Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 01 de Setembro de 2017 às 18:50

Criadores investem mais em zebuínos

Participação de raças zebuínas tomaram fôlego na feira de 2011 para cá, chegando a duas participações recorde

Participação de raças zebuínas tomaram fôlego na feira de 2011 para cá, chegando a duas participações recorde

FREDY VIEIRA/JC
Compartilhe:
Ana Esteves
Nunca se viram tantos exemplares das raças zebuínas circulando pela Expointer como nos últimos anos. O incremento da participação dos animais típicos das regiões Centro-Oeste e Sudeste do País se deve ao crescente interesse dos pecuaristas gaúchos, tradicionais criadores de raças europeias, em cruzar seus plantéis para aproveitar a maior resistência, longevidade, rusticidade e adaptabilidade das raças zebuínas.
Nunca se viram tantos exemplares das raças zebuínas circulando pela Expointer como nos últimos anos. O incremento da participação dos animais típicos das regiões Centro-Oeste e Sudeste do País se deve ao crescente interesse dos pecuaristas gaúchos, tradicionais criadores de raças europeias, em cruzar seus plantéis para aproveitar a maior resistência, longevidade, rusticidade e adaptabilidade das raças zebuínas.
Depois de 21 anos de participação discreta na Expointer, não ultrapassando os 200 animais inscritos, as raças zebuínas tomaram fôlego de 2011 para cá, chegando a duas participações recorde. "O ano de 2012 foi o primeiro em que tivemos mais de 300 animais em Esteio, repetindo este número, em 2015. Nos outros anos, oscilamos muito, nunca baixando dos 100 animais, chegando a 2017 com 213 inscritos", disse o zootecnista e gerente executivo da Associação dos Criadores Gaúchos de Zebu, Nathã Carvalho.
Entre as raças que mais cresceram em participação na feira, está a Gir Leiteiro, que estreou na Expointer em 2010, com apenas 71 animais, ultrapassando mais de 100 inscritos nas edições seguintes. "De 2013 em diante, a Gir Leiteiro passou a representar 50% do total das raças zebuínas inscritas, leite e corte e, de 2014 em diante ocupa o segundo lugar em participação entre as raças leiteiras gerais, perdendo apenas para a Holandesa", disse Carvalho. Segundo ele, esse crescimento se deve ao maior interesse dos produtores gaúchos em genética zebuína, tanto para leite como para corte.
O criador de Gir Leiteiro, Girolando e Holandês, proprietário da fazenda Santo Antônio de Nova Alvorada, Álvaro Bombonatto, diz que o futuro da produção leiteira no Estado está no cruzamento entre o Gir e a raça Holandesa. "Há um aumento muito grande na procura por material genético zebu, pela melhora genética dos animais expostos, pela consciência de que são raças mais resistentes ao carrapato e às adversidades climáticas do Estado, e por aproveitarem melhor o alimento. Aliam a rusticidade do zebu com a capacidade produtiva do holandês", diz. Ele conta que está negociando com empresários mexicanos, a compra de sêmen do touro grande campeão em 2017 de sua propriedade. "Eles querem melhorar o rebanho deles com sêmen de zebu", diz. Bombonatto diz que a produção leiteira da vaca Holandesa se equivale ao da vaca Gir Leiteiro, de 20 a 25 quilos de leite por animal por dia. Além do grande campeonato nos machos, o produtor também teve grande campeã fêmea e melhor novilha na raça Gir Leiteiro.
Carvalho diz que não possui números oficiais de comercialização na Expointer, já que as raças não realizam mais leilões e as vendas ocorrem individualmente nas baias dos animais, ou depois da feira. "Não temos como levantar esses dados, mas sei que tem muito produtor trazendo seus animais para a feira apenas para demonstração, pois já têm todo plantel vendido."
É o caso do criador da raça Brahman, Hildo José Traesel, proprietário da fazenda Roncador, de Porto Vera Cruz. Ele conta que não tem muitos reprodutores na fazenda, pois a demanda de vendas está aquecida. "Vim para a Expointer colocar os animais na vitrine, como amostra genética, e frente à insistência de alguns compradores, acabei vendendo", conta. Para Traesel, o zebu está aumentando porque as raças taurinas precisam dele. "É o casamento perfeito, como o carrapato tomou conta, precisa fazer mudança de sangue para dar mais resistência ao gado."

Momento é de retomada da valorização

Para o gerente executivo da Associação dos Criadores Gaúchos de Zebu, Nathã Carvalho, os zebuínos estão vivendo um momento de retomada, depois de uma fase de baixa valorização. Até o início dos anos 2000, havia uma grande demanda de touros Nelore, no Rio Grande do Sul, na busca por cruzamento com raças europeias. Houve um crescimento das raças sintéticas e isso desencadeou uma campanha da indústria frigorífica contra a utilização de genética zebuína.
"Isso se propagou de forma errada, diziam que os zebuínos prejudicavam qualidade da carne, que era dura e que não tinha marmoreio. Na verdade, o problema eram os baixos índices produtivos no Estado." Passamos por um longo período de restrição de mercado, muitos criadores abatendo todo o plantel, mas os que resistiram acreditaram nessa retomada, em função das condições de clima e pasto do Estado. "Do ano passado para cá, percebemos que eles estavam certos. Atualmente é difícil encontrar reprodutores Nelore disponíveis no Estado, pois os criadores que permaneceram selecionando a raça, já venderam todos os touros, devido ao crescimento da demanda. Houve a retomada pela necessidade de utilização de zebu na propriedade para melhorar rusticidade, adaptabilidade ao calor e resistência ao carrapato", diz Carvalho.

Produtores elogiam resultados

Coberturas incluem mortes por diversas doenças, acidentes e até raios

Coberturas incluem mortes por diversas doenças, acidentes e até raios

JONATHAN HECKLER/arquivo/jc
Para a médica veterinária Kátia Huber Ribeiro, proprietária da fazenda Palmeira, de Camaquã, o investimento em sangue zebuíno foi recompensador. "Uso Bravon como gado comercial, com o objetivo de agregar coisas boas do zebuíno e coisas boas do Devon, para poder somar na nossa produção de carne", diz Kátia. Ela conta que seleciona Nelore e algumas vezes usou Brahman para aumento de carcaça.
A criadora diz que a mãe meio sangue "é uma vaca maravilhosa", que produz em qualquer situação, resultando em terneiros de carne de muita qualidade, com velocidade de crescimento, resistência ao carrapato, muito menos manejo do que no gado puro. "Para cada 10 manejos que faço com o gado, são seis para o Devon e quatro para o Bravon", diz Kátia, que trabalha com 40% do rebanho cruzado Bravon e o restante gado puro Devon.
Elizabeth diz que a cruza agrega a docilidade do Devon com a resistência do zebu. "A docilidade nos dá manejo tranquilo e seguro e fêmeas mais tranquilas seguram melhor a gestação, menos estresse, menos cortisol gera índice de prenhez melhor." Além disso, segundo ela, o touro Devon enfrenta bem o calor e fica fértil por mais de 10 anos, o que não ocorre com as outras raças britânicas, em que touros puros trabalham, no máximo, um ano e ficam inférteis por causa do calor.
Outra raça sintética desenvolvida por criadores gaúchos é o Braford, resultado da cruza de Brahman com Hereford. O criador de Hereford e Braford, José Ricardo Pereira Saraiva, proprietário da Cabanha Cinamomo de Bagé, conta que começou a concentrar a produção em Braford, após 60 anos de um plantel 100% Hereford.
"As coisas modificaram: o Hereford é muito exigente nutricionalmente. E para os campos duros da região de Bagé, nada melhor do que o Braford. Além disso, é uma raça que pega menos carrapato e é mais resistente." Ele conta que começou a registrar o Braford há seis anos e que no remate anual da cabanha, o Braford tem ganhado na preferência de criadores de várias partes do Estado. "Está dominando nos leilões, sendo top de preço, pelo melhor rendimento de carcaça e melhor acabamento."

Cruzamento com raças europeias recebe incentivo

A presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Devon (ABCD), Elizabeth Cirne-Lima, acredita que o cruzamento de raças zebuínas com europeias é o caminho natural, já que o rebanho nacional é 90% zebuíno, e só o Sul tem concentração de raças britânicas. Os cruzamentos devem se expandir, pois, do Paraná para cima, a maior parte dos animais são zebuínos, e é com eles que temos que trabalhar por conta das questões climáticas, do volume de carne e das matrizes de qualidade", afirma.
Segundo a criadora, o Brasil é reconhecido como um dos países com os melhores zebuínos do mundo, com uma seleção muito boa, inclusive em termos de qualidade de carne. "Então, temos que juntar forças e trabalhar com eles, com as raças sintéticas." Elizabeth conta que existe um entrave por parte do Ministério da Agricultura (Mapa) para que o registro da raça Bravon, que começou com cruzamento de Brahman com Devon, seja efetivado. "Há alguns anos, o Devon teve um registro provisório do Bravon, mas nunca conseguimos o definitivo. O Mapa faz exigência de um número mínimo de animais padronizados 3/8, para que seja criado o registro. No entanto, entramos num círculo vicioso porque, se não têm registro não tem como aumentar o plantel de sintéticos para chegar a um número mínimo. Evoluímos e parece que agora o Mapa está mais sensível à questão, deixando de exigir número mínimo".
Elizabeth lembra que, assim como tem criadores gaúchos interessados na genética do zebu, é crescente o número de produtores de fora do Estado que buscam o Devon para cruzar fora daqui. "Criadores da Bahia e do Mato Grosso estão na Expointer em busca de genética Devon no Rio Grande do Sul e que levam para seus estados para desenvolvimento do Bravon, além da produção de Nelore puro e de Devon Puro."

Notícias relacionadas