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Cinema

- Publicada em 01 de Setembro de 2017 às 00:19

Pai ausente

Hélio Nascimento
Rio vermelho é um filme realizado por Howard Hawks em 1948. É considerado um dos clássicos do gênero western e, mais do que isso, um dos relatos mais notáveis do cinema norte-americano daquele período. O cineasta foi um dos cultivaram um cinema no qual a ação predominava sobre os diálogos. Era o que a crítica chamava de cinema antiliterário. O cineasta colocava em cena, através da reconstituição de uma longa jornada de um grupo de vaqueiros, o tema do autoritarismo, este representado numa figura que simbolizava o pai, depois que o chefe da caravana adota um menino cuja família havia sido trucidada. A disciplina férrea imposta a todos é quebrada numa revolta contra a autoridade paterna, uma forma pela qual o filme sintetizava a evolução, através do choque do novo contra o velho. Aquele, é claro, necessita de uma figura diante da qual exercer sua rebelião. É necessário um rei a ser destronado. Red river é um filme muito admirado. No ano de 1971, quando realizou A última sessão de cinema, Peter Bogdanovich usou este longa como elemento importante na trama.
Rio vermelho é um filme realizado por Howard Hawks em 1948. É considerado um dos clássicos do gênero western e, mais do que isso, um dos relatos mais notáveis do cinema norte-americano daquele período. O cineasta foi um dos cultivaram um cinema no qual a ação predominava sobre os diálogos. Era o que a crítica chamava de cinema antiliterário. O cineasta colocava em cena, através da reconstituição de uma longa jornada de um grupo de vaqueiros, o tema do autoritarismo, este representado numa figura que simbolizava o pai, depois que o chefe da caravana adota um menino cuja família havia sido trucidada. A disciplina férrea imposta a todos é quebrada numa revolta contra a autoridade paterna, uma forma pela qual o filme sintetizava a evolução, através do choque do novo contra o velho. Aquele, é claro, necessita de uma figura diante da qual exercer sua rebelião. É necessário um rei a ser destronado. Red river é um filme muito admirado. No ano de 1971, quando realizou A última sessão de cinema, Peter Bogdanovich usou este longa como elemento importante na trama.
O filme foi realizado numa época em que alguns temiam pelo futuro do cinema, pois eram muitas as salas que fechavam, principalmente nas pequenas cidades. O desenrolar do tempo desmentiu as previsões pessimistas. O que houve foi uma transformação quantitativa. Mas na cidade na qual transcorria a ação do filme, a exibição de Rio vermelho marcava ao fim do único cinema da localidade. Em seu trabalho, Bogdanovich colocava como protagonistas um grupo de jovens fascinados por um filme realizado por um diretor de outra geração. O cineasta foi cultor radical dos clássicos, chegando mesmo a afirmar que todos os bons filmes já tinham sido feitos, afirmação que algumas de suas obras desmentiram. No caso, a idolatria por Rio vermelho era justificada pela identificação dos jovens com o personagem de Montgomery Clift no filme.
Agora é a vez de Selton Mello pagar tributo a Rio vermelho, citando várias cenas do filme de Hawks e procurando colocá-lo como elemento importante no desenrolar da ação de O filme da minha vida, título que não é uma referência direta à obra protagonizada por John Wayne. Mas o tema central do clássico norte-americano não está ausente da obra brasileira. O terceiro filme de Mello como diretor é também um herdeiro de O carteiro e o poeta, de Michael Radford, igualmente baseado num livro de Antonio Skármeta, e Cinema paradiso, de Giuseppe Tornatore. A mescla de todas essas influências termina resultando em algo que parece absorver elementos exteriores de tais obras. O tema do pai ausente, esta lacuna que o personagem principal tem dificuldades naturais de enfrentar, possui uma relação com o filme de Hawks, mas neste a figura paterna está presente e tem de ser enfrentada e desafiada. O que deveria ser acentuada, então, é a necessidade de encontrar um obstáculo a ser enfrentado. O filme de Mello, no entanto, prefere dar ênfase à dor causada pela ausência do pai. Os planos em que a motocicleta dos antigos passeios é focalizada não deixam dúvida alguma quanto a isto.
Esse olhar terno sobre a carência vivida pelo protagonista termina afastando o filme do rio que simboliza o passar do tempo e seus tumultos. O encontro com o pai transformado em projecionista de cinema é uma situação inversa ao conflito primordial. Mas o filme recusa a simplificação em seu final e alcança certa originalidade quando o epílogo se recusa a ser o final de uma história, com o narrador se afastando de qualquer revelação, enquanto o olhar do casal não deixa dúvida sobre o que é desejado O filme de minha vida é uma tentativa de cinema humanista, ao privilegiar personagens envolvidos em conflitos derivados da ausência de elementos essenciais ao equilíbrio emocional. Este é um mérito que distancia o filme dos discursos falsos e das denúncias superficiais. É um caminho correto para qualquer filme. Mas Mello poderia nos poupar do excesso de cenas com cigarro. E certo que na época da ação quase todos fumavam, mas o exagero de fumaça parece até mesmo constranger os atores em algumas cenas, além de contribuir para que um dispensável artificialismo se instale nas imagens.
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