Michele Rolim
O intercâmbio realizado entre os mineiros do grupo Espanca! e o diretor e dramaturgo argentino Daniel Veronese resultou na peça O líquido tátil, que integra a programação do 24º Porto Alegre em Cena, com apresentações de terça a quinta-feira, às 18h, na Sala Carlos Carvalho (Andradas, 736). Os ingressos custam entre R$ 40,00 e R$ 80,00.
A parceria com Veronese se iniciou em dezembro de 2011, quando foi realizado o projeto Encontro tátil - um mergulho na obra de Daniel Veronese. O evento reunia leituras e promovia debates sobre a obra do argentino.
"O Espanca! é fã do Veronese há muitos anos. A gente acompanha o trabalho dele desde quando ele tinha um grupo de teatro de bonecos que se chamava El Periferico del Objetos. Trabalhar com o Veronese foi incrível. Primeiro, porque a gente foi para Buenos Aires trabalhar no estúdio dele. Ficamos morando na cidade durante um mês só para fazer este trabalho", lembra Marcelo Castro, integrante do grupo, que, ao lado de Grace Passô e Gustavo Bones, fez uma imersão criativa de um mês em Buenos Aires.
Essa é a primeira ocasião em que tanto o texto quanto a direção de um espetáculo do Espanca! não são assinados pelo grupo. "Isso fez toda a diferença, porque podemos nos concentrar na atuação. O Daniel é um grande diretor de atores - atualmente, isso é o que ele mais preza. E o trabalho dele se aproxima com o trabalho do Espanca! Ele utiliza as histórias de um jeito muito próximo das primeiras montagens do Espanca!, criando um universo que pode ser tanto engraçado como sombrio, ao mesmo tempo e na mesma obra", afirma Castro.
Nesta montagem, escrita por Veronese originalmente em 1997, os atores representam uma família realista e seus diálogos sobre as artes, o ato teatral em si e os desejos inconscientes que perseguem o homem, o que acaba por provocar diversas tensões e desvendando distintas visões sobre a relação existente entre a vida e a arte. "A escolha do texto partiu do próprio autor. Falamos para o Veronese que gostaríamos de fazer uma peça que ele tivesse escrito e não só dirigido. E então ele lembrou desse texto, e falou que a única peça que ele teria vontade de remontar seria O líquido tátil, porque ele se divertiu muito fazendo essa peça, e ele achava que podíamos nos divertir também", afirma o ator.
Segundo Castro, esse espetáculo é uma grande homenagem ao russo Anton Tchekhov. "O Veronese faz uma saudação ao universo do Tchekhov de um jeito completamente irreverente, sem nenhuma idolatria, apesar de ele amar o Tchekhov e já ter encenado diversas obras dele", afirma o ator. A homenagem ocorre de uma maneira bem característica, tratando de uma família disfuncional e, ao mesmo tempo, artística.
Além da peça, o intercâmbio artístico rendeu outros aprendizados. "Os atores argentinos são incríveis, eles têm a oportunidade de fazer temporadas longas, e a cultura teatral na Argentina é muito mais arraigada que a nossa. Sinto o teatro de lá mais próximo da sociedade. Já o teatro brasileiro experimenta mais novas formas do fazer artístico. Temos muito o que aprender um com o outro", pontua Castro.