Redução de gratuidades não impedirá aumento da tarifa do transporte de Porto Alegre

Os argumentos da prefeitura de Porto Alegre para convencer a população de que mudanças na cobrança das passagens de ônibus são necessárias para garantir que o preço da tarifa não aumente, perdem força quando o próprio prefeito admite que é possível que o valor suba em 2018. Ontem, Nelson Marchezan Júnior ressaltou que o reajuste ocorre de acordo com critérios legais, medidos a cada ano.

"Ninguém pode, com antecedência, fazer uma previsão exata se vai aumentar ou quanto vai aumentar", disse. De acordo com a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), o valor depende diretamente do número de passageiros pagantes e da quilometragem rodada pelos veículos.

Esse foi o cálculo feito para estipular o preço da passagem em R$ 4,05, considerando que o custo de rodagem foi estimado em R$ 63,2 milhões por mês, contra 15,6 milhões de passageiros pagantes mensais.

A prefeitura argumenta que, do total de transportados por mês (24 milhões), cerca de 8,4 milhões têm direito a alguma gratuidade. Além disso, o cálculo do custo de rodagem leva em consideração o preço do combustível, dos pneus, de pessoal, de manutenção e de aquisição de novos ônibus.

Sendo assim, na semana passada, o Executivo municipal publicou o Decreto nº 19.803, que retira a gratuidade na segunda passagem de ônibus, garantida à população em 2011. O texto institui novas regras nas integrações com o cartão TRI/SIM. A segunda passagem passa a ser tarifada em R$ 2,02 - metade do atual valor. De acordo com a EPTC, a segunda passagem gratuita representa R$ 0,51 do valor da tarifa de R$ 4,05, ou seja, 13% - a empresa estima que, de cada 100 usuários, 13 utilizam a segunda passagem grátis.

Conforme a prefeitura, todas essas gratuidades contribuem para o rombo deficitário na Carris, que vem registrando prejuízos crescentes desde 2011. O Executivo argumenta que precisa destinar cerca de R$ 50 milhões anuais para cobrir os gastos da empresa. Se nada for feito, a EPTC estima que a passagem subirá para R$ 4,60 em 2018 e R$ 5,00 em 2019.

Por isso, Marchezan entregou um pacote de projetos que tratam da questão à Câmara Municipal. Ele rebateu a crítica do líder do governo na Câmara, o vereador Cláudio Janta (SDD), que afirmou que nem a população, nem os parlamentares foram consultados acerca das mudanças. "Talvez o vereador não tenha sido avisado conforme ele desejaria, mas todos os projetos serão debatidos, todos os dados técnicos estão à disposição e todos os aliados foram, durante seis meses, esgotados ao seu limite", garantiu o prefeito.