa de 04/09/2017.
Alterada em 05/09 �s 17h43min
Criadores investem mais em zebu�nos
Participa��o de ra�as zebu�nas tomaram f�lego na feira de 2011 para c�, chegando a duas participa��es recorde
FREDY VIEIRA/JC
Ana Esteves
Nunca se viram tantos exemplares das raças zebuínas circulando pela Expointer como nos últimos anos. O incremento da participação dos animais típicos das regiões Centro-Oeste e Sudeste do País se deve ao crescente interesse dos pecuaristas gaúchos, tradicionais criadores de raças europeias, em cruzar seus plantéis para aproveitar a maior resistência, longevidade, rusticidade e adaptabilidade das raças zebuínas.
Depois de 21 anos de participação discreta na Expointer, não ultrapassando os 200 animais inscritos, as raças zebuínas tomaram fôlego de 2011 para cá, chegando a duas participações recorde. "O ano de 2012 foi o primeiro em que tivemos mais de 300 animais em Esteio, repetindo este número, em 2015. Nos outros anos, oscilamos muito, nunca baixando dos 100 animais, chegando a 2017 com 213 inscritos", disse o zootecnista e gerente executivo da Associação dos Criadores Gaúchos de Zebu, Nathã Carvalho.
Entre as raças que mais cresceram em participação na feira, está a Gir Leiteiro, que estreou na Expointer em 2010, com apenas 71 animais, ultrapassando mais de 100 inscritos nas edições seguintes. "De 2013 em diante, a Gir Leiteiro passou a representar 50% do total das raças zebuínas inscritas, leite e corte e, de 2014 em diante ocupa o segundo lugar em participação entre as raças leiteiras gerais, perdendo apenas para a Holandesa", disse Carvalho. Segundo ele, esse crescimento se deve ao maior interesse dos produtores gaúchos em genética zebuína, tanto para leite como para corte.
O criador de Gir Leiteiro, Girolando e Holandês, proprietário da fazenda Santo Antônio de Nova Alvorada, Álvaro Bombonatto, diz que o futuro da produção leiteira no Estado está no cruzamento entre o Gir e a raça Holandesa. "Há um aumento muito grande na procura por material genético zebu, pela melhora genética dos animais expostos, pela consciência de que são raças mais resistentes ao carrapato e às adversidades climáticas do Estado, e por aproveitarem melhor o alimento. Aliam a rusticidade do zebu com a capacidade produtiva do holandês", diz. Ele conta que está negociando com empresários mexicanos, a compra de sêmen do touro grande campeão em 2017 de sua propriedade. "Eles querem melhorar o rebanho deles com sêmen de zebu", diz. Bombonatto diz que a produção leiteira da vaca Holandesa se equivale ao da vaca Gir Leiteiro, de 20 a 25 quilos de leite por animal por dia. Além do grande campeonato nos machos, o produtor também teve grande campeã fêmea e melhor novilha na raça Gir Leiteiro.
Carvalho diz que não possui números oficiais de comercialização na Expointer, já que as raças não realizam mais leilões e as vendas ocorrem individualmente nas baias dos animais, ou depois da feira. "Não temos como levantar esses dados, mas sei que tem muito produtor trazendo seus animais para a feira apenas para demonstração, pois já têm todo plantel vendido."
É o caso do criador da raça Brahman, Hildo José Traesel, proprietário da fazenda Roncador, de Porto Vera Cruz. Ele conta que não tem muitos reprodutores na fazenda, pois a demanda de vendas está aquecida. "Vim para a Expointer colocar os animais na vitrine, como amostra genética, e frente à insistência de alguns compradores, acabei vendendo", conta. Para Traesel, o zebu está aumentando porque as raças taurinas precisam dele. "É o casamento perfeito, como o carrapato tomou conta, precisa fazer mudança de sangue para dar mais resistência ao gado."
Momento � de retomada da valoriza��o
Para o gerente executivo da Associação dos Criadores Gaúchos de Zebu, Nathã Carvalho, os zebuínos estão vivendo um momento de retomada, depois de uma fase de baixa valorização. Até o início dos anos 2000, havia uma grande demanda de touros Nelore, no Rio Grande do Sul, na busca por cruzamento com raças europeias. Houve um crescimento das raças sintéticas e isso desencadeou uma campanha da indústria frigorífica contra a utilização de genética zebuína.
"Isso se propagou de forma errada, diziam que os zebuínos prejudicavam qualidade da carne, que era dura e que não tinha marmoreio. Na verdade, o problema eram os baixos índices produtivos no Estado." Passamos por um longo período de restrição de mercado, muitos criadores abatendo todo o plantel, mas os que resistiram acreditaram nessa retomada, em função das condições de clima e pasto do Estado. "Do ano passado para cá, percebemos que eles estavam certos. Atualmente é difícil encontrar reprodutores Nelore disponíveis no Estado, pois os criadores que permaneceram selecionando a raça, já venderam todos os touros, devido ao crescimento da demanda. Houve a retomada pela necessidade de utilização de zebu na propriedade para melhorar rusticidade, adaptabilidade ao calor e resistência ao carrapato", diz Carvalho.
Produtores elogiam resultados
Para a m�dica veterin�ria K�tia Huber Ribeiro, propriet�ria da fazenda Palmeira, de Camaqu�, o investimento em sangue zebu�no foi recompensador. "Uso Bravon como gado comercial, com o objetivo de agregar coisas boas do zebu�no e coisas boas do Devon, para poder somar na nossa produ��o de carne", diz K�tia. Ela conta que seleciona Nelore e algumas vezes usou Brahman para aumento de carca�a.
A criadora diz que a m�e meio sangue "� uma vaca maravilhosa", que produz em qualquer situa��o, resultando em terneiros de carne de muita qualidade, com velocidade de crescimento, resist�ncia ao carrapato, muito menos manejo do que no gado puro. "Para cada 10 manejos que fa�o com o gado, s�o seis para o Devon e quatro para o Bravon", diz K�tia, que trabalha com 40% do rebanho cruzado Bravon e o restante gado puro Devon.
Elizabeth diz que a cruza agrega a docilidade do Devon com a resist�ncia do zebu. "A docilidade nos d� manejo tranquilo e seguro e f�meas mais tranquilas seguram melhor a gesta��o, menos estresse, menos cortisol gera �ndice de prenhez melhor." Al�m disso, segundo ela, o touro Devon enfrenta bem o calor e fica f�rtil por mais de 10 anos, o que n�o ocorre com as outras ra�as brit�nicas, em que touros puros trabalham, no m�ximo, um ano e ficam inf�rteis por causa do calor.
Outra ra�a sint�tica desenvolvida por criadores ga�chos � o Braford, resultado da cruza de Brahman com Hereford. O criador de Hereford e Braford, Jos� Ricardo Pereira Saraiva, propriet�rio da Cabanha Cinamomo de Bag�, conta que come�ou a concentrar a produ��o em Braford, ap�s 60 anos de um plantel 100% Hereford.
"As coisas modificaram: o Hereford � muito exigente nutricionalmente. E para os campos duros da regi�o de Bag�, nada melhor do que o Braford. Al�m disso, � uma ra�a que pega menos carrapato e � mais resistente." Ele conta que come�ou a registrar o Braford h� seis anos e que no remate anual da cabanha, o Braford tem ganhado na prefer�ncia de criadores de v�rias partes do Estado. "Est� dominando nos leil�es, sendo top de pre�o, pelo melhor rendimento de carca�a e melhor acabamento."
Cruzamento com ra�as europeias recebe incentivo
A presidente da Associa��o Brasileira dos Criadores de Devon (ABCD), Elizabeth Cirne-Lima, acredita que o cruzamento de ra�as zebu�nas com europeias � o caminho natural, j� que o rebanho nacional � 90% zebu�no, e s� o Sul tem concentra��o de ra�as brit�nicas. Os cruzamentos devem se expandir, pois, do Paran� para cima, a maior parte dos animais s�o zebu�nos, e � com eles que temos que trabalhar por conta das quest�es clim�ticas, do volume de carne e das matrizes de qualidade", afirma.
Segundo a criadora, o Brasil � reconhecido como um dos pa�ses com os melhores zebu�nos do mundo, com uma sele��o muito boa, inclusive em termos de qualidade de carne. "Ent�o, temos que juntar for�as e trabalhar com eles, com as ra�as sint�ticas." Elizabeth conta que existe um entrave por parte do Minist�rio da Agricultura (Mapa) para que o registro da ra�a Bravon, que come�ou com cruzamento de Brahman com Devon, seja efetivado. "H� alguns anos, o Devon teve um registro provis�rio do Bravon, mas nunca conseguimos o definitivo. O Mapa faz exig�ncia de um n�mero m�nimo de animais padronizados 3/8, para que seja criado o registro. No entanto, entramos num c�rculo vicioso porque, se n�o t�m registro n�o tem como aumentar o plantel de sint�ticos para chegar a um n�mero m�nimo. Evolu�mos e parece que agora o Mapa est� mais sens�vel � quest�o, deixando de exigir n�mero m�nimo".
Elizabeth lembra que, assim como tem criadores ga�chos interessados na gen�tica do zebu, � crescente o n�mero de produtores de fora do Estado que buscam o Devon para cruzar fora daqui. "Criadores da Bahia e do Mato Grosso est�o na Expointer em busca de gen�tica Devon no Rio Grande do Sul e que levam para seus estados para desenvolvimento do Bravon, al�m da produ��o de Nelore puro e de Devon Puro."
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