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Sistema Financeiro

- Publicada em 18 de Junho de 2017 às 16:37

Bancos retiram cartões de crédito de circulação

Segundo os dados mais recentes do Banco Central, em 2015, havia 165,2 milhões de cartões no Brasil

Segundo os dados mais recentes do Banco Central, em 2015, havia 165,2 milhões de cartões no Brasil


/MARCELO G. RIBEIRO/JC
Os bancos estão cortando os cartões de crédito dos clientes que julgam ser de maior risco, especialmente os das classes mais baixas. Só os dois maiores do País - Banco do Brasil e Itaú Unibanco - retiraram de circulação 1,2 milhão de cartões nos primeiros quatro meses deste ano, segundo dados informados pelas próprias instituições.
Os bancos estão cortando os cartões de crédito dos clientes que julgam ser de maior risco, especialmente os das classes mais baixas. Só os dois maiores do País - Banco do Brasil e Itaú Unibanco - retiraram de circulação 1,2 milhão de cartões nos primeiros quatro meses deste ano, segundo dados informados pelas próprias instituições.
Na comparação com os quatro primeiros meses de 2016, a queda foi ainda maior. A base de cartões do Banco do Brasil caiu de 22,2 milhões para 17,2 milhões, e a do Itaú recuou de 32,1 milhões para 28,9 milhões.
Bradesco e Santander não abrem os números sobre a emissão e retirada dos cartões, mas executivos dizem que as instituições passaram a excluir clientes mais arriscados para diminuir os juros e as taxas do crédito parcelado, a nova modalidade que o governo impôs no lugar do crédito rotativo.
Símbolo da ascensão da classe C ao mundo do consumo, o uso de cartão de crédito dá sinais de exaustão diante da recessão e da cautela dos operadores com o calote, que chegou aos 40% no crédito rotativo. "A gente vem observando redução da base total de cartões, porque há uma maior seletividade por perfil de risco. Nós temos abdicado dos clientes de maior volatilidade e focamos clientes com menor risco. Além disso, temos visto muita gente saindo do mercado por inadimplência", diz o diretor executivo de cartões do Itaú Unibanco, Marcos Magalhães.
O mesmo fenômeno acontece em outras instituições financeiras, especialmente as que mais sofreram com a inadimplência. Banco do Brasil e Santander preferiram não se pronunciar oficialmente.
A Caixa é a única exceção, porque ainda sofre para aumentar a adesão dos clientes aos cartões do banco. Teve alta ligeira de 200 mil cartões de crédito nos quatro primeiros meses deste ano e de 700 mil na comparação com o primeiro trimestre do ano passado. Mesmo assim, o banco estatal tem ainda uma carteira de apenas 7,2 milhões de cartões de crédito, a menor entre as grandes instituições.
No Bradesco, o número de clientes ativos não chegou a cair, mas cresceu o bloqueio de cartões por atraso no pagamento. "Esses clientes não conseguem fazer compras até que voltem a pagar. Se o atraso atingir 60 dias, a gente cancela o cartão", diz o diretor de cartões do Bradesco, Cesario Narihito Nakamura. O problema de atraso no pagamento aconteceu inicialmente entre clientes de menor renda ou sem renda fixa.
Dados do Banco Central (BC) mostram que, entre 2008 e 2010, operadoras emitiram e enviaram quase 27 milhões de cartões aos brasileiros. Nessa época, o Brasil emitia quase um novo plástico a cada dois segundos.
Os dados mais recentes do estoque de cartões ainda são de 2015. Segundo o Banco Central, no acumulado daquele ano, havia 165,2 milhões de plásticos no Brasil, número recorde desde o início da série, em 2008. O BC, porém, ainda não divulgou os números do ano passado.
Embora os clientes relatem que estão sendo feitos cancelamentos sem aviso prévio, os grandes bancos afirmam que só cancelam os cartões por razões previstas em contrato, como atraso no pagamento. Mesmo sem cancelar unilateralmente, algumas operadoras usam de outras estratégias para pressionar o cliente a desistir do cartão, como diminuir o limite ou aumentar a cobrança da taxa de anuidade.
O diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito (Abecs), Ricardo Vieira, reconhece que o cenário macroeconômico afeta o setor, como outras áreas da economia.
O executivo explica, porém, que a entidade não tem dados sobre o número de cartões em circulação e prefere observar indicadores como faturamento e volume de transações. "Esses indicadores vão na contramão e continuam crescendo, mas isso não indica que não poderia estar acontecendo essa redução do número de cartões", disse, ao comentar que alguns bancos podem estar "realizando movimento de limpeza da base de clientes".
 

Brasileiro usa mais 'dinheiro de plástico' para pagar as contas

O setor de cartões de crédito prevê que, a despeito da crise, o faturamento do segmento crescerá até 7,5% neste ano com o uso cada vez mais intenso desse meio de pagamento pelos brasileiros. Mesmo com o crescimento acima da inflação, executivos do setor criticam algumas medidas recentes adotadas pelo governo que acabam desestimulando o uso do cartão.
O diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito (Abecs), Ricardo Vieira, explica que o volume de transações crescerá no ano, porque há um uso cada vez mais intenso entre os clientes que já possuem cartão, e o meio de pagamento é aceito em um número maior de segmentos do comércio, inclusive para compras de menor valor.
Segundo Vieira, o setor terá indicadores melhores após as novas regras do funcionamento do crédito rotativo - operação que passou a ter prazo máximo de 30 dias. "Com a mudança no rotativo, a expectativa é de grande redução da inadimplência e da taxa cobrada nessa operação", disse. O juro médio do rotativo calculado pela Abecs caiu de 455,4% ao ano em março para 207,9% ao ano na quarta semana de maio.
Apesar da redução do custo do crédito rotativo, alguns executivos do setor reclamam da maneira como as regras foram adotadas pela equipe econômica. Um executivo de um banco público nota que novas normas, como a limitação do uso do rotativo e o preço diferenciado para compras no cartão de crédito, podem até gerar mais custo para o sistema financeiro.
O executivo argumenta que esse novo ambiente acaba incentivando o uso do dinheiro vivo. A queixa é que é caro levar cédulas e moedas para os clientes e, se o volume crescer ainda mais, o custo aumenta, e isso acabará tendo de ser repassado aos consumidores.