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Finanças

- Publicada em 30 de Julho de 2017 às 21:36

Abertura de capital do Banrisul completa 10 anos

IPO do banco gaúcho foi um dos primeiros atos do governo Yeda Crusius

IPO do banco gaúcho foi um dos primeiros atos do governo Yeda Crusius


/JEFFERSON BERNARDES/PALÁCIO PIRATINI/JC
Durou pouco em seu destino inicial  - dois fundos de previdência do Estado - o montante de R$ 1,26 bilhão obtido pelo governo gaúcho com o IPO do Banrisul na Bolsa de Valores, realizado há exatos 10 anos. Já os quase R$ 800 milhões - também fruto daquela ação - que reforçaram o caixa da instituição têm reflexos positivos até hoje. Ao alçar o banco ao nível 1 de governança corporativa, em 31 de julho de 2007, o governo do Estado abriu mão de cerca de 42% dos 99,4% das ações que detinha da instituição financeira. Os papéis foram vendidos  - especialmente para fundos estrangeiros - por R$ 1,26 bilhão. Também foi aberta uma oferta secundária de ações, com a qual capitalizou a instituição em R$ 786 milhões.
Durou pouco em seu destino inicial  - dois fundos de previdência do Estado - o montante de R$ 1,26 bilhão obtido pelo governo gaúcho com o IPO do Banrisul na Bolsa de Valores, realizado há exatos 10 anos. Já os quase R$ 800 milhões - também fruto daquela ação - que reforçaram o caixa da instituição têm reflexos positivos até hoje. Ao alçar o banco ao nível 1 de governança corporativa, em 31 de julho de 2007, o governo do Estado abriu mão de cerca de 42% dos 99,4% das ações que detinha da instituição financeira. Os papéis foram vendidos  - especialmente para fundos estrangeiros - por R$ 1,26 bilhão. Também foi aberta uma oferta secundária de ações, com a qual capitalizou a instituição em R$ 786 milhões.
Logo pós a abertura do capital do Banrisul - um dos primeiros e mais simbólicos atos do governo Yeda Crusius (PSDB) -, o Estado constituiu o Fundo de Equilíbrio Previdenciário (Fe-Prev) e o Fundo de Garantia da Previdência Pública Estadual (FG-Prev) para tentar equilibrar as contas do sistema previdenciário gaúcho. Em 2009, porém, com aprovação da Assembleia Legislativa, o governo praticamente raspou os recursos que deveriam ajudar a custear os gastos do Estado com aposentadorias para realizar investimentos, principalmente na construção e recuperação de rodovias.
O Estado já estava em crise naquele período, ainda que em proporções menores do que as atuais. Em 2007, a Previdência estadual tinha um déficit de cerca de R$ 4 bilhões. Para 2017, a projeção da Secretaria da Fazenda é de quase R$ 9 bilhões.
O investimento em infraestrutura, porém, foi uma necessidade mais urgente e imprevista, alega a ex-governadora Yeda Crusius, atualmente deputada federal. Em meio a uma intensa disputa com o governo federal em torno da concessão de pedágios em rodovias no Estado, Yeda diz que ficou sem outra opção além de utilizar os recursos para recuperar estradas gaúchas
Enquanto a decisão de destinar recursos dos fundos previdenciários para outros fins gerou críticas e controvérsias, é mais pacífica a avaliação sobre os quase R$ 800 milhões que não passaram pelo Tesouro do Estado e foram direto para o caixa do Banrisul. Boa parte do dinheiro foi usado para ampliar a capacidade de oferta de crédito e para a modernização tecnológica do banco. O modelo de gestão corporativa adotado depois do IPO é avaliado positivamente, hoje, mesmo por críticos ferrenhos do processo. "O lado ruim é que o Banrisul deixou de ser um banco de fomento para o Estado. É um banco que atende a interesses de um grupo de investidores, e cada decisão leva isso em conta, e não o Estado. Mas o modelo de governança corporativa, com a divulgação correta de dados e a facilidade de acesso a eles, é um ponto positivo", diz Fábio Soares Alves, diretor da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Instituições Financeiras do RS (Fetrafi-RS).
O presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec-Sul), José Junior de Oliveira, avalia que é inegável o sucesso da operação realizada na época, que começou com intenso road show de apresentação do banco nos EUA, Europa e Ásia. Oliveira explica que boa parte desses investidores segue com ações do Banrisul, que têm boa liquidez no mercado. No entanto o dirigente lembra que o fato de mais de 50% do capital ainda estar nas mãos do Estado reduz um tanto a atratividade dos papéis, e tende a imprimir um ritmo mais burocrático a algumas decisões.
"Mesmo em nível 1 de governança, o Banrisul tem risco de influência política, mas já avançou muito neste quesito de gestão e de indicações para cargos de diretoria. Em índices importantes para o mercado e para investidores, por exemplo, como ROI (retorno sobre investimento), bancos públicos costumam ter indicadores piores do que os privados", diz Oliveira. Enquanto os grandes bancos comerciais privados, por exemplo, têm ROI próximo ou superior a 20%, em 2016, o do Banrisul superou pouco os 10%, compara Oliveira.
O "risco" ou a "ineficiência pública" também é indicada por um dos pontos ainda negativos da instituição por um profissional do mercado de capitais, que prefere não se identificar. "Já houve mais interferências de governo no banco, é verdade, e hoje praticamente toda a diretoria é técnica e composta por servidores. Ainda assim, há decisões muito lentas, e o setor financeiro é dinâmico. Isso traz perda de competitividade", avalia o corretor.

Frases memoráveis

Ricardo Hingel, atual diretor Financeiro e de RI do Banrisul e que também integrava a diretoria do banco no IPO
"O banco tem um ativo que foi muito importante no IPO: a folha de pagamento do Estado. Naquela época, assinamos um acordo em que o banco teria a folha por cinco anos de forma não honerosa. Depois, com o mercado aquecido neste mercado de compra e venda de folhas de pagamento, o Estado ofertada a continuidade dela no banco. Foi pago R$ 1,250 bilhão por 10 anos. Sem IPO teríamos muita dificuldade de ter mantido esse ativo no Banrisul."
Aod Cunha, secretário da Fazenda na época do IPO
"Sempre fui favorável a ter blindado os recursos obtidos com o IPO para que não fosse usados de forma errada, por isso fizemos aquela destinação aos fundos de previdência. Receita extraordinário não poderia ser utilizado para pagamentos de gastos correntes. Infelizmente, depois, esse recurso teve outro fim por decisão do governo e da assembleia, com a qual nunca concordei."
Yeda Crusius, governadora na época do IPO
“Logo que assumiu o governo todos me diziam que a abertura do capital e venda das ações do Banrisul não poderia ser feita, que a população não aceitaria. Sempre questionei isso, e disse: por que não? Acho que a grande questão do IPO do Banrisul, uma decisão extremamente acertada, foi a quebra de um paradigma. Se o Banrisul ainda é o que é, foi porque tomamos a mais acertada que poderia ser feita.