Intercambistas deixam os negócios com visões mais globais. Uma iniciativa com benefícios para o estudante e o empreendedor

Startups de Porto Alegre trazem estrangeiros para fazer parte de suas equipes


Intercambistas deixam os negócios com visões mais globais. Uma iniciativa com benefícios para o estudante e o empreendedor

É difícil para os amigos da francesa Alice Liogier, 23 anos, acreditarem que ela veio a Porto Alegre a fim de fazer atividades voluntárias por dois meses e acabou trabalhando para um dos maiores ídolos do futebol mundial (e que todos seus conterrâneos conhecem): Ronaldinho Gaúcho. Mas é a mais pura verdade.
É difícil para os amigos da francesa Alice Liogier, 23 anos, acreditarem que ela veio a Porto Alegre a fim de fazer atividades voluntárias por dois meses e acabou trabalhando para um dos maiores ídolos do futebol mundial (e que todos seus conterrâneos conhecem): Ronaldinho Gaúcho. Mas é a mais pura verdade.
A situação se deve ao fato de a agência Joker, da capital gaúcha, cuidar das estratégias de comunicação do atleta e estar participando de um programa da Aiesec, organização global de intercâmbio. Sorte dela. E também de Rodrigo Hoffmann, 31, dono da empresa.
"A Joker tem operações fora do País. Atendemos, principalmente, Miami. A Alice está trabalhando na parte comercial do Ronaldinho no exterior. Ela é da França, está no Brasil e fala com pessoas do Japão, da China, da Alemanha, da Espanha, da Nicarágua e da própria França", lista Rodrigo, sobre a rotina tão globalizada via Skype e e-mail.
A missão de Alice é vender a presença do jogador em eventos, passar sua imagem de garoto-propaganda, sugerir que ele vire tema de cadernos escolares, enredo de filmes, enfim. Se ele parar de atuar nos campos, como já anunciou, esse será seu sustento, e precisa de profissionalismo para acelerar os contratos. Faz todo sentido ter alguém na equipe com um olhar internacional.
Para a francesa, tanto a área quanto o formato de trabalho - por ser uma startup - são novidades em sua vida profissional. "É um ambiente mais relaxado. Os franceses têm outra atmosfera", diz ela, na sala de reuniões com vista para o Parque Marinha do Brasil, emoldurado pelo Guaíba.
Alice não encontrou Ronaldinho pessoalmente, mas trocou ideias com o irmão dele, Roberto de Assis Moreira. Memórias que nem imaginava criar. "É estranho", resume, complementando que outros estrangeiros da Aiesec consideram que ela é a mais sortuda do grupo presente na cidade.
Além do incremento no currículo, o passaporte da jovem está ficando mais recheado devido ao programa. No último mês e meio, ela já visitou Buenos Aires, Bahia, Montevidéu, Rio de Janeiro, Gramado e Torres.
Rodrigo ressalta que Alice deixará um legado na Joker. Os contatos que ela está criando permanecerão nos mailings e poderão ser selados um dia. E, quem sabe, a menina possa continuar contribuindo a distância. "Ela tem chance de seguir atuando de modo remoto, de lá", expõe o empreendedor, que também cuida de outras marcas relevantes no universo digital, como Grêmio e Claudia Leitte. 
Mesmo trabalhando com clientes celebridades, é a francesa quem desperta e agita a rotina da Joker ultimamente. Rodrigo e Alice têm muitos motivos para repetir "merci" e "obrigado" um para o outro.

Uma porta de saída para a exportação dos produtos

As empreendedoras do O Amor É Simples, e-commerce de vestidos de noiva de Porto Alegre, enxergaram uma oportunidade de facilitar seus planos de exportação com a presença de três colombianos em suas rotinas. Eles chegaram até a empresa por meio do Projeto Sena, em parceria com a Associação Gaúcha de Startups (AGS) e a Aiesec.
Angie Vanessa Olaya Casanova, 23 anos; Daniela Parra Soto, 20; e Adrian David Bolivar Gonzalez, 26, ficarão em Porto Alegre por dois meses. Para eles, é a oportunidade de conhecer um novo país com tudo pago, aprender um idioma e ter aulas de liderança na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Para as empreendedoras, uma aproximação com novos canais de venda no exterior.
Laís Ribeiro, 30, sócia do negócio, conta que uma das missões dos colombianos é verificar quem são os concorrentes da empresa em suas cidades de origem. Além disso, o trio de jovens trouxe uma penca de soluções para projetos que estavam parados.
"O Adrian vai fazer um software para o nosso controle de estoque", surpreende-se Laís. "É uma geração mais digitalizada", completa Natalia Pegoraro, 29, a outra sócia. A terceira integrante da loja virtual, Janaína Kafer Pasin, 30, também se surpreende com as propostas que eles trazem ao grupo.
Esses dias, por exemplo, as amigas queriam gravar um vídeo para o aniversário de três anos da empresa e empacaram em uma das cenas: onde poderiam comprar um bolo para que aparecessem apagando as velinhas? Logo, os colombianos encontraram a resposta. Fizeram, em minutos, um bolo virtual.
É esse tipo de troca que as diferentes faixas etárias e nacionalidades agregam ao O Amor É Simples, que funciona no Poa.Hub, espaço de inovação e tecnologia da prefeitura.
"Essa experiência é muito enriquecedora. Como toda startup que opera de forma enxuta, receber três reforços, mesmo que por tempo determinado, é fantástico, porque vai nos permitir agilizar diversos processos internos e olhar para áreas que até hoje não estavam na lista de prioridades", completa Laís.
Para a oportunidade, os colombianos foram selecionados entre 1,5 mil universitários. "Tudo que aprendi lá, aplico aqui", ressalta Adrian, sobre suas vivências profissionais anteriores na Colômbia.
"Na seleção, tive de explicar como irei impactar o meu país com o que viver em Porto Alegre", detalha Daniela. Angie garante que levará o sentimento que está no nome de O Amor É Simples na mala. "As pessoas são muito amáveis no Brasil", entende.
A chegada dos estrangeiros, apontam as empreendedoras, tem a ver também com os projetos de expansão do negócio, em busca de uma nova rodada de investimentos.
O empreendimento, inclusive, chegou à final do Case, maior evento da América Latina de startups, marcado para outubro, em São Paulo. Nada como um novo gás para impulsionar tudo isso.
 

BOM SABER

Também tem estrangeira trabalhando na assessoria de Comunicação Famintas. Diana Tuaty, da Venezuela, estuda Publicidade na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), onde conseguiu uma bolsa. “Ao longo do tempo, aprendi a me virar. Conheço mais lugares do que muitos dos meus colegas da faculdade, até ensinei alguns para eles”, diverte-se ela, que ficará até o fim do ano que vem na cidade.

Como trazer um estagiário de fora do País para a sua empresa

Larissa Lofrano, vice-presidente de relacionamento para organizações da Aiesec, diz que a entidade conta com dois tipos de programas para levar intercambistas para as rotinas de trabalho de empreendimentos. O Global Talent, para empresas já consolidadas e multinacionais, e o Global Entrepreneur, para startups.
Neste ano, já passaram por Porto Alegre, através do Global Entrepreneur, 50 intercambistas. Atualmente, há 30, principalmente colombianos, argentinos e uma francesa. No Global Talent, passaram 20, e atualmente permanecem 10. Esses vêm da Tunísia, Colômbia, Argentina e Alemanha.
"Qualquer startup está apta a receber um estrangeiro, desde que tenha CNPJ", explica Larissa. As empresas devem pagar uma taxa para cobrir custos logísticos e operacionais do projeto. O valor varia, mas, para receber três pessoas, por exemplo, custa uma média de R$ 3 mil para oito semanas. É necessário, ainda, fornecer vale transporte aos participantes.
"O Global Entrepreneur nasceu pelo momento de empreendedorismo jovem que acontece no mundo inteiro. Queremos ajudar que as empresas tenham sucesso", expõe ela.
Para agendar reuniões e fechar parcerias com a Aiesec, é necessário enviar um e-mail para [email protected].