Patr�cia Comunello
Importação de leite em pó e renda em baixa dos consumidores seriam os responsáveis pela perda mensal de R$ 200 milhões da indústria de lácteos gaúcha. A conta, feita na calculadora do smartphone pelo presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat), Alexandre Guerra, busca dar a dimensão do que o segmento está deixando de ganhar pela queda de preços no atacado. Guerra diz que o valor recuou R$ 0,60 até R$ 1,00 em três meses, com cotação a R$ 2,00 por litro.
O dirigente observa que a concorrência do produtos uruguaios tem maior impacto diante dos efeitos da perda de renda e desemprego no País. Até porque o fluxo do produto do Uruguai é menor do que no ano passado. De janeiro a julho, ingressaram 17,9 mil toneladas, ante 30,3 mil toneladas do mesmo período de 2016. O governo gaúcho também recuou em condições tributárias que barateavam a importação.
A indústria processa 10 milhões de litros ao dia. O dirigente cita que a desvalorização coincide com o crescimento da produção, que chega a 12,5 milhões de litros ao dia. O barulho maior tem sido focado na importação do Uruguai, que gerou reação da indústria para que o Brasil e o país vizinho firmem cotas, como já existe com a Argentina. "Isso está provocando uma crise profunda do setor", disse o presidente do sindicato, em coletiva com a imprensa na Expointer. Este ano o Sindilat montou um pub do queijo que aposta em valorizar os produtos no consumo.
Guerra propõe que sejam ampliadas as compras governamentais de forma mais urgente para tirar o excedente de produtos, ajudando a regular o mercado. "Problema é que sabemos das limitações de caixa do governo", admite o dirigente. O setor quer enxugar 50 mil toneladas de leite em pó dos estoques da indústria. "Isso ajudaria a equilibrar o setor." A entidade aguardava para ontem novidades, depois que o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, prometeu, ao passar pela Expointer no fim de semana, que levaria a proposta de cotas ao colega da área do Uruguai.
Até o começo da noite não houve notícia de conversações. Guerra encara as cotas como medidas de médio prazo, pois envolvem negociações entre governos. O setor lácteo uruguaio não acenou com acordo para a limitação de envio de produtos com isenção de taxa de importação, que é o que já existe com a Argentina.