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logística

- Publicada em 02 de Outubro de 2017 às 08:58

Automação contribui para a gestão de riscos

Oito em cada 10 executivos acreditam que o interesse pelo desenvolvimento de estratégias de prevenção de perdas avançou nos últimos anos. O dado é da pesquisa "Como gerenciar riscos em um cenário econômico e de negócios desafiador", realizado pela consultoria Deloitte. O levantamento ainda confirmou que, diante de casos de investigação de práticas corruptas nas corporações, as organizações estão ainda mais preocupadas em estruturar áreas de compliance - ao total, 77% da amostra pesquisada possuía área dedicada ao tema.
Oito em cada 10 executivos acreditam que o interesse pelo desenvolvimento de estratégias de prevenção de perdas avançou nos últimos anos. O dado é da pesquisa "Como gerenciar riscos em um cenário econômico e de negócios desafiador", realizado pela consultoria Deloitte. O levantamento ainda confirmou que, diante de casos de investigação de práticas corruptas nas corporações, as organizações estão ainda mais preocupadas em estruturar áreas de compliance - ao total, 77% da amostra pesquisada possuía área dedicada ao tema.
O professor da Fundação Universidade Empresa de Tecnologia (Fundatec) e consultor em gestão de riscos Jeferson Padilha comenta que, em momentos de crise, acontecem maiores investimentos na área, mas os grandes escândalos são os principais atores de consolidação da cultura de prevenção. "O debate sobre gestão de riscos teve início com os escândalos financeiros de empresas muito consolidadas no início dos anos 2000, nos Estados Unidos", explica Padilha. Apesar de não envolver corrupção, como no Brasil, a quebra da empresa norte-americana do setor elétrico Enron, tida como a sétima maior do mundo, em 2001, deu início à onda de conscientização global.
Desde então, os softwares têm contribuído fortemente para a eliminação de fatores perigosos, especialmente na produção industrial. A partir disso, a automação passou a ser uma grande aliada da indústria. "A relação entre países com alto nível de automação e aqueles com maior cultura em gestão de riscos é direta e proporcional", comenta Padilha. No Brasil, de acordo com o professor, o nível de automação é bastante heterogêneo. Segundo pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil, enquanto 68% da produção é automatizada, apenas 15% realizam troca eletrônica de dados com os parceiros de negócios.
No Rio Grande do Sul, o setor calçadista é um dos exemplos positivos. Ao valer-se dos códigos e padrões GS1, a Associação Brasileira das Indústrias Calçadistas (Abicalçados) consolidou o Sistema de Operações Logísticas Automatizadas (Sola), modelo de negócios padronizado para a automatização de processos e integração da cadeia produtiva. Como estes códigos são globais, qualquer sistema de software torna-se compatível, independentemente de sua sofisticação ou do volume de produtos gerenciados a partir dele.
O Sola baseia-se em outros dois pilares, além dos padrões globais: padronização de sistemas e troca eletrônica de dados (EDI). Administrado por um comitê gestor de seis empresas, o Sola é um manual com a finalidade de difundir as melhores práticas para o segmento. "A indústria em geral, não só a calçadista, ainda sofre com processos manuais, o que acarreta em falta de controle de quantidade de insumo ou de distribuição", comenta o consultor da Abicalçados, Igor Hoelscher.
Uma das corporações que compõem o grupo é a gaúcha Via Marte, que tem economizado anualmente cerca de R$ 500 mil em perdas graças à automação de suas linhas de produção. Isso porque, com a utilização desta, é possível eliminar riscos, pelo maior controle dos produtos manufaturados - principalmente no que diz respeito a um dos principais gargalos da indústria, o extravio ou roubo de mercadoria durante a distribuição. A estimativa da Fiergs é de que 20% dos crimes cometidos contra a indústria gaúcha correspondam a roubo ou furto de carga, segundo a sondagem com a indústria. Os dados sobre os desvios de estoque e armazéns são ainda mais alarmantes, ao corresponderem a mais de 29% dos delitos.
"Caso não tivéssemos a rastreabilidade total de nossos produtos, nestas circunstâncias, o cliente acharia que houve irresponsabilidade da empresa", comenta Kautzmann, que lembra que, com o documento de expedição adequado e sistematizado, a reparação do dano por extravio da mercadoria passa a ser da transportadora.
O controle total passa a ser possível a partir da utilização do GTIN (sigla em inglês para Número Global de Item Comercial Seriado), que serve como identificador individual de estruturas de dados, ou seja, cada produto recebe um código GS1 único, que pode ser lido em 150 países. "Isso evita a criação de itens virtualmente, tanto pela a falha humana quanto pela má-fé no processo de separação e preparo de pedidos da indústria", explica o gerente. O próximo passo da automação seria a troca eletrônica de dados com toda a cadeia produtiva.

Perdas intangíveis também devem ser mensuradas

As estratégias de gestão de riscos ainda são muito voltadas a perdas diretas de fluxo de caixas e resultados, aponta o professor da Fundatec Jeferson Padilha. Pela estimativa da consultoria Deloitte, cerca de 90% das empresas trabalham desta maneira. A construção civil, tradicionalmente lembrada por furtos em canteiros de obra, por outro lado, está atenta a um risco menos tangível: segurança para os ocupantes de seus empreendimentos, que pode afetar de maneira direta a imagem daqueles que o viabilizaram. Cada vez é mais comum que consultores de gestão de risco sejam contratados por construtoras com esta finalidade.
A crise financeira tem potencial de despertar uma crise de segurança - ainda mais nos casos em que o estado é afetado, como no Rio Grande do Sul. Atentos a essas questões, surgiu a parceria entre a Smart Conceituação Imobiliária e a consultoria Zero Risco, que visa eliminar riscos para os futuros moradores de um empreendimento na zona Sul da cidade. A partir dela, foi possível gerar a economia de R$ 30 mil,
reposicionando a guarita de vigilância de um prédio ainda na planta. A alteração, além de poupar o montante, trará uma visibilidade mais apropriada da via na qual o prédio está sendo construído. "O valor poupado é inferior ao pago na contratação dos serviços", comenta o consultor de segurança da Zero Risco, Luiz Sotto.
O consultor diz que nem sempre são necessários investimentos significativos para alterar a rotina de segurança de um condomínio ou prédio comercial. "Geralmente, pensa-se em tecnologia, mas a simples troca de procedimentos, ou uma pequena alteração na planta de um edifício, pode ser mais significativa, como neste caso", afirma. O sócio da Smart Ricardo Ruschel comenta que a segurança é uma preocupação constante da empresa de arquitetura, que também é uma incorporadora, já que, em uma conta rápida, o executivo acredita que, a cada 10 clientes, sete questionam sobre as estratégias adotadas para a manutenção da segurança em prédios comerciais e residenciais. "Essa questão é tão recorrente que inclusive desenvolvemos um capítulo especial durante a apresentação dos empreendimentos sobre o tema", explica.
Ambas as empresas são focadas em desenvolver estratégias que visem mitigar riscos a partir da observação do contexto em que se está inserido. "A Zero Risco tem uma abordagem diferente do simples consultor de segurança, que pensa em equipamentos internos, como câmeras; a ideia é semelhante com a nossa, pensar a segurança a partir do entorno", comenta Ruschel. A metodologia utilizada pela consultoria foi aprovada pelo departamento de segurança dos Estados Unidos.
 

Supermercados estão entre os mais afetados por prejuízos no varejo

Quem está na ponta da cadeia produtiva fica mais suscetível a quebras operacionais e furtos. No varejo, esses riscos correspondem a mais de 63% das perdas, segundo a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). Enquanto isso, a média anual dos prejuízos totais do setor está em 1,4% de seu faturamento líquido, segundo o presidente da comissão de prevenção de perdas, auditoria e gerenciamento de riscos da SBVC, Carlos Santos.
Os números da entidade ainda apontam que a principal causa das quebras se dá a partir da exposição de produtos inadequada (37,3%), um dos motivos que levaram a associação a criar a comissão, que hoje é formada por mais de 120 empresas. A finalidade do grupo é desenvolver a cultura da gestão de riscos entre os profissionais da área, além de criar processos padronizados para a aplicação na cadeia de valor do varejo. No momento, estão sendo consolidadas associações semelhantes regionalmente, que devem assumir um papel mais assertivo nesta proposta.
Nesse contexto, os mais afetados são os supermercadistas. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) aponta que, em 2016, os valores perdidos pelo segmento somaram R$ 7,11 bilhões, o que corresponde a 2,1% do faturamento bruto (R$ 338,7 bilhões), enquanto os outros braços do varejo têm perdas na casa do 1%. Caso o montante perdido fosse inserido no ranking Abras, que mede os maiores supermercadistas a partir de seu faturamento, ocuparia a quinta posição.
Ao mesmo tempo, as empresas do setor estão mais atentas a uma cultura de prevenção de riscos. Segundo a pesquisa dos supermercadistas, enquanto em 2012 apenas 28% das marcas consultadas possuíam área de gestão de riscos consolidadas, o número subiu para 59,7% em 2016. O superintendente da Abras, Marcio Milan, comenta que, nesse período, houve esforços de conscientização por parte da entidade. "Intensificamos o treinamento dos colaboradores nas lojas, além de outras medidas que visam atentar o setor sobre a importância do controle de perdas", comenta.
A pesquisa realizada pela entidade mostra que, na comparação por artigos que geram as maiores perdas por furto ou avaria, os doces são os mais recorrentes (23%), seguidos pelas bebidas alcoólicas (18%). A Abras planeja continuar com cursos e campanhas de conscientização de prevenção de riscos, desde o setor produtivo até a casa do consumidor final. "Precisamos estar atentos, uma vez que, além da perda financeira, há o aspecto social, por se tratar de alimentação", conclui Milan.
 

Sensores e algoritmos reduzem número de paradas na produção

Em um mundo ideal, toda a manutenção necessária no maquinário industrial aconteceria durante paradas programadas para evitar tempo ocioso dos equipamentos. Essa é uma realidade próxima dos clientes da Tetra Pak, que, desde o início deste ano, testa software que ameniza riscos de paradas não programadas em razão do mal funcionamento do equipamento, em escala global.
Apesar da capacidade ociosa da indústria brasileira, o diretor de Desenvolvimento de Negócios de Serviços Técnicos da Tetra Pak, Edison Kubo, lembra que a economia irá se restabelecer e que a capacidade total voltará. "Não queremos que o ativo do cliente pare, isso significa um custo muito elevado", observa.
Por isso, duas vertentes foram instauradas no sistema de monitoramento remoto da marca. O primeiro atua ligado a 5 mil máquinas de envase, explorando dados de sua performance; e o segundo utiliza sensores atrelados a hardwares de maior risco das máquinas e está sendo testado em poucas linhas de produção.
O sistema permite organizar de maneira preventiva o momento da troca de componentes do maquinário com algumas semanas de antecedência, em vez da tradicional manutenção por intervalo. "Alguns equipamentos podem durar de quatro a sete mil horas, é um período muito grande para prever uma possível parada", argumenta Kubo.
Com os sensores, na linha-piloto, instalada na Argentina, foram evitadas 114 horas paradas de equipamentos ao longo de nove meses de funcionamento do sistema. Isso fez com que 4,2 mil embalagens fossem poupadas, além da economia financeira, que a Tetra Pak estima em € 120 mil.
Mesmo com toda a tecnologia envolvida, Kubo ressalta que o material humano segue fundamental e precisa estar cada vez mais qualificado para acompanhar as novidades trazidas pela indústria 4.0. "O algoritmo passa as informações, mas precisamos do técnico in loco para fazer as intervenções", ressalta.