Sobre o Autor
Gera��o E - sa�da para pauta Empreendedorismo na Periferia.
na foto: Vinicius Mendes Lima, professor e pesquisador Foto: /MARCELO G. RIBEIRO/JC

Vinicius Mendes Lima

Professor, escritor e pesquisador

Nas periferias, empreender � sobreviver

Cheguei em uma instituição de ensino para palestrar. A quinta-essência dessa atividade é quando suas ideias são mais conhecidas do que a sua face, te proporcionando uma capa da invisibilidade - ou, o chegar em algum lugar sem saberem que você é você. Logo ouvi: é um palestrante que fala sobre empreendedorismo social, com foco em favelas. Pausa. Negativo.
Empreendedorismo social é quando as ações praticadas pela empresa visam o lucro e o social. Quando problemas sociais são resolvidos, amenizados, através das ações empresariais. Não que eu não queira - como um sábio budista - mudar o mundo, mas eu, até o momento, não me detive a estudos dessa espécie. Discorro sobre empreendedorismo enquanto soluções inteligentes de negócios que visam lucro. Práticas na contramão do convencional que geram money, money, money. Só que nas favelas. No morro. Onde a maioria das pessoas enxerga com a perspectiva de quem está no asfalto. E onde nem imaginam a riqueza que há. Negócios na favela não são práticas sociais de empresas, são fonte de renda, pela sobrevivência, de quem habita lá.
Por isso, por esta confusão de conceitos, penso que já passou o momento de compreendermos o que ocorre nas favelas. Para quem ainda não entendeu, prepare-se, porque eu vou dar um carrinho na entrada da pequena área - daqueles que rende no mínimo um cartão amarelo.
Todos por lá não falam sobre empreendedorismo - pois sequer sabem o significado da palavra -, mas agem instintivamente como empreendedores. Eles entendem de fluxo de caixa, sem ter bom domínio de matemática - tive uma aluna mês passado que controlava gastos com insumos e terceirizados numa cadernetinha, e funcionava! Rapidamente, eles percebem que algo (produto ou serviço) agradou e como podem tornar isso um negócio. Alinham fornecedores, criam um nome, e num piscar estão fazendo entregas. Faro para os negócios? Eu diria que é cultural: acordar e encontrar como sobreviver.
Em minha última turma, tive momentos de insegurança: pela primeira vez me achei um péssimo professor. Nenhum dos meus alunos compareceu em aula. Quando estava prestes a ir embora, chegaram todos eles, assustados em como eu estava lá antes deles, afinal, só um louco (ou um desavisado, como eu) teria saído de casa, depois dos tiroteios e toque de recolher ocorrido. É essa rotina insegura que talvez os faça saber que qualquer oportunidade pode ser a última. E faz com que pessoas que não conhecem os princípios da Administração e não entendem de plano de negócios, ao final de nossas aulas, prosperem e evoluam em seus sonhos, pois o empírico que há neles, contém toda a essência necessária.
Perfis dos empreendedores das favelas? São muitos. Como o seu artesão, a dona dj-jornalista que projeta filmes na sua laje, a dona mãe de muitos filhos, que está saindo do mercado das quentinhas para o seu restaurante. Isso não tem nada de social. Tem de business. Tem de obter o pão de amanhã e a moradia. Entendeu? Precisa de uma bolsa de gelo ou o carrinho não te machucou?
Compartilhe
Artigos relacionados
Coment�rios ( )
Deixe um coment�rio

Publicidade
Newsletter

HISTÓRIAS EMPREENDEDORAS PARA
VOCÊ SE INSPIRAR.

Receba no seu e-mail as notícias do GE!
Faça o seu cadastro.





Mostre seu Negócio