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Conjuntura

- Publicada em 25 de Junho de 2017 às 01:02

Brasil pode registrar em junho primeira deflação desde 2006

Menor pressão dos preços de alimentos, boa safra, câmbio e consumo em baixa balizam momento

Menor pressão dos preços de alimentos, boa safra, câmbio e consumo em baixa balizam momento


FREDY VIEIRA/JC
O Brasil pode registrar este mês sua primeira deflação em 11 anos. Analistas ouvidos pelo Banco Central (BC) no Boletim Focus projetam para junho uma queda de 0,07% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial de inflação do País. O próprio BC prevê uma queda de 0,1% no indicador. Seria a primeira deflação mensal desde o -0,21% registrado em junho de 2006.
O Brasil pode registrar este mês sua primeira deflação em 11 anos. Analistas ouvidos pelo Banco Central (BC) no Boletim Focus projetam para junho uma queda de 0,07% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial de inflação do País. O próprio BC prevê uma queda de 0,1% no indicador. Seria a primeira deflação mensal desde o -0,21% registrado em junho de 2006.
Com o País mergulhado em uma crise política e ainda com dificuldade para retomar o nível de atividade, depois de uma profunda recessão, a inflação em queda é talvez o dado mais positivo no cenário econômico. As estimativas são de que o IPCA feche o ano abaixo dos 4,0% (centro da meta perseguida pelo BC é de 4,5%). E inflação baixa é o principal combustível para a queda da taxa de juros no País - ainda uma das mais altas do mundo.
Para economistas, porém, a deflação de junho, se confirmada, não deve se repetir nos próximos meses. "A deflação esperada para junho é muito pouco para dar um parâmetro da situação econômica. A economia ainda anda cambaleante, mas o que se tem agora é uma sazonalidade, que ajuda bastante o mês de junho. Ao se olhar para a série mensal, esse mês sempre apresenta uma das taxas mais baixas", diz o economista Flavio Romão, da LCA Consultores. Segundo ele, a inflação tende a voltar a subir, principalmente ao longo do último quadrimestre, e deve fechar o ano em 3,9%.
A avaliação dos analistas é que a queda esperada para este mês vem de uma convergência de fatores, como a baixa pressão dos preços dos alimentos, fruto do clima mais ameno desde o fim do ano passado, e dos bons resultados das safras agrícolas, além de um câmbio mais apreciado. Também pesa a redução dos preços de combustível pela Petrobras e a mudança da bandeira tarifária de energia - de vermelha, mais cara, para verde. Além, claro, da conjuntura ruim, com atividade econômica fraca e desemprego alto, o que inibe o consumo.
A combinação de fatores também pode fazer com que a inflação medida pelo IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado) em 12 meses até junho registre deflação. Se a tendência se confirmar, será a primeira deflação acumulada em 12 meses pelo indicador desde 2010, quando o recuo foi de 0,66%. O índice é usado, sobretudo, como referência na hora de reajustar contratos, como os de aluguel.
"Esse patamar (mais baixo) de inflação que estamos testemunhando agora já era esperado. Os resultados elevados do ano passado, quando a economia sangrava, mas a inflação continuava lá, resistente, é que eram fora do normal", avalia o economista Heron do Carmo, da FEA-USP.
Heron defende, por conta disso, que o BC não deveria perder a oportunidade histórica de reduzir a meta de inflação para 4,25% já no ano que vem. "Mesmo que seja uma medida extraordinária e agora seja o momento em que normalmente é definida a meta para 2019, não seria a primeira vez que a revisão seria antecipada", disse. Segundo ele, "isso sinalizaria o reconhecimento do esforço que foi feito pelo País para chegarmos até aqui".
"Não somos um daqueles países em que há registro de inflação alta num ano e de queda nos preços no ano seguinte e isso não chama a atenção de ninguém. O Brasil lutou contra a inflação por mais de 50 anos. A memória da inflação alta tem pouco mais de 20 anos. Ela pode estar adormecida na cabeça da maioria das pessoas, mas aquele tempo de histeria nos preços faz parte da nossa história."

Deflação deve beneficiar correção de contratos

Queda de preços deve beneficiar na hora dos reajustes de aluguéis e mensalidades escolares

Queda de preços deve beneficiar na hora dos reajustes de aluguéis e mensalidades escolares


MATEUS BRUXEL/ARQUIVO/JC
A queda mais forte da inflação em 2017 deve beneficiar os consumidores no momento de negociar o reajuste de preços de contratos de serviços, como aluguel e mensalidades escolares. No caso dos investimentos que têm parte de sua rentabilidade atrelada à inflação, as taxas prefixadas que compõem a rentabilidade prometida devem compensar o recuo do índice.
No caso dos contratos, o efeito não deve ser sentido imediatamente, uma vez que consideram o comportamento dos índices em um período de 12 meses para o reajuste. Especialistas veem espaço, porém, para o consumidor barganhar descontos, principalmente nos contratos de aluguel. "A deflação esperada para junho pode ajudar a reduzir o tamanho do reajuste desse contrato no futuro", explica a economista do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), Ione Amorim. "Se num período de 12 meses houver variação negativa do índice em um deles, o avanço acumulado será menor", afirma.
No acumulado dos últimos 12 meses até maio, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, aumentou 3,60%. Já o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e usado em boa parte dos contratos de aluguel, o avanço em igual período foi de 1,57%, apesar da deflação vista em maio e abril.
A economista do Idec explica que a natureza desses tipos de contrato, de prestação contínua de um serviço, não prevê o reajuste "para baixo". Se o resultado acumulado em 12 meses fosse negativo, por exemplo, os preços ficariam estáveis, em teoria. 
No caso dos aluguéis, no entanto, a possibilidade de barganhar um preço mais baixo não se dá exatamente por causa da trégua da inflação, mas pela crise no mercado imobiliário. Economista da FGV, Fábio Gallo explica que o momento favorece o consumidor, pois os proprietários de imóveis estão mais dispostos a negociar para não ficarem com os imóveis vazios.
Dados da plataforma VivaReal, que reúne imóveis para locação e venda, apontam que, em maio, o preço nominal médio do metro quadrado para aluguel na capital paulista atingiu R$ 35,34, valorização nominal de 0,1% em comparação com o mesmo período de 2016 (R$ 35,29). Em relação a abril deste ano (R$ 35,09), o incremento foi de 0,7%.
Em contratos como telefone, internet e TV por assinatura, os reajustes consideram indicadores diferentes, como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que teve variação de 3,35% nos últimos 12 meses até maio. Já no segmento dos planos de saúde, que vêm registrando reajustes na casa dos dois dígitos, o custo de itens setoriais, como medicamentos, acabam sendo a referência para estabelecer os preços dos contratos.

O impacto para os investimentos

O recuo da inflação provoca dúvidas também em relação a investimentos. "Para um investidor sem muito conhecimento, a primeira intuição é que, se a inflação dá negativa, o título também pode render negativo ou muito baixo", afirma Sandro Baroni, gerente de Preços e Índices da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Um estudo feito pela associação, no entanto, mostrou que, em 2006, quando houve o último registro de deflação no mês de junho, a rentabilidade de títulos do Tesouro Direto indexados ao IPCA ficou positiva. Isso ocorreu em razão da composição das taxas desses papéis - em parte prefixadas, em parte corrigidos pela inflação. Assim como a parte prefixada acabou compensando o resultado negativo da inflação no passado, o mesmo deve ocorrer neste mês, explica Baroni. Ele ressalta porém, que o investidor que resgata um título público antes do prazo pode ter rentabilidade menor pela oscilação do índice.