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- Publicada em 05 de Setembro de 2017 às 16:48

Companhias conseguem reduzir endividamento


KENTEEGARDIN VIA VISUALHUNT/DIVULGAÇÃO/JC
Após registrar níveis alarmantes, o que levou a número recorde de pedidos de recuperação judicial, o nível de endividamento das empresas brasileiras, especialmente as de grande porte, começa a cair. Há um esforço extra em renegociar as dívidas para estarem mais bem preparadas para a recuperação da economia, que deve se intensificar a partir de 2018.
Após registrar níveis alarmantes, o que levou a número recorde de pedidos de recuperação judicial, o nível de endividamento das empresas brasileiras, especialmente as de grande porte, começa a cair. Há um esforço extra em renegociar as dívidas para estarem mais bem preparadas para a recuperação da economia, que deve se intensificar a partir de 2018.
Diferentes indicadores apontam para essa melhora. Dados da Economática mostram que as empresas de capital aberto (com ações na Bolsa) encerraram o segundo trimestre com dívidas líquidas de R$ 533,5 bilhões, montante 1,4% inferior ao de igual período de 2016. Foi a primeira queda após seis anos de crescimento. O valor exclui a Petrobras, que, sozinha, reduziu seu endividamento em 11% no período.
Segundo Alexandre Castanheira, responsável pela área de mercado de capitais de renda fixa do Morgan Stanley, parte da redução das dívidas veio do câmbio. "As empresas que tinham endividamento em dólar, que caiu de R$ 4,00 para pouco mais de R$ 3,00, conseguiram reduzir a alavancagem sem fazer muita coisa."
Também houve movimento grande das empresas em trocar dívidas de curto prazo por longo prazo e dívidas mais caras por mais baratas nos mercados de capital local e internacional. Houve ainda venda de ativos, fechamento de unidades e otimização de operações.
"Há empresas que conseguiram reduzir custos, aumentar a produtividade, redefinir linhas de produtos e se reposicionar no mercado", acrescenta o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados.
Relatório do Santander com base nos balanços das empresas listadas no Ibovespa indica que, no quarto trimestre de 2015, no ápice da crise, as empresas levariam 3,7 anos para pagar suas dívidas com base na geração de caixa no período.
No trimestre passado, esse período foi reduzido a 2,1 anos. "Ainda está acima da média histórica, de 1,5 ano, mas a tendência é declinante", afirma Daniel Gewehr, estrategista-chefe da área de análise do Santander. "Entre o final de 2015 e o início de 2016, os investidores estavam com medo da alavancagem das empresas, mas hoje essa questão não preocupa mais."
No caso das companhias de capital fechado, normalmente de menor porte e com menos acesso ao crédito bancário, dados do Centro de Estudos do Instituto Ibmec (Cemec) mostram que o percentual de empresas que não tinham capacidade de pagar suas dívidas ficou estável em 35,6% em 2016. Os balanços desse grupo só são divulgados anualmente.
O mesmo estudo, envolvendo 1.349 empresas não financeiras (exceto a Petrobras), mostra que, das companhias abertas, 46,4% estavam sem condições de honrar as dívidas com juros no primeiro trimestre, fatia que era de 49,8% em 2015 e de 47,7% no ano passado.
Carlos Rocca, diretor do Cemec, ressalta que, apesar da melhora, cerca de metade das empresas ainda apresenta situação financeira problemática, principalmente as de médio e pequeno porte. "Isso pode comprometer a capacidade de respostas dessas empresas aos sinais de recuperação da demanda observados nos primeiros meses de 2017, ou mesmo dificultar a consolidação desse ciclo."
Rocca também vê riscos de reversão no quadro de recuperação se as reformas econômicas para o controle das contas fiscais não forem aprovadas.
Outro indicador do processo de melhora do endividamento das empresas é a redução de pedidos de recuperação judicial. De acordo com a Serasa Experian, de janeiro a julho de 2016, foram registrados 1.098 pedidos em todos os setores, número que, neste ano, está em 814, ou 25,8% menor.
A redução foi ainda maior no segmento de indústrias especificamente. Caiu 30%, de 254 pedidos de recuperação no ano passado para 177 neste ano.
. Alessandro Zema, responsável pelo Banco de Investimentos do Morgan Stanley, ressalta que, mesmo reduzindo as dívidas antigas, ainda não se vê, como nos períodos de crescimento, as empresas tomando dívida para viabilizar investimentos, principalmente em aumento de capacidade.
"Ainda estamos longe de voltar aos investimentos, porque a ociosidade segue muito elevada nas empresas", afirma José Roberto Afonso, pesquisador do Ibre, da Fundação Getulio Vargas, e professor do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). Na opinião dele, cenário mais complicado pode ocorrer quando as empresas se depararem com uma nova taxa de juros a ser cobrada pelo Bndes, a TLP, que deve substituir e TJLP. "É desanimador, porque se pretende encarecer e, pior, diminuir a oferta de crédito pelo Bndes."

Neste momento, taxa de câmbio não é problema


VISUALHUNT/DIVULGAÇÃO/JC
Apesar da perspectiva negativa para as contas fiscais e da incerteza política elevada, a taxa de câmbio tem permanecido "bem comportada" nos últimos meses como reflexo do aumento de liquidez com um cenário muito favorável para economia brasileira. Segundo o Credit Suisse, em função desse ambiente favorável, o real está entre as moedas que se apreciaram frente ao dólar em 2017.
"Tentamos relacionar o momento fiscal do País com os resultados recentes piores do que o mercado imaginava, e de alguma forma não se traduziu na piora dos preços dos ativos brasileiros", diz Paulo Coutinho, um dos autores do estudo.
Segundo ele, o banco analisou episódios de crises externas no passado em vários países para ver como o processo de contaminação ocorreu. Nas últimas décadas, houve 19 casos de moratória da dívida interna (a maior parte na América Latina), e esses casos mostraram que a crise fiscal estava associada a uma crise das contas externas.
Em um movimento tradicional, o mecanismo de contaminação acontece em sequência: primeiro, redução da liquidez externa, seguida por saída de capital dos países emergentes, depreciação cambial e desequilíbrio fiscal. Por último vem o default da dívida.
Para o economista do Credit Suisse Lucas Vilela, a situação atual, em que esse mecanismo não aconteceu, é muito nova não só para o Brasil, como também para o histórico dos outros países. Para ele, se não houver reformas fiscais amplas, como a da Previdência, que está atualmente emperrada no Congresso, essa situação não é sustentável. "Como não temos nenhum paralelo, não dá para colocar um tempo", diz.