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Economia

- Publicada em 08 de Setembro de 2017 às 16:49

Desnacionalização da indústria brasileira preocupa economistas reunidos em BH

Agência Brasil
Uma das principais preocupações manifestadas por economistas durante o 22º Congresso Brasileiro de Economia, que termina nesta sexta-feira (8) em Belo Horizonte, está ligada à venda de ativos brasileiros para grupos estrangeiros. Para eles, setores estratégicos da economia devem ser controlados por empresas nacionais, sejam públicas ou privadas.
Uma das principais preocupações manifestadas por economistas durante o 22º Congresso Brasileiro de Economia, que termina nesta sexta-feira (8) em Belo Horizonte, está ligada à venda de ativos brasileiros para grupos estrangeiros. Para eles, setores estratégicos da economia devem ser controlados por empresas nacionais, sejam públicas ou privadas.
O crescimento do Brasil no longo prazo, de forma sustentável e inclusiva, vai depender da formação de um parque industrial robusto na opinião de Júlio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), entidade que organiza o evento. "Uma das premissas de uma nação efetivamente independente e soberana é o controle nacional sobre certos setores estratégicos da economia. É preocupante o processo de desnacionalização da nossa economia. Capitais externos estão assumindo o controle de boa parte dos recursos naturais do país e avançam de forma acelerada sobre a indústria do petróleo, do gás e da energia elétrica".
O problema, segundo Miragaya, é que essas grandes corporações estrangeiras mantêm suas áreas de pesquisa, tecnologia e desenvolvimento nos países onde estão suas matrizes. Ele cita a indústria de fertilizantes, que seria fundamental para a economia brasileira gerar emprego e renda, mas infelizmente o país é hoje um grande importador.
Exemplos de proteção à industria nacional são muito comuns em todo o mundo. Em abril, o governo dos Estados Unidos anunciou a possibilidade de criar taxas para importação do aço, de forma a fortalecer as empresas do setor sediadas em seu território. Há alguns anos, a China vetou que a Coca-Cola comprasse a Huiyuan, maior fabricante de sucos no país.
Na visão de Antonio Correia Lacerda, doutor pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o potencial da economia brasileira é subaproveitado pela ausência total de uma política industrial sólida. "O Brasil é dos poucos países do mundo que não precisa escolher entre ser bom no complexo agromineral ou na indústria ou nos serviços. Temos economia de estado, condições climáticas e território vasto para atuarmos em vários setores. Isso não é pra quem quer. É pra quem pode. E só quatro ou cinco países no mundo tem essa possibilidade", disse Lacerda, após receber o prêmio Personalidade Econômica do Ano de 2016, na abertura do congresso.
Ele destacou que a agricultura brasileira, um dos setores produtivos de sucesso no país, não se desenvolveu baseado apenas na eficiência microeconômica dos agricultores. "Houve uma política de estado. O papel da Embrapa [Empresa Brasílieira de Pesquisa Agropecuária], por exemplo, foi fundamental. E isso foi feito com investimento público, com políticas públicas. Foi ela quem desenvolveu a soja no Cerrado, que foi a grande revolução que tivemos na agricultura e que depois teve grande impacto também na pecuária".
Para ele, a indústria nacional precisa ser alavancada e, para ter um crescimento sustentável, o Brasil precisa de investimentos. "O argumento principal para o ajuste é o de que o Estado deveria funcionar como o orçamento familiar ou como uma empresa. E nós sabemos que isso não é possível. É justamente na crise que o Estado precisa investir, fomentar oportunidades. Não é qualquer gasto, mas é o gasto que tem efeito multiplicador. E também tem efeito demonstrador, porque estimula outros agentes a também aplicarem recursos no país. O ajuste pelo ajuste não se sustenta. A prática de juros elevados e o corte sucessivo de investimentos levam a mais recessão".
A possível privatização da Eletrobras preocupa Nelson José Hubner Moreira, presidente do conselho de administração da Light. Para ele, a estatal brasileira exerce um poder indutor da economia nacional. No mês passado, o governo federal informou que pretende reduzir a participação da União no capital da Eletrobras, com sua consequente democratização na Bolsa de Valores, a exemplo do que já foi feito com a Embraer e a Vale. A medida teria como objetivo dar mais competitividade e agilidade à empresa para gerir suas operações.
"O setor elétrico, ao mesmo tempo que precisa ter energia barata para incentivar os demais setores industriais, é altamente intensivo e comprador desses outros setores industriais. Ele alavanca a própria indústria. Você pega, por exemplo, a energia eólica. A Eletrobras proporcionou o desenvolvimento de um parque, inclusive com diversas empresas de capital internacional que aqui se instalaram, mas que desenvolvem tecnologia aqui, geram renda e emprego aqui", destacou.
O presidente da Cofecon também desaprova a desestatização da Eletrobras. Na opinião de Miragaya, não se deve negociar esses ativos em momentos de crise, uma vez que o Estado acaba vendendo mais barato nesses períodos. "Não é questão de ser estatista ou não. É só ver a realidade dos países desenvolvidos. Às vezes, fica essa conversa sobre ineficiência. É uma bobagem. A Telebras, que era pública, foi privatizada, virou a Oi e hoje está completamente endividada. A Vasp foi privatizada e quebrou". Ele avalia que não se pode relacionar empresa estatal à ineficiência e corrupção e empresa privada à eficiência e ao trabalho ético. "Alemanha e Noruega têm parte significativa da sua indústria estatizada. A Volkswagen, que é um sucesso, tem 30% do seu capital ligado ao estado da Baixa Saxônia. Na China, 75% das principais empresas são estatais e é a economia que mais cresce no mundo."
Em agosto, o Ministério de Minas e Energia anunciou a privatização da Eletrobras, controladora da Chesf. A empresa passaria à iniciativa privada, mas a União permaneceria como acionista, embora com participação menor. O governo federal justifica a mudança alegando que a Eletrobras acumula um impacto negativo de R$ 250 bilhões nos últimos 15 anos. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, o governo permanecerá como acionista da Eletrobras, recebendo dividendos ao longo do tempo, e a União manterá poder de veto na administração da companhia, garantindo que decisões estratégicas no setor sejam preservadas.
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