Ricardo Gruner
Em tempos nos quais histórias de ação e aventura no cinema são frequentemente ofuscadas pela quantidade de filmes de super-heróis e blockbusters semelhantes, Em ritmo de fuga pode ser considerado exceção. Queridinho da crítica norte-americana, o longa é movido por um frescor juvenil que busca dialogar com o público mais através da montagem das cenas do que com as explosões.
O personagem central é Baby (Ansel Elgort, de A culpa é das estrelas), um jovem motorista que utiliza a música para abafar um zumbido constante em seus ouvidos. Devido a seus talentos ao volante, ele é recrutado por um criminoso (papel de Kevin Spacey) para atuar como piloto de fuga após assaltos. Entretanto, pouco a pouco, o rapaz mostra ter um perfil diferente dos colegas.
A direção do título é do inglês Edgar Wright, cineasta que vem revelando aptidão para lidar com a cultura pop. Entre outras produções, já misturou comédia e horror em Todo mundo quase morto (2004) e trabalhou na adaptação dos quadrinhos de Scott Pilgrim contra o mundo (2010) para as telonas.
Em ritmo de fuga, como a versão brasileira para o título sugere, é calcado na música. Para-brisas se movem e motores roncam conforme as melodias de Simon & Garfunkel, T. Rex e Queen, entre outros tantos artistas que aparecem na trilha sonora. Cheio de cortes e citações explícitas que valorizam esses momentos, o filme contou com coreografia assinada por um nome de destaque nos bastidores de clipes musicais: Ryan Heffington, de vídeos da cantora Sia e da banda Arcade Fire.
Se a execução desses momentos chama a atenção - a começar pela sequência de abertura -, algumas lacunas no roteiro também não passam despercebidas. Os artistas Lily James (Cinderela), Jamie Foxx (Django livre) e Jon Hamm (Mad Men) completam um elenco de personagens que toma algumas decisões inconvincentes. A justificativa para uma determinada mudança de conduta, por exemplo, parece abrupta até em um universo que não tem a verossimilhança como carro-chefe.
Apesar de um tanto superestimado, Em ritmo de fuga mostra que o mais hollywoodiano dos gêneros independe de exageros pirotécnicos. Ciente, do início ao fim, que suas pretensões se calcam em brincadeiras estéticas, e não na busca por reflexões ou escalas grandiosas, Edgar Wright tem a seu favor a criatividade para contar uma história - mesmo que ela esteja longe de ser inesquecível.