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Economia

- Publicada em 30 de Julho de 2017 às 19:56

A indústria que se lixe

Era uma vez um grande país, nos anos 1990, que tinha importantes instituições financeiras estatais e privadas, além de um respeitável parque industrial.
Era uma vez um grande país, nos anos 1990, que tinha importantes instituições financeiras estatais e privadas, além de um respeitável parque industrial.
Em 1995, muitas dessas instituições financeiras, que dependiam de ganhos inflacionários, foram surpreendidas pela estabilização dos preços e estavam com graves problemas. Não tinham como honrar seus compromissos bilionários.
Quando grandes bancos têm problemas e ameaçam ir à falência, há um alarme geral no sistema financeiro. Se alguns deles quebram - é o que dizem os manuais -, pode se espalhar uma desconfiança geral em relação ao sistema financeiro, o que afeta também os bancos saudáveis. Isso porque, assustados, os poupadores e os depositantes correm aos bancos para sacar seus recursos, o que leva as instituições e todo o sistema ao colapso.
As autoridades que administravam esse grande país, em 1995, perceberam a gravidade do problema e criaram um ambicioso programa para salvar os bancos. Estamos falando do Proer, o polêmico Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional.
Pois bem, o Proer injetou recursos públicos bilionários nos bancos, números que não são precisos até hoje. O mais citado é R$ 30 bilhões de 1995 a 2000, valor que corresponderia hoje a uns R$ 50 bilhões. Alguns economistas estimam que o governo tenha gastado 2,5% do PIB para salvar o sistema bancário.
Passados mais de 20 anos desde o lançamento do programa, há ainda polêmica sobre sua correção: muitas ações continuam correndo na Justiça. Algum programa do tipo Proer, talvez um menos generoso, era mesmo necessário naquele momento. Havia efetivamente um risco "sistêmico", para usar a palavra da moda naquela época.
Sem dúvida, depois do Proer, o sistema ficou mais seguro, até porque trouxe novidades regulatórias e mecanismos de seguro de depósitos, que não existiam no país - hoje, o governo está proibido de injetar recursos para sanear instituições financeiras. Bancos mais frágeis, naquela época, sofreram intervenção e foram absorvidos por outros.
Bancos estaduais foram privatizados. O próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou o Proer em 2008, durante a grande crise financeira norte-americana, ao observar que os bancos brasileiros atravessaram a crise ilesos.
A indústria, pequena, média ou grande, vem sendo destruída por obstinados e odiosos processos de desindustrialização e desnacionalização da empresa brasileira. A indústria não precisa e não quer um Proer. Quer ter acesso a crédito com taxas de juros civilizadas, que permitam a volta dos investimentos produtivos. Quer uma carga tributária menos pesada - na semana passada, o governo foi na direção contrária e aumentou impostos sobre combustíveis. Quer câmbio adequado para competir no mercado internacional e proteção para a produção nacional no mesmo nível de países concorrentes. Não quer ser discriminada pelo discurso neoliberal, simplesmente porque toma recursos do Bndes ou de qualquer outra instituição pública.
Quer ter acesso ao crédito privado, fornecido por essas mesmas instituições salvas pelo Proer nos anos 1990 e alimentadas durante décadas com juros generosos e spreads vergonhosos.
Em resumo, a indústria precisa de um norte. Para onde vai o setor no Brasil? Alguém tem um plano?
O grande desastre é que o pensamento neoliberal dominante acha que nada disso é necessário e que a indústria deve ser jogada à disputa internacional para ser devorada pelos leões, como a OMC propôs, indiretamente, em um relatório na semana passada. Somos sardinhas ou tubarões? Um país com 200 milhões de pessoas, quase continental, pode sobreviver sem indústria?
Seremos um país no futuro ou um grande shopping center?
Diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa
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