Michele Rolim

O artista Rommulo Vieira Conceição, desde o ano 2000, produz trabalhos que remetem à percepção do homem contemporâneo ao espaço físico que ele ocupa. Dando continuidade à sua pesquisa, porém incorporando outros elementos e linguagens, Conceição inaugura a exposição individual Tudo que é sólido desmancha no ar neste sábado, às 11h, na Galeria Gestual (Lucas de Oliveira, 21), com curadoria de Bruna Fetter.

O artista é conhecido por instalações como Quarto-cozinha (2006), na qual ele sobrepõe espaços domésticos e íntimos, assim como SuperCinema (2011), na qual se observa a sobreposição de espaços institucionais, como supermercado e cinema. "Imagino, entre outras coisas, estar trabalhando também com as características da identidade do homem contemporâneo, que são complexas, simultâneas e atravessadas pela sobreposição de interesses e conteúdos da sua época. A representação do espaço, sua funcionalização e desfuncionalização, sempre presentes em meus trabalhos, abordam esses interesses", explica Conceição.

Essa nova exposição é composta por 17 fotografias inéditas de céus, impressas em chapas de inox. Sobre essas imagens estão desenhos de diferentes projetos já realizados por Conceição, como portas, pias, paredes, cadeiras, canos, grades, janelas e mesmo uma gangorra - no entanto, estão representados de forma desintegrada. "A ideia é olhar para o que eu tinha feito e 'espatifar', mudar a cara do meu trabalho, para reintegrar tudo de outro jeito, quase como um processo de autofagismo", comenta. Nas palavras da curadora Bruna Fetter, "despedaçando sólidas estruturas sobre diferentes imagens de céus, Rommulo potencializa a fragmentação de espaços e questiona a validade da perspectiva interesses recorrentes em seus trabalhos expondo a fragilidade de estruturas que supostamente deveriam sustentar as crenças a respeito do mundo que nos rodeia".

Outra obra inédita que integra a mostra é O espaço se torna lugar à medida que me familiarizo com ele (2017), primeiro vídeo produzido pelo artista e que mostra Conceição em diferentes paisagens. Os cenários foram selecionados para o trabalho de forma aleatória, durante viagens de carro pela América Latina, tendo como ponto de partida e de chegada Porto Alegre.

No vídeo, Conceição está posicionado no centro do quadro e, utilizando como referência uma bússola, ele gira para os quatro pontos cardeais, a cada nova fase do vídeo ele se encontra 12 passos mais afastado do observador, até desaparecer na paisagem. "À medida em que executo esse procedimento, o espaço fica familiar. Começo a me situar dentro dele, achar pontos de referências (árvore, pedra, montanha) que tornem mais fáceis a minha localização. Dessa forma, o espaço se torna lugar, na medida em que eu me aproprio dos elementos que o compõem."

Para o artista, existe uma diferença entre espaço e lugar. Citando Michel Foucault e vários geógrafos, Conceição salienta que essa distinção se dá não apenas na organização dos objetos que os compõem, mas também no grau de familiarização que cada um tem em relação ao espaço que o circunda. "Dessa forma, o espaço pode se tornar lugar na medida em que cada um se familiariza com esse espaço. Lugar requer afeto, íntima relação, reconhecimento da organização espacial", finaliza.