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Turismo

- Publicada em 30 de Julho de 2017 às 21:39

Com a crise, brasileiros passam a acumular menos milhas

Atingir a milhagem para comprar a passagem aérea está mais difícil

Atingir a milhagem para comprar a passagem aérea está mais difícil


ROVENA ROSA/ROVENA ROSA/ABR/JC
Os brasileiros têm acumulado cada vez menos milhas no cartão de crédito. O número total de pontos caiu 45% no ano passado e chegou ao menor patamar da história desse segmento. Na comparação com o auge dos programas de milhagem, em 2014, a queda é ainda mais representativa: passou de 304 bilhões para 137,6 bilhões, segundo levantamento do Banco Central (BC).
Os brasileiros têm acumulado cada vez menos milhas no cartão de crédito. O número total de pontos caiu 45% no ano passado e chegou ao menor patamar da história desse segmento. Na comparação com o auge dos programas de milhagem, em 2014, a queda é ainda mais representativa: passou de 304 bilhões para 137,6 bilhões, segundo levantamento do Banco Central (BC).
O extrato do cartão de crédito do advogado Eloy Fonseca Neto é um retrato disso. "Já cheguei a acumular 20 mil milhas em um único mês. O dólar abaixo de
R$ 2,00 e os bons programas para acelerar pontos deixavam tudo mais fácil e interessante. Agora, consigo juntar, no máximo, cinco mil pontos por mês", conta o advogado, que conhece mais de 50 países e já acumulou cerca de 500 mil pontos em um ano.
Entre as explicações para essa queda acentuada está a valorização do dólar, que tem prejudicado a acumulação de pontos. No início da década, com a economia em crescimento e o real forte, os usuários de milhas viveram tempos áureos. No Brasil, a maioria dos programas oferece pontos atrelados à moeda norte-americana - normalmente, US$ 1 gasto no cartão resulta em 1 milha. Em 2010, o dólar médio ficou em R$ 1,75. Com essa taxa, uma fatura do cartão de R$ 1 mil resultava em 1.142 pontos no fim do mês. No ano passado, o câmbio médio ficou em R$ 3,48. Assim, a mesma fatura resultou em 574 pontos - queda de 50%.
Além disso, o mercado conviveu com a segmentação dos cartões de crédito no início da década com o lançamento de categorias para a alta renda que geram ainda mais milhas.
João Pimenta é um empresário de Florianópolis, que abriu uma empresa para gerenciar milhas dos clientes. Para ele, a queda dos pontos no cartão não é surpresa e é explicada pela conjuntura. "O dólar mais alto dificulta a acumulação. Além disso, a crise diminuiu o consumo para muita gente, e alguns cartões pioraram a taxa de conversão", diz o "personal miles". Pimenta dá como exemplo alguns cartões que reduziram as milhas em cerca de 10%: antes, davam até 2,2 pontos por dólar, mas passaram a oferecer 2 pontos.
Sem contar o contexto econômico, o indicador do BC mostra também que muitos brasileiros simplesmente perderam as milhas, porque os pontos venceram: 50,4 bilhões de pontos do cartão de crédito expiraram no decorrer de 2016. Esse volume de milhas é suficiente para, por exemplo, emitir 1,3 milhão de passagens aéreas de ida e volta entre São Paulo e Buenos Aires na baixa temporada.
Outro motivo para a queda das milhas do cartão é a transferência para outros programas de recompensa. Se no passado existiam apenas pontos nos cartões e nas próprias companhias aéreas, atualmente o mercado tem vários programas independentes que permitem acumular pontos em mais de um cartão de crédito e convertê-los em múltiplas empresas aéreas ou mercadorias e serviços.
O presidente da Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Fidelização, Roberto Medeiros, nota que há transferência crescente de pontos do cartão para esses programas independentes. Além disso, duas grandes operadoras do mercado - Banco do Brasil e Bradesco - criaram, em 2016, um programa independente (Livelo), que acabou atraindo pontos acumulados pelos clientes dessas instituições. Nesse caso, o ponto deixa de estar no cartão e sai do indicador do BC, que só monitora as instituições financeiras.

Pontos sofrem com a 'inflação'

Volume para resgate está ligado a mudanças na tarifa, diz Medeiros

Volume para resgate está ligado a mudanças na tarifa, diz Medeiros


/ABEMF/DIVULGAÇÃO/JC
Sempre que há alta inesperada dos preços, economistas se debruçam sobre os números e apontam para um vilão da inflação. Nos últimos anos, porém, o Brasil conviveu com um fenômeno que não foi citado por analistas, nem apareceu nos indicadores: a inflação das milhas.
Para viajar na próxima semana de São Paulo para Buenos Aires, serão necessárias 52.500 milhas para ir e voltar em uma companhia aérea brasileira que faz a ligação entre Guarulhos e Ezeiza, e 54.000 pontos na outra empresa nacional que voa na mesma rota. O "preço" dessas passagens é muito maior que o visto alguns anos atrás.
Há três anos, empresas usavam tabelas para a conversão das milhas, e uma passagem de ida e volta de qualquer cidade brasileira para um destino na América do Sul custava 20 mil pontos nos programas da TAM e da Gol. Não importava se a viagem era na ponte aérea São Paulo-Rio ou entre Porto Alegre e Bogotá, na Colômbia, o preço em milhas era sempre o mesmo: 20 mil. Assim, o preço da próxima semana para Buenos Aires indica inflação de 162%.
"Esses preços dinâmicos começaram a ser usados há alguns anos e, às vezes, ficam impeditivos. Já vi trecho entre Porto Alegre e Fortaleza por 150 mil milhas. No passado, essa era a quantidade necessária para ir e voltar do Brasil ao Oriente Médio", diz o advogado e grande usuário dos programas de milhas, Eloy Fonseca Neto.
O presidente da Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Fidelização (Abemf), Roberto Medeiros, rechaça a ideia de que há inflação nas milhas. "A pontuação necessária varia em função do bilhete pago. Cada vez que a tarifa muda, o volume necessário para resgate varia com a mesma dinâmica", diz o executivo.