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Teatro

- Publicada em 29 de Junho de 2017 às 22:50

Imobilhados: dinâmico, bonito e provocativo

Dois começos para este comentário. Primeira abertura: Liane Venturella vem se superando enquanto diretora. A cada momento, um novo espetáculo seu e uma nova proposta, absolutamente diversa, sempre criativa. Segunda abertura: Imobilhados é um verdadeiro tour de force de encenação, e que se torna ainda mais admirável quando se descobre que são apenas quatro atores que se multiplicam em pelo menos nove personagens, numa rapidez e numa incorporação concreta, de absoluto convencimento, que nos deixa a todos admirados, ao longo de cerca de uma hora e meia de duração do espetáculo.
Dois começos para este comentário. Primeira abertura: Liane Venturella vem se superando enquanto diretora. A cada momento, um novo espetáculo seu e uma nova proposta, absolutamente diversa, sempre criativa. Segunda abertura: Imobilhados é um verdadeiro tour de force de encenação, e que se torna ainda mais admirável quando se descobre que são apenas quatro atores que se multiplicam em pelo menos nove personagens, numa rapidez e numa incorporação concreta, de absoluto convencimento, que nos deixa a todos admirados, ao longo de cerca de uma hora e meia de duração do espetáculo.
Imobilhados tem, no título, a composição de duas ideias complementares: a imobilidade - falta de movimento - e o ilhamento - o isolamento dos personagens. Na cena aberta da Álvaro Moreyra, um corte transversal nos apresenta diversos apartamentos de um prédio. No meio do cenário, um pequenino espaço, marcado pela luz e por um tapete, indica um elevador que, sempre que acionado, mobiliza a contrarregra. Em cada apartamento, uma ilha: os moradores não se conhecem, mas, em geral, se atormentam. Aos poucos, vamos descobrindo, também, seus dramas particulares. Não há palavras. Tudo é caracterizado através da música que cada personagem consome. As máscaras, extremamente expressivas, valem como representações coletivas das figuras particulares.
Vamos encontrando, assim, uma mulher de meia idade, maníaca por limpeza, e que parece ser a síndica do prédio. No outro lado, um velho quase inválido, nostálgico da Alemanha imperialista, ouve marchas militares que atormentam a vizinha de baixo, uma jovem solteirona ansiosa para encontrar um companheiro. No andar do meio, um casal jovem de hippies ganha um bebê que passa a atormentá-los com choro continuado, que só cessará quando o vizinho do térreo toca sua pequena marimba. Neste mesmo espaço, há um solitário músico nativista, igualmente ansioso por companhia, que acaba por adquirir um pequenino pássaro que, no entanto, morre na gaiola em que vive, para tristeza do dono. Por fim, o zelador do prédio, que leva sempre seu radinho portátil, não é um exemplo de disciplina e dedicação, mas é obrigado a aguentar as cobranças da síndica para não perder o emprego.
As rápidas ações que vão caracterizando cada personagem e seu cotidiano se alternam. Assim, as narrativas se constroem, alternadamente. Parecem desvinculadas, mas a morte do passarinho quebra esta impressão, ao menos para alguns dos personagens. Aliás, a morte é o elemento mais dinâmico que acaba por "dar vida" a alguns dos personagens: o músico leva o pássaro para enterrar. Encontra-se com a vizinha casadoira e os dois iniciam um romance. A síndica, de seu lado, recebe, ao que parece, uma carta do médico: ela tem um câncer ou alguma outra doença mortal. Isso a aproxima da jovem casadoira do apartamento do térreo e a torna mais simpática com o zelador. O velho alemão, sempre sozinho, com seus múltiplos remédios e falta absoluta de civilidade, sofre um ataque cardíaco e morre, sozinho, permanecendo insepulto seu corpo (o espetáculo insiste, várias vezes, na solidão do morto). No final, parece que o ciclo vital acionado pela morte começa a reverter, e a solidão volta a rondar os personagens. O músico e a jovem casadoira foram morar no mesmo apartamento, mas parece que sua comunicação se torna problemática. O casal do bebê continua a ter problemas com a criança. A síndica ganha uma cabeleira postiça nova, para esconder os cabelos que lhe caem, mas continua triste. Enfim, a imobilidade e o ilhamento parecem voltar a envolver os personagens.
O espetáculo, já disse, é um tour de force. O elenco é preciso, com gestualidade eficiente e expressiva. A trilha sonora de Caio Amon traduz à perfeição cada uma das figuras. A cenografia de Rodrigo Shalako é dinâmica. A iluminação de Fabiana Santos dá ritmo ao trabalho. Os figurinos de Liane Venturella caracterizam eficientemente cada personagem. O grupo Máscara em cena apresenta uma artesania admirável, porque as máscaras, embora sem articulação, parecem viver aplicadas aos rostos dos atores, elas se expressam à perfeição. Imobilhados é uma renovação de nossa cena, um espetáculo inteligente, sensível, tocante e provocativo, a nos cativar pela sua qualidade e a nos desafiar pela proposta de reflexão que apresenta.
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