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Venezuela

- Publicada em 30 de Julho de 2017 às 21:36

Repressão marca eleição para Assembleia Constituinte na Venezuela

País registrou ao menos seis mortos e sete policiais feridos em meio a protestos contra Maduro

País registrou ao menos seis mortos e sete policiais feridos em meio a protestos contra Maduro


RONALDO SCHEMIDT/AFP/JC
Os venezuelanos foram às urnas ontem eleger uma nova Assembleia Nacional Constituinte, convocada pelo presidente Nicolás Maduro, para elaborar uma nova Constituição para o país, que vive momento de grande instabilidade política e econômica. Caracas amanheceu silenciosa, com muitas ruas bloqueadas por barricadas e presença maciça de soldados da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) nas ruas.
Os venezuelanos foram às urnas ontem eleger uma nova Assembleia Nacional Constituinte, convocada pelo presidente Nicolás Maduro, para elaborar uma nova Constituição para o país, que vive momento de grande instabilidade política e econômica. Caracas amanheceu silenciosa, com muitas ruas bloqueadas por barricadas e presença maciça de soldados da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) nas ruas.
Enquanto isso, a TV estatal apresentou várias autoridades ao vivo acalmando a população, afirmando que a segurança dos centros de votação estava garantida. "Não tenham medo de sair de casa e exercer seu direito básico e garantido pela nossa Constituição, o de escolher os representantes dessa Constituinte histórica", disse o líder chavista Elias Jaua.
Do alto dos viadutos e pelas avenidas de Caracas que ligam os bairros de classe média e alta (antichavistas) com o Centro (chavista), o que mais se via, no início da tarde de ontem, eram grupos de motociclistas. Pouca gente tirou o carro da garagem, para não correr o risco de ficar preso entre as barricadas levantadas pelos opositores.
No meio da pista de um dos viadutos, a reportagem conversou com um manifestante, que ali havia estacionado sua moto e orientava grupos com informações transmitidas por meio de um microfone instalado em seu capacete. "Estão reprimindo em Las Mercedes, agora a concentração está indo na direção de Bello Monte", informava o homem, que não quis se identificar, a um grupo que se encontrava perto desse bairro.
Na pista debaixo do viaduto via-se uma imensa fila de oficiais sobre motos, vestindo o uniforme da Guarda Nacional Bolivariana e se dirigindo para um dos locais de concentração da marcha opositora.
Em meio aos protestos convocados pela oposição, pelo menos seis pessoas morreram no sábado e no domingo. Outros sete policiais ficaram feridos.
Ronald Ramírez Rosales, agente da GNB, morreu depois de receber um tiro em um protesto em Táchira. Em Barquisimeto, estado de Lara, Luis Zambrano, de 43 anos, morreu após ser baleado na cabeça durante uma manifestação.
Entre os mortos está Ricardo Campos, de 30 anos, dirigente da oposição, que morreu de madrugada, em Cumaná, no estado de Sucre, em circunstâncias que estão sendo investigadas. Campos era secretário local para juventude do partido Ação Democrática (AD). Mais cedo, o Ministério Público informou que José Félix Piñeda, candidato à Assembleia Constituinte, foi morto a tiros no sábado, em Heres, no estado de Bolívar. Até o momento, o Ministério Público não vê motivações políticas nas duas mortes. Além deles, outros dois homens morreram após serem baleados em uma manifestação ontem.
Em outro episódio, durante um protesto em Caracas, uma explosão deixou sete policiais feridos e incendiou quatro motos em uma importante avenida.

Nicolás Maduro vota em Caracas e dispara crítica contra Donald Trump

Presidente antecipou seu voto para evitar atos hostis e a imprensa

Presidente antecipou seu voto para evitar atos hostis e a imprensa


PRESIDENCIA/PRESIDENCIA/AFP/JC
Amplamente impopular por governar durante uma grave crise econômica, Nicolás Maduro prometeu que a Assembleia Constituinte irá restaurar a paz após quatro meses de protestos da oposição, durante os quais mais de 115 pessoas já morreram.
Maduro, que tem sido hostilizado em eventos públicos recentes, votou às 6h (7h em Brasília), com pouca exposição. A imprensa só esperava por ele entre 12h e 13h, mas, antecipando-se em cinco horas, evitou os meios locais e internacionais. Acompanhado da mulher, Cilia Flores, e de líderes de seu partido, foi o primeiro a depositar seu voto em um colégio eleitoral a Oeste de Caracas. "Este é o primeiro voto pela tranquilidade futura da Venezuela", disse.
Trajando camisa vermelha, Maduro cumprimentou mesários antes de votar. Ao encerrar seu voto, repetiu o gesto de vários mandatários, erguendo a cédula para fotógrafos. "Quis o imperador Donald Trump proibir o povo de exercer o direito ao voto, e eu disse: 'chova ou faça sol, haverá eleições e Assembleia Constituinte'".
 

Oposição promete se manter resistente após o pleito

Os partidos de oposição estão boicotando o que eles chamam de eleições fraudulentas. Críticos argumentam que a Assembleia permitirá a Maduro dissolver o Congresso, liderado pela oposição, atrasar futuras eleições e reescrever as regras eleitorais para evitar que os socialistas sejam expulsos do poder.
A oposição prometeu redobrar a resistência após o pleito, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou impor sanções econômicas mais amplas contra a Venezuela, sugerindo o aumento da crise na nação rica em petróleo. "Mesmo que vençam hoje, isso não irá durar muito", disse a médica de 60 anos integrante da oposição Berta Hernández. "Continuarei nas ruas, porque, em pouco tempo, isso vai acabar."
Maduro, ex-motorista de ônibus e líder sindical eleito em 2013, acusa governos de direita da América Latina e os EUA de tentarem sabotar o "socialismo do século XXI". Mas com as pesquisas mostrando que cerca de 70% dos venezuelanos se opõem à votação, o governo fez de tudo para evitar a baixa participação, o que prejudicaria sua legitimidade. Os 2,8 milhões de funcionários públicos da Venezuela ficaram sob forte pressão para comparecerem às urnas - inclusive dezenas afirmaram sofrer ameaças de demissão.
Os eleitores não foram questionados na eleição deste domingo se desejavam a Assembleia, apenas escolheram seus 545 membros entre mais de 6.100 candidatos que representam uma ampla gama de aliados do Partido Socialista.
Pesquisas sugerem que a grande maioria dos venezuelanos se opõe à Assembleia. A oposição diz que mais de 7 milhões de eleitores - de uma população de cerca de 32 milhões - rejeitaram de forma esmagadora a proposta de Maduro em um referendo não oficial organizado neste mês.
Diante da grave crise, milhões de venezuelanos lutam para comer três vezes por dia devido à escassez de produtos e à inflação desenfreada, que deixam fora de alcance itens básicos, como arroz ou farinha. Cenas de venezuelanos revirando lixo ou mendigando por comida se tornaram comum.
"Às vezes, eu deixo de comer para dar aos meus dois filhos", disse Trina Sánchez, de 28 anos, enquanto esperava pelo ônibus para ir ao trabalho. "Isso aqui é uma farsa. Eu quero arrebentar Maduro."