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Cinema

- Publicada em 21 de Agosto de 2017 às 13:24

As últimas imagens

No mês de fevereiro de 1956, durante o XX Congresso do Partido Comunista Soviético, Nikita Krushev, então primeiro ministro da hoje desaparecida URSS, pronunciou um célebre discurso que era para permanecer secreto, mas que, logo em seguida, foi divulgado pelos jornais de todo o mundo. Nele, o então mandatário denunciou, de forma vigorosa e contundente, os crimes cometidos pelo regime chefiado por Joseph Stalin, desde a proibição de qualquer crítica até a prisão e o assassinato de inocentes. Aquilo que os stalinistas classificavam como propaganda ocidental foi então denunciado pela figura maior do regime. Tudo parecia indicar que uma nova era começava, mas mudanças radicais teriam de esperar três décadas antes de serem concretizadas. Porém, a demora não impediu que uma certa liberalidade permitisse que, no cinema e em outras artes, temas até então vetados pelo regime pudessem ser abordados. Principalmente nos países integrantes do Pacto de Varsóvia, formado por aquelas nações que giravam em torno do sol moscovita, algo de novo começou a aparecer, e alguns cineastas mais corajosos, evidentemente apoiados por setores insatisfeitos com o regime de partido único, começaram a colocar na tela temas antes vetados. No entanto, com a invasão soviética da Tchecoslováquia, em 1968, tal processo foi encerrado. O checo Milos Forman foi enriquecer o cinema norte-americano com obras-primas, como Um estranho no ninho e Amadeus, e o próprio Andrzej Wajda, o realizador de Afterimage, dirigiu filmes na Alemanha e na França, enquanto a URSS perdia para o Ocidente nomes como Andrei Tarkowski e Andrei Konchalowski. Wajda não é apenas o maior cineasta da Polônia. É um dos grandes do cinema, pois só um artista de sua estatura poderia realizar, em pleno regime comunista, em 1958, um filme como Cinzas e diamantes, no qual mostrava as raízes da crise maior e a falta de perspectiva de uma juventude, além de olhar com atenção para um dissidente captado pela violência direitista. Wajda, falecido logo após a realização do filme agora em cartaz, foi um lúcido cronista de uma época.
No mês de fevereiro de 1956, durante o XX Congresso do Partido Comunista Soviético, Nikita Krushev, então primeiro ministro da hoje desaparecida URSS, pronunciou um célebre discurso que era para permanecer secreto, mas que, logo em seguida, foi divulgado pelos jornais de todo o mundo. Nele, o então mandatário denunciou, de forma vigorosa e contundente, os crimes cometidos pelo regime chefiado por Joseph Stalin, desde a proibição de qualquer crítica até a prisão e o assassinato de inocentes. Aquilo que os stalinistas classificavam como propaganda ocidental foi então denunciado pela figura maior do regime. Tudo parecia indicar que uma nova era começava, mas mudanças radicais teriam de esperar três décadas antes de serem concretizadas. Porém, a demora não impediu que uma certa liberalidade permitisse que, no cinema e em outras artes, temas até então vetados pelo regime pudessem ser abordados. Principalmente nos países integrantes do Pacto de Varsóvia, formado por aquelas nações que giravam em torno do sol moscovita, algo de novo começou a aparecer, e alguns cineastas mais corajosos, evidentemente apoiados por setores insatisfeitos com o regime de partido único, começaram a colocar na tela temas antes vetados. No entanto, com a invasão soviética da Tchecoslováquia, em 1968, tal processo foi encerrado. O checo Milos Forman foi enriquecer o cinema norte-americano com obras-primas, como Um estranho no ninho e Amadeus, e o próprio Andrzej Wajda, o realizador de Afterimage, dirigiu filmes na Alemanha e na França, enquanto a URSS perdia para o Ocidente nomes como Andrei Tarkowski e Andrei Konchalowski. Wajda não é apenas o maior cineasta da Polônia. É um dos grandes do cinema, pois só um artista de sua estatura poderia realizar, em pleno regime comunista, em 1958, um filme como Cinzas e diamantes, no qual mostrava as raízes da crise maior e a falta de perspectiva de uma juventude, além de olhar com atenção para um dissidente captado pela violência direitista. Wajda, falecido logo após a realização do filme agora em cartaz, foi um lúcido cronista de uma época.
Ao colocar na tela a parte final da vida do artista e professor Wladyslaw Strzeminski, que viveu entre 1892 e 1952, e que, portanto, vivenciou os duros anos do stalinismo na Polônia, o cineasta retoma o motivo dominante de toda a sua obra e, de certa forma, o amplia e o aprofunda, sem enfrentar os limites antes impostos pela censura. As duas sequências que abrem a narrativa sintetizam o drama. A primeira, uma pastoral na qual a alegria do conhecimento é compartilhada por professor e alunos, tem como sucessora na tela uma síntese notável e poderosa do totalitarismo. O atelier do pintor é como que invadido pela cor vermelha, sendo encoberta por um gigantesco retrato do tirano, contra o qual se rebela o artista. A mutilação sofrida por Strzeminski, cuja origem o filme procura não conferir ênfase, transforma-se em verdadeiro símbolo do criador perseguido por um regime de força, controlado por indivíduos medíocres, adeptos das simplificações, das palavras de ordem, da obediência e das soluções violentas. O retrato que Wajda pinta desses ativistas é primoroso, sobretudo ao compor a figura daquele ministro da cultura, que nada parece saber do ramo em que atua.
Wajda não se iguala e, assim, se afasta do que procura denunciar. O espetáculo da vida é demasiadamente complexo para ser resumido por críticas e denúncias. A convivência do protagonista com a filha lembra o episódio do cineasta em O amor aos vinte anos ao retomar o tema do conflito entre gerações, algo que também aparece no relacionamento com uma das alunas. As imagens da filha desfilando com a bandeira ao som do hino da Primeira Internacional, algo que o pintor observa com amargor, faz pensar na decepção causada por desvios, erros e submissões diante de um poder irracional e opressivo. E certamente não é por acaso que Wajda encerra seu filme e sua obra com a magnífica e comovente imagem da filha diante da cama do pai morto. Um mundo perece e outro surge das sombras. Toda a obra de Wajda permanecerá como um monumento no qual uma fase da história moderna está sintetizada.
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