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Moradia

- Publicada em 24 de Agosto de 2017 às 21:19

Após negociação, ocupação Lanceiros Negros desocupa prédio

Apesar do forte aparato policial, ação ocorreu sem violência

Apesar do forte aparato policial, ação ocorreu sem violência


MARCELO G. RIBEIRO/JC
No começo da noite desta quinta-feira, cerca de 10 horas depois do começo da operação, teve início, efetivamente, a desocupação do prédio onde viviam as famílias da ocupação Lanceiros Negros Vivem, no Centro de Porto Alegre. Por volta das 18h40min, pouco depois da entrada do oficial de Justiça que trazia a ordem de reintegração de posse, as primeiras famílias começaram a deixar o antigo Hotel Açores, onde estavam desde o começo de julho. Segundo a Brigada Militar (BM), um total de 24 famílias estava no prédio quando a operação teve início.
No começo da noite desta quinta-feira, cerca de 10 horas depois do começo da operação, teve início, efetivamente, a desocupação do prédio onde viviam as famílias da ocupação Lanceiros Negros Vivem, no Centro de Porto Alegre. Por volta das 18h40min, pouco depois da entrada do oficial de Justiça que trazia a ordem de reintegração de posse, as primeiras famílias começaram a deixar o antigo Hotel Açores, onde estavam desde o começo de julho. Segundo a Brigada Militar (BM), um total de 24 famílias estava no prédio quando a operação teve início.
A garantia de uma saída sem maiores incidentes exigiu uma série de negociações, desde o começo da manhã. Uma comissão foi formada envolvendo representantes das forças policiais, integrantes do Movimento de Luta nos Bairros e Favelas (MLB), Defensoria Pública e Ministério Público, além de integrantes da Assembleia Legislativa e de órgãos municipais e estaduais.
Pelo acordo, as famílias serão conduzidas inicialmente ao Centro Vida, na Zona Norte da Capital, com a garantia de reformas no espaço. Após esse período inicial, as 24 famílias receberão aluguel social do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), com valor mensal de R$ 500,00 e duração de até seis meses. O primeiro plano é que a acomodação definitiva seja no condomínio Belize, na Restinga, na Zona Sul, e há a possibilidade de mais famílias receberem o aluguel. A primeira mesa de mediação para encaminhar esse processo está agendada para a tarde desta sexta-feira.
A situação apresentou momentos de tensão na parte da manhã. A Rua dos Andradas esteve bloqueada entre as esquinas da Caldas Júnior e da General João Manoel desde a madrugada. Pelo menos cinco caminhões chegaram no começo da tarde para carregar os pertences dos ocupantes, e o cadastramento das famílias ocorria pelo menos desde o meio-dia. A principal dúvida, porém, era sobre o destino final das pessoas abrigadas dentro do edifício, de 10 pavimentos e 57 quartos.
O comandante do 9º Batalhão da Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Eduardo Amorim, afirmou, durante a manhã, que a corporação só reagiria em situações de ataque físico. "Hoje, por causa de uma pedrada, eu tenho um policial a menos no meu batalhão. Quando um cidadão joga pedra em um brigadiano, não pode reclamar da falta de efetivo, porque a ação dele contribui para isso", destacou. 
O deputado estadual Gabriel Souza (PMDB), líder do governo na Assembleia Legislativa, foi chamado ao local por colegas parlamentares, a fim de representar o Estado nas negociações. "Talvez devido ao acúmulo das situações passadas, mas estamos todos nos esforçando para pacificamente retirar os ocupantes do prédio e fazer com que sejam alojados dignamente em algum lugar, onde permanecerão até que a prefeitura cumpra a promessa de destiná-los a residências pagas pelo aluguel social", defendeu.
Em nota, a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) reforçou ter participado, desde o informe da desocupação, de reuniões buscando alternativas para garantir o respeito a todos os direitos dos atingidos pela operação. "Diante da ação de desocupação, a Fasc disponibilizou a acolhida das famílias que assim o desejarem", diz o texto.

Sem dinheiro, indígenas procuraram abrigo em ocupação

Pelo menos 16 famílias que moravam na ocupação Lanceiros Negros Vivem são indígenas, entre caingangues, guaranis e pataxós. A maioria vem do Interior para comercializar artesanato em Porto Alegre e na Região Metropolitana, onde as vendas são melhores. É o que o caingangue Narciso José Antônio, de 35 anos, fez: saiu de Charrua, no Norte gaúcho, e veio com a esposa e o filho de nove meses para a Capital. Sem dinheiro, conseguiu abrigo apenas na Lanceiros Negros. 
"Não gostaríamos de estar aqui. Queríamos estar em harmonia com a nossa família, na natureza. Meus pais estão no Interior, e nós estamos aqui. Passamos de quatro a seis meses fora de casa para juntar dinheiro e dividir com os parentes. É difícil estar fora da nossa aldeia, especialmente pela questão da moradia", revela o artesão.
O caingangue cita uma casa de passagem para índios criada em Santa Catarina, que abriga aqueles que vão a Florianópolis para vender sua arte. "O Rio Grande do Sul é muito maior e não tem nenhum programa de apoio para indígenas. Somos desvalorizados, acham que somos vagabundos", critica.
Antônio relata que, quando índios chegam do Interior do Estado, acabam tendo que montar barracos no Parque da Harmonia. Porto Alegre possui população de mais de 3 mil indígenas, de acordo com o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).