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Agronegócios

- Publicada em 22 de Junho de 2017 às 22:37

EUA suspendem compra de carne do Brasil

Exportações para os Estados Unidos começaram em setembro de 2016

Exportações para os Estados Unidos começaram em setembro de 2016


CI/CI/DIVULGAÇÃO/JC
O secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Sonny Perdue, anunciou nesta quinta-feira a suspensão de todas as importações de carne bovina in natura do Brasil, por causa de "preocupações recorrentes" com a segurança do produto destinado ao mercado americano. A medida continuará em vigor até que o Ministério da Agricultura do Brasil adote ações "corretivas" para atender as exigências do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
O secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Sonny Perdue, anunciou nesta quinta-feira a suspensão de todas as importações de carne bovina in natura do Brasil, por causa de "preocupações recorrentes" com a segurança do produto destinado ao mercado americano. A medida continuará em vigor até que o Ministério da Agricultura do Brasil adote ações "corretivas" para atender as exigências do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
A decisão é um revés significativo para os exportadores de carne brasileiros, que haviam conseguido abrir o mercado americano para seus produtos em junho de 2015. O primeiro embarque, no entanto, ocorreu apenas em setembro do ano passado. Embora o volume de exportação ainda não seja relevante, o mercado americano, por ser um dos mais exigentes, serve de referência para que outros países decidam comprar a carne brasileira.
Entre janeiro e maio deste ano, os frigoríficos brasileiros embarcaram para o mercado americano 4,68 mil toneladas de carne in natura, ou US$ 18,9 milhões. Já a China, o principal importador, adquiriu no período 52,88 mil toneladas de carne bovina in natura, ou US$ 219,7 milhões de dólares, conforme a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).
Quando o escândalo da operação Carne Fraca estourou, os EUA mantiveram as importações do Brasil, enquanto outros países as suspenderam. De acordo com nota do Departamento de Agricultura, desde que a operação foi revelada, em março, as autoridades sanitárias americanas estavam reinspecionando 100% dos carregamentos de carne enviados pelo Brasil. Nesse período, os EUA rejeitaram 11% dos produtos. "Essa cifra é substancialmente superior ao índice de rejeição de 1% de embarques de outros países", disse o comunicado.
"Assegurar a segurança da oferta de alimentos em nossa nação é uma de nossas missões críticas e é uma que encaramos com grande seriedade", declarou o secretario de Agricultura, Sonny Perdue. De acordo com a nota, a recusa foi motivada por "preocupações de saúde pública, condições sanitárias e questões de saúde animal".
Na última quarta-feira, o senador democrata Jon Tester havia enviado carta ao secretário de Agricultura pedindo a suspensão "imediata" das importações de carne do Brasil. "É cada vez mais claro que esses produtos representam uma ameaça aos consumidores americanos ao mesmo tempo em que prejudicam os rancheiros americanos", escreveu Tester, que representa o Estado de Montana, uma das principais regiões de criadores independentes de gado.
"Em março, um escândalo de corrupção na indústria de produção de carne no Brasil levou várias nações, como China, Arábia Saudita e México, a suspender de maneira temporária as importações de carne do Brasil", ressaltou o parlamentar.

Brasil já havia suspendido cinco frigoríficos

Na quarta-feira, o Ministério da Agricultura do Brasil havia suspendido as exportações de cinco frigoríficos - incluindo a unidade da Marfrig em São Gabriel - depois de queixas do governo americano. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), o problema era a reação de alguns animais à vacina contra febre aftosa, que pode provocar abscessos na carne. A decisão anunciada nesta quinta-feira pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês) se sobrepõe à do governo brasileiro. Até a suspensão dos cinco frigoríficos, o Brasil tinha 31 unidades habilitadas a exportar para os EUA.
A descoberta de abscessos na carne bovina brasileira enviada aos Estados Unidos, fato que motivou a autossuspensão da exportação da proteína animal ao mercado norte-americano, não representa nenhum problema de sanidade, segundo especialistas. Os nódulos seriam uma reação normal à vacinação, e, por serem internos, não seriam identificáveis na inspeção sanitária. 
"Não é um problema de sanidade, mas apenas visual, porque visualmente o abscesso é semelhante aos formados por doenças", argumenta a presidente do Sindicato dos Médios Veterinários do Estado (Simvet-RS), Angelica Zollin. O nódulo provém de uma reação alérgica à vacinação, relativamente comum nos animais, que não afeta o resto das peças. Como a agulha é profunda, o abscesso se forma internamente, o que impossibilita que seja detectado nas inspeções. A descoberta, geralmente, só acontece na hora do processamento da peça, já na indústria compradora.
Segundo o diretor executivo no Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado (Sicadergs), Zilmar Moussalle, é a primeira vez que há reclamação quanto a isso, mesmo exportando para mais de 140 países. Há pelo menos três fatores que explicariam a contestação. "Lá, eles não vacinam há muitos anos, então veem isso e acham que é falta de qualidade", comenta Moussalle. Angelica acrescenta ainda o fato de o Brasil ser um dos principais concorrentes da carne norte-americana e que, por isso, receberia uma fiscalização mais crítica por lá. "Além disso, com os outros problemas que tivemos, como a Operação Carne Fraca, agora qualquer coisa já se desconfia da carne brasileira", continua a presidente do Simvet, que critica a condução daquele episódio.
A possível solução para evitar o contratempo seria uma reeducação nas propriedades, segundo os dirigentes. "O recomendado é que se faça no pescoço, porque essa carne não é vendida, mas ainda é de praxe que façam no traseiro", argumenta Angelica. O diretor do Sicadergs concorda, e acrescenta que a solução definitiva só virá com a retirada da vacinação da aftosa. "Quem sabe agora com esse episódio se possa focar mais nisso, e abreviar o tempo para que aconteça", projeta Moussalle, que ressalta, porém, que o fim da vacina deve ser feita "com os pés no chão", para que a doença não retorne.
Sobre os efeitos para o mercado, Moussalle acredita que o principal problema é a "manchete" que se espalhará pelo mundo. "Por ser um país muito rigoroso, os Estados Unidos abrem porta para outros países", argumenta o diretor. Em termos práticos, a venda para o país norte-americano ainda representa pouco - os frigoríficos nacionais dividem uma cota de 64,5 mil toneladas anuais com várias outras nações.
A maior preocupação recai, evidentemente, sobre a região da planta suspensa. "Representará provavelmente mais uma queda no preço do gado, que já está com o valor bem abaixo de 2016, 2015, 2014. A pecuária pode entrar em crise sem precedentes na região", prevê o presidente do Sindicato Rural de São Gabriel, Tarso Francisco Pires Teixeira. O problema se soma a outros, como o excesso de chuvas nas últimas semanas que atrasou as pastagens e interrompeu estradas. "Quase não existem animais em condições de abate em São Gabriel atualmente", afirma Teixeira.
A cidade ainda é sede do frigorífico Foresta, único abatedouro de equinos do Estado, que também está com as atividades suspensas por embargo da comunidade europeia, principal cliente do produto. Teixeira diz esperar que os abates na Marfrig sejam restabelecidos o mais rápido possível. A Marfrig, que teve o abate suspenso também em unidades suas em Promissão (SP) e Paranatinga (MS) afirma, em nota, "está atendendo a todas as etapas existentes estabelecidas pelo Ministério da Agricultura de forma técnica e imediata, visando o retorno dessas plantas para exportação para este mercado".