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Cinema

- Publicada em 24 de Setembro de 2017 às 16:24

O aventureiro

O diretor Doug Liman, que iniciou a série Bourne com A identidade, depois cedendo o lugar para Paul Greengrass, que entre 2004 e 2016 realizou mais três dos filmes do ciclo dedicado àquele agente americano que busca esclarecer seu passado, assina a realização de Feito na América, um relato de ação repleto de méritos narrativos e dotado de um olhar crítico e irônico sobre a realidade contemporânea. O cinema de ação nunca foi empecilho para uma observação correta da cena atual. O que pode ser acompanhado pelos meios de comunicação costuma ser composto por elementos exteriores de tramas cujos dados que poderiam ser faróis a iluminar o cenário nem sempre aparecem com a nitidez desejada. O espetáculo pode ser revelador para um observador mais atento, mas relatos mais aprofundados é que permitirão que mais tarde tudo seja visto de forma mais nítida. Dessa investigação o cinema pode participar, seja através de obras movidas pela busca de uma narrativa que ostente o aspecto do relato sério, seja por filmes animados pelo espírito da aventura e do humor. Nada impede que o chamado filme de ação também exerça seu papel em tal processo. É o que acontece agora neste filme que acompanha a trajetória de Barry Seal, que trabalhou tanto para a CIA como para traficantes e terminou envolvido num escândalo que abalou o governo de Ronald Reagan. Não estamos diante de um relato do gênero que consagrou Costa-Gavras, mas de um filme inspirado em muitos clássicos de aventuras. O espaço do cinema é amplo o suficiente para receber propostas diversas. Além disso, o filme de Liman é bastante contundente em seu final, o que evita qualquer acusação de superficialidade. Atento para a reconstituição de fatos, o filme de certa forma termina se constituindo em peça de denúncia, na qual as situações substituem o discurso e a imagem valoriza a palavra.
O diretor Doug Liman, que iniciou a série Bourne com A identidade, depois cedendo o lugar para Paul Greengrass, que entre 2004 e 2016 realizou mais três dos filmes do ciclo dedicado àquele agente americano que busca esclarecer seu passado, assina a realização de Feito na América, um relato de ação repleto de méritos narrativos e dotado de um olhar crítico e irônico sobre a realidade contemporânea. O cinema de ação nunca foi empecilho para uma observação correta da cena atual. O que pode ser acompanhado pelos meios de comunicação costuma ser composto por elementos exteriores de tramas cujos dados que poderiam ser faróis a iluminar o cenário nem sempre aparecem com a nitidez desejada. O espetáculo pode ser revelador para um observador mais atento, mas relatos mais aprofundados é que permitirão que mais tarde tudo seja visto de forma mais nítida. Dessa investigação o cinema pode participar, seja através de obras movidas pela busca de uma narrativa que ostente o aspecto do relato sério, seja por filmes animados pelo espírito da aventura e do humor. Nada impede que o chamado filme de ação também exerça seu papel em tal processo. É o que acontece agora neste filme que acompanha a trajetória de Barry Seal, que trabalhou tanto para a CIA como para traficantes e terminou envolvido num escândalo que abalou o governo de Ronald Reagan. Não estamos diante de um relato do gênero que consagrou Costa-Gavras, mas de um filme inspirado em muitos clássicos de aventuras. O espaço do cinema é amplo o suficiente para receber propostas diversas. Além disso, o filme de Liman é bastante contundente em seu final, o que evita qualquer acusação de superficialidade. Atento para a reconstituição de fatos, o filme de certa forma termina se constituindo em peça de denúncia, na qual as situações substituem o discurso e a imagem valoriza a palavra.
Liman é daqueles cineastas fascinados pela montagem. Seus planos duram pouco na tela e o ritmo da narrativa evita que a monotonia prejudique o interesse do espectador. Ele necessita de poucas cenas para revelar a personalidade do protagonista. Um exemplo é aquela na qual o personagem de Tom Cruise decide abandonar a empresa na qual trabalha. A verificação de todos os dispositivos antes da decolagem é um ritual que exaspera o personagem, que cai na tentação de conhecer um novo mundo, distante da monotonia, da burocracia e da rotina. Detalhes já haviam sido mostrados antes, como na turbulência provocada e no sorriso infantil depois do susto pelo qual haviam passado os passageiros. Fotografar rebeldes armados e em luta contra ditaduras de direita, sustentados, na época da guerra-fria, por interesse de países de esquerda, é uma missão que transforma Seal num agente empenhado em dar um rosto à rebelião que os Estados Unidos procuravam sufocar. Escapando do maniqueísmo, e nisso favorecido pela própria trajetória do protagonista, o filme em seguida começa a acompanhar a aproximação com o tráfico de drogas, até o ponto em que ambos os temas se misturam, enquanto o protagonista fica cada vez mais rico e já não há mais lugar para as malas de dinheiro, uma premonição involuntária do filme e capaz de causar risos na plateia.
Essa forma de fazer cinema escolhida por Liman é também uma mescla de filme de ficção com documentário. O estilo narrativo é inspirado nos cinejornais de antigamente e há momentos nos quais a encenação imita ostensivamente até mesmo as imagens obtidas por meios que substituem as câmeras cinematográficas. Para tornar ainda mais realista o relato, Liman recorre a registros de televisão da época, quando então a hipocrisia e a mentira protocolar são colocadas na tela de maneira a definir o papel então exercido no caso por autoridades americanas daquele período. Para o êxito do filme, o diretor contou com um colaborador como o fotógrafo uruguaio César Charlone, o mesmo de Cidade de Deus, que a tudo filmou como se estivesse trabalhando num documentário, sem esquecer o ator principal, que recria com precisão a figura de um homem seduzido pela aventura e depois vítima de um sistema do qual era apenas uma peça a ser retirada do tabuleiro depois de utilizada.
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