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Entrevista Especial

- Publicada em 23 de Julho de 2017 às 22:35

Situação de Lula esvazia candidatura do PT ao Piratini, diz Alceu

"A oposição não conseguirá os 342 votos para continuar o processo (contra Temer)", afirma o deputado

"A oposição não conseguirá os 342 votos para continuar o processo (contra Temer)", afirma o deputado


fotos: MARCO QUINTANA/JC
O presidente estadual do PMDB e deputado federal, Alceu Moreira, acredita que a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve esvaziar uma possível candidatura dos petistas ao Palácio Piratini em 2018. Na avaliação de Alceu, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) vai rejeitar os recursos da defesa de Lula, confirmando a sentença proferida pelo juiz Sérgio Moro e, por consequência, tornando o ex-presidente inelegível ano que vem.
O presidente estadual do PMDB e deputado federal, Alceu Moreira, acredita que a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve esvaziar uma possível candidatura dos petistas ao Palácio Piratini em 2018. Na avaliação de Alceu, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) vai rejeitar os recursos da defesa de Lula, confirmando a sentença proferida pelo juiz Sérgio Moro e, por consequência, tornando o ex-presidente inelegível ano que vem.
O dirigente do PMDB gaúcho também observa que o desgaste por que passou a esquerda tira o potencial competitivo de uma candidatura desse campo ideológico ao governo do Estado. “Não acredito que a esquerda tenha alguma chance de ganhar as próximas eleições, em virtude de tudo o que aconteceu nos últimos anos”. E acrescenta: “neste momento, o pêndulo do relógio sai da esquerda, passa lentamente pelo centro e vai para a direita”. Isso deve favorecer a reeleição do governador José Ivo Sartori (PMDB), que busca manter a base aliada para o próximo pleito.
Embora reconheça que até agora o PMDB não tem um nome para concorrer à presidência da República no ano que vem, Alceu acredita que o diretório estadual pode indicar o ex-governador Germano Rigotto (2003-2006). Aliás, na avaliação do deputado federal, a Câmara deve aprovar uma reforma política até setembro, instituindo já no ano que vem o modelo do “distritão” - apesar de ele ser contra a proposição.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Alceu Moreira também defende a expulsão de pelo menos quatro membros do partido que tem divergido das posições do governo Michel Temer (PMDB) no Congresso Nacional: os senadores Roberto Requião, Renan Calheiros e Kátia Abreu e o deputado Sergio Zveiter, que apresentou o relatório, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, recomendando o andamento da denúncia de corrupção passiva contra Temer. O parecer foi rejeitado e, em seguida, foi aprovado outro recomendando o arquivamento. Este deve ser votado no plenário da Câmara em 2 de agosto.
Jornal do Comércio – Com a decisão do juiz Sérgio Moro de condenar à prisão o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o petista corre o risco de ficar inelegível em 2018, se o recurso da sua defesa for negado no Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Qual a expectativa para esse julgamento?
Alceu Moreira – A peça de condenação do juiz Sérgio Moro é de uma preciosidade jurídica que certamente servirá de exemplo no meio jurídico. O texto dele é brilhante. É dificílimo alguém refutar o que ele disse. Duvido muito que reformem uma linha da decisão. Pelo contrário, acho que ele deve ter agravo de pena, como já solicitado pelo Ministério Público e, por consequência, deve perder a liberdade a partir do julgamento.
JC – Se confirmada a saída de Lula das eleições do ano que vem, o cenário político nacional deve sofrer alterações. Quais mudanças devem acontecer no cenário estadual, na sua avaliação?
Alceu – Com certeza, no tabuleiro da política nacional, o ex-presidente Lula foi uma das figuras mais importantes nos últimos tempos. Então, a saída dele das eleições de 2018 não representa só a saída do candidato a presidente, sai também um modelo que conseguiu se transformar em mito, fazendo de conta que adorava pobre; fazendo discurso para pobre e governo para rico. Nos governos do PT, o pobre pensa que manda e o rico tem certeza. Aqui no Rio Grande do Sul, o PT ia conseguir mobilizar pelo menos 30% do eleitorado, a partir da candidatura do Lula. Com o Lula fora do processo eleitoral, não tem mais discurso, não tem nada para dizer à população, porque teve o seu tecido político junto as suas bases completamente desfraldado.
JC – Acredita que a possível saída do Lula do pleito do ano que vem retira a possibilidade de o PT lançar candidatura própria ao Palácio Piratini?
Alceu – Seria muita pretensão da minha parte achar que o PT, com toda a história que construiu, não possa ter uma candidatura. Candidatura ele terá, até para marcar o território. O que não terá é uma candidatura competitiva. É o que intuo. Claro que os partidos de esquerda também podem decidir se agrupar em torno de uma candidatura. Entretanto, não acredito que a esquerda tenha alguma chance de ganhar as próximas eleições, em virtude de tudo o que aconteceu nos últimos anos. Neste momento, o pêndulo do relógio sai da esquerda, passa lentamente pelo centro e vai para a direita.
JC – Se o PT não tiver uma candidatura competitiva, isso favorece a uma reeleição do governador José Ivo Sartori, uma vez que historicamente o PMDB rivaliza com o PT aqui no Estado?
Alceu – Acho que o PMDB do Rio Grande do Sul se beneficia pela história construída por homens como o Pedro Simon e pelo comportamento do governador Sartori durante a sua gestão. Ele tem feito um governo de reconstrução do Estado, com paciência para construir, reduzindo despesas em diárias, horas extras, pela viatura que não deve andar... O Sartori, com seu projeto, tem condição de propor um projeto muito mais audacioso para o próximo período, levando – aí sim! – o Estado para a modernidade, investindo em políticas sociais de ponta, investindo bastante na segurança, na educação e na saúde.
JC – Sartori deve ser o candidato do PMDB...
Alceu – Na minha visão, sim. O partido tem o desejo que ele seja candidato. Mas essa é uma decisão dele. Ele tem dois traços que são extremamente valorizados nesse momento político: a coragem para propor a transformação sem medir as consequências eleitorais futuras; e a honestidade. Se o Sartori tivesse dito, no ano passado, que gostaria de ser candidato à reeleição, diriam que ele não conseguiria nem concorrer a vice, por conta de todos aqueles projetos polêmicos enviados à Assembleia Legislativa, de toda a antipatia que se criou contra ele, do pagamento parcelado de todos os salários, sem nenhuma solução visível naquele momento. Só que este ano mostrou que a população finalmente entendeu. Ele falou a verdade e ela acabou pasmando na consciência das pessoas. Hoje, por exemplo, ele paga salários atrasados e as pessoas sabem que é porque não tem recursos.
JC – Quanto às duas vagas ao Senado, o PMDB lança candidato em pelo menos uma?
Alceu – Primeiramente, vamos tentar manter a coligação atual. Temos nos reunido com os partidos da base. Inclusive, há duas semanas, fizemos uma janta aqui no partido com todos as legendas aliadas. No mês que vem, será na sede do PP. Se nos mantivermos juntos, os espaços nobres têm que ser divididos entre todos. Por exemplo, se o PP estiver conosco, claro que vamos manifestar apoio à (reeleição da) senadora Ana Amélia Lemos (PP); se o PSB estiver conosco, vamos manifestar apoio ao Beto Albuquerque (PSB), se ele quiser se candidatar. Então, o cargo de vice-governador e as vagas ao Senado têm que ser distribuídas de tal maneira que consigamos construir uma aliança que nos permita ganhar a eleição.
JC – Quais os nomes fortes do PMDB para o Senado?
Alceu – Depois da saída do ex-senador Pedro Simon, que era o nosso candidato a senador sempre, e do próprio deputado federal José Fogaça, que em virtude da sua trajetória política ainda é um quadro altamente considerável para essa candidatura, já não temos um candidato a senador natural. Temos que escolher um nome com boas chances de ganhar.
JC – O senhor defende a tese do candidato próprio do PMDB à presidência da República?
Alceu – Sempre defendi. Aliás, é a primeira vez em muitos anos que temos um documento sobre o qual podemos embasar uma candidatura – a carta da “Ponte para o futuro”. Tendo um ofício como este, podemos nos unificar, o que sempre foi uma dificuldade, por sermos uma sigla muito heterogênea. Além disso, o governo do presidente Temer começa a dizer o que é um partido de centro, ao organizar a economia e ao usar o capital com responsabilidade social. Isso vai dar uma diretriz capaz da candidatura à presidência da República.
JC – As denúncias de corrupção contra o presidente Temer diminuem a viabilidade de uma possível candidatura dele. Quem seria o candidato ao Planalto. Na convenção do PMDB gaúcho, em março, o ex-governador Germano Rigotto (PMDB) se ofereceu para concorrer...
Alceu – O partido não tem esse nome (o de Temer) disponível e visualizado. Imagino que tenhamos um candidato à presidência da República, mas por enquanto não temos. O Rigotto, com toda a sua vivência política, é um quadro a ser apostado. Acho que ele tem que fazer uma projeção muito maior, porque o partido tem que desejar que ele seja candidato. O Rio Grande do Sul pode propor um nome para disputar o Palácio do Planalto na nossa sigla.
JC – Qual a expectativa quanto à votação, em plenário, das denúncias de corrupção passiva contra o presidente Temer, no dia 2 de agosto?
Alceu - Na minha visão, a menos que aconteça algo que não conheçamos, a oposição seguramente não conseguirá os 342 votos para continuar o processo. Na gravação do Rocha Loures (em que é flagrado recebendo uma mala de dinheiro), não tem absolutamente nada que ligue o Michel Temer a ele. Tanto que trinta e poucos dias depois de a mala estar sob posse do Rocha Loures, as notas de dinheiro com série não chegaram ao Temer. Se ele estava a mando de alguém, poderia imediatamente levar o dinheiro para quem mandou buscar. Mas não levou. Então, não há prova de que essa mala fosse para o presidente Temer.
JC – O deputado federal Darcísio Perondi (PMDB) defende a expulsão do partido dos peemedebistas que votarem contra o presidente Temer. Inclusive, do deputado Sergio Zveiter, que fez o primeiro relatório da matéria na CCJ, recomendando o andamento do processo, mas que acabou rejeitado pelo colegiado. Concorda com as expulsões?
Alceu - O PMDB tem que fazer a crítica não só do Sergio Zveiter, mas também do Renan Calheiros, do Roberto Requião e da Kátia Abreu. Esses têm feito coisas muito piores que o Zveiter.
JC – Se for expulsar, tem que ser no mínimo esses quatro?
Alceu – Com certeza. A razão de o Requião – que quer se colocar como guardião da honestidade, mas que defende o Lula – não apoiar o PMDB não são os problemas que o partido pode ter. Ele tem discordância ideológica: não pensa como um partido de centro, porque é um “esquerdopata”, portanto não tem porque estar no PMDB. Já o Renan é candidato a reeleição em Alagoas e, como no Nordeste o Lula ainda tem um nome muito denso, ele se coloca contra o governo porque quer aparecer como mocinho no seu estado para se eleger senador novamente. Essas pessoas não têm porque estar no PMDB.
JC – E Kátia Abreu...
Alceu – A Kátia Abreu nunca foi PMDB. Veio do DEM e é presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura). Portanto, tem um raciocínio de direita. Ela foi para o Ministério da Agricultura da Dilma (Rousseff, PT), se tornou uma grande amiga da Dilma e, de repente, passou a apoiar uma política de esquerda. Aí ela veio para o PMDB, para poder continuar no ministério. E agora, dentro do PMDB, não só critica o partido como também vota contra a tudo o que a legenda propõe.
JC – Vários parlamentares têm articulado uma reforma eleitoral no Congresso Nacional. É possível fazer alterações já para o pleito do ano que vem?
Alceu – Apesar de eu ser contrário, a Câmara dos Deputados deve aprovar para a eleição de 2018 o modelo chamado ‘distritão’. No Rio Grande do Sul, aconteceria o seguinte: os 31 candidatos a deputado federal mais votados seriam eleitos. Em geral, a população acha perfeitamente lógico. O problema é que, nesse sistema, os partidos tendem a colocar poucos candidatos para não dividir votos. Por que os partidos grandes querem o distritão? Porque os caciques partidários acreditam que, por fazer os partidos lançarem poucas candidaturas, eles vão poder se reeleger. Por que os partidos novos e pequenos querem o distritão? Porque acham que vai haver em torno de 65% de pessoas que não vão querer votar em quem já está lá, criando uma oportunidade de as novas legendas elegerem uma grande bancada com um discurso antipolítico. A confluência desses dois grupos deve viabilizar a aprovação do distritão para a próxima eleição. Entretanto, no pleito de 2022, vamos ter outras exigências: o fim das coligações proporcionais; os partidos não terão direito ao fundo partidário se não fizerem pelo menos 2% dos votos em pelo menos 14 estados da federação; o distrital misto baseado no modelo alemão.

Perfil

Alceu Moreira da Silva é natural de Terra de Areia (antigo distrito de Osório). Aos 63 anos, já foi vereador, vice-prefeito e prefeito de Osório, deputado estadual e deputado federal - posto que ocupa hoje. Todos os cargos eletivos foram exercidos pelo PMDB - partido no qual é filiado desde 1980. Elegeu-se para a Câmara de Osório em 1982, e como vice-prefeito da cidade em 1992. Venceu a corrida à prefeitura em 1996. Foi presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) em 1999. Conquistou uma cadeira na Assembleia Legislativa duas vezes (2002 e 2006). Inclusive, chegou a assumir a presidência do Parlamento em 2008. Foi titular da Secretaria Estadual da Habitação e Desenvolvimento Urbano durante o governo Germano Rigotto (2003-2006). Em 2010, se elegeu deputado federal. Na eleição de 2014, foi o terceiro deputado mais votado do Rio Grande do Sul, somando mais de 152 mil votos. Em março deste ano, foi eleito por aclamação presidente do diretório estadual do PMDB.