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LIVROS

- Publicada em 27 de Junho de 2017 às 20:16

O Líbano no Brasil

Todos sabemos que o Líbano se transferiu em peso para o Brasil. Esta é a sensação de muitos libaneses que agora vivem por aqui. Na 32ª Bienal de Arte de São Paulo, o artista libanês Rayyane Tabet disse que, desde a sua infância, imaginava que no Brasil cada libanês tinha um sósia que poderia salvá-lo e que, no final das contas, os libaneses "daqui" resgatariam os libaneses de "lá".
Todos sabemos que o Líbano se transferiu em peso para o Brasil. Esta é a sensação de muitos libaneses que agora vivem por aqui. Na 32ª Bienal de Arte de São Paulo, o artista libanês Rayyane Tabet disse que, desde a sua infância, imaginava que no Brasil cada libanês tinha um sósia que poderia salvá-lo e que, no final das contas, os libaneses "daqui" resgatariam os libaneses de "lá".
O território libanês é pequeno, minúsculo. Esteve e ainda está envolvido por muitas desditas e desventuras e também os brasileiros sentem a presença libanesa avassaladora e a grande presença da colônia libanesa, qualitativa e quantitativamente falando. No comércio, na indústria, política, finanças, medicina e culinária, entre outras áreas, os libaneses estão presentes. Nas ciências humanas, de modo geral, entre historiadores, antropólogos, atores, autores, linguistas, gramáticos, jornalistas e escritores figuram com destaque os libaneses e seus descendentes.
Arabia Brasilica (Ateliê Editorial, 166 páginas, tradução de Letizia Zini Antunes e Valéria Vicentini), do professor Alberto Sismondini, subdiretor do Centro de Línguas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, trata de alguns grandes escritores brasileiros de origem libanesa ou com ela relacionados, como Jorge Amado, Alberto Mussa, Michel Sleiman e mais especialmente Salim Miguel, Raduan Nassar e Milton Hatoum. Alberto tem estudado com profundidade a literatura brasileira e principalmente investigado sobre autores brasileiros de origem libanesa. Ele é autor do ensaio I Cedri del Sertão, publicado na Itália.
Os "turcos" e suas representações na literatura brasileira é tema abordado no livro e relacionado com Carlos Drummond, Guimarães Rosa e Jorge Amado. A emigração libanesa contada no Brasil fala de Ana Miranda e do livro Amrik.
O ensaio mais importante do volume aborda três grandes escritores brasileiros de origem libanesa. Salim Miguel, autor de Nür na escuridão, a história de sua família marcada pela diáspora; Milton Hatoum, nascido na Amazônia e autor de Relato de um Certo Oriente e Dois Irmãos; e Raduan Nassar, autor de poucos livros, mas de grande repercussão, como Lavoura arcaica e Copo de cólera.
O autor analisa profundamente a obra dos três grandes autores, relaciona-as com outras obras de ficção e de crítica literária e apresenta estudos de outros especialistas, como Leyla Perrone-Moisés, que estudou Lavoura Arcaica e o candente tema do incesto. Com o estudo do autor, às três Arábias do mundo clássico acrescenta-se, então, uma Arabia Brasilica, que dá título à obra.
Diante da importância da colônia libanesa no Brasil e do porte de escritores de origem libanesa, deve ser saudada a obra.

lançamentos

  • Correr com Rinocerontes (Não-Editora, 290 páginas), do escritor e professor Cristiano Baldi, romance bem estruturado, com temática forte e linguagem criativa, narra sobre as andanças de um gaúcho que volta de São Paulo para enfrentar problemas familiares no Sul.
  • Victória - Uma saga italiana no interior do Rio Grande (AGE Editora, 478 páginas), da atriz e bailarina porto-alegrense Ana Guasque, é um grande e denso romance sobre uma família imigrante italiana que deixou como legado uma cidade no Pampa: Chiapetta.
  • O Um - inquérito parcial sobre o caso Ingo Ludder (Editora Bestiário, 160 páginas), do sociólogo e escritor Antonio D. Cattani, traz uma sedutora e movimentada novela policial. Na contracapa, uma frase para alertar e instigar os leitores: "e se isto não for uma ficção?".

Rua da Praia, 27/06/2017

Eu não ia escrever sobre a Rua da Praia, mas a conheço há mais de 60 anos. Caminho por ela três ou quatro vezes por semana, e ela pediu encarecidamente ao modesto cronista que falasse com ela. Então achei melhor não a contrariar e cumprir minha tarefa de biografar o cotidiano com todo o prazer e sem cobrar mais caro por isso.
Me conta a Rua da Praia que o Carlos Reverbel disse que ela está enterrada no belo livro de Nilo Ruschel, que tem foto em cores de seus paralelepípedos na capa. Ela me disse que os dois queridos é que estão enterrados. A Rua da Praia disse que não gostou muito quando o Iberê Camargo falou que ela revelava o achinelamento nacional, mas o perdoou e reza por sua alma.
A Rua da Praia, ou Andradas, para os oficiais, me conta que já foi moça e mulher vestida com roupas elegantes, joias finas, artigos de luxo e frequentadora de lojas, restaurantes, bares e confeitarias requintados. Hoje, me diz ela, me sinto mais popular, democrática, diversa e meu comércio gira em torno de farmácias, telefones, moda mais básica, spinners e outras mercadorias vendidos por camelôs. Os camelôs, ou melhor, vendedores ambulantes, mesmo quando estão parados e não deambulam, seguem na Rua da Praia, vendendo roupas novas e usadas, brinquedos, acessórios para telefone, chapéus, livros e dezenas de coisas mais.
Os músicos da Rua da Praia, me conta ela, nunca tiveram nível tão alto e seguem a antiga tradição de se apresentarem no palco mais digno que existe: na praça e na via pública, para deleite de muitos passantes.
A Rua da Praia me diz que não pretende morrer tão cedo e que torce por revitalizações diversas, especialmente a do cais Mauá. Me diz a Rua que gostaria de mais companhia de noite e aos fins de semana, e que sonha com mais moradores e atividades profissionais no Centro Histórico.
Não sou saudosista e não me sinto diminuída por contar agora com passantes mais populares e comércio mais modesto, diz a Rua da Praia, que segue viva e torcendo para que os escritórios, lojas e apartamentos desocupados sejam logo alugados, dando mais movimentação e energias ao local.
A Rua da Praia me disse que não tem ciúmes da Padre Chagas, sua irmã mais moça e de menor extensão, que hoje se tornou o vale do silicone e conta com menobares - rincões do climatério, calçadas da fama e da grana e outras firulas. A Padre é outra praia, é outra passarela, me disse a Andradas, com sua majestade antiga e sua história incomparável.
Hoje, 27/06/2017, a Rua da Praia me ofereceu momentos felizes e surpreendentes. No edifício número 1.512, ocupado pela Associação Nacional de Aposentados pela Previdência Social (Anapps), às 15h, no térreo, estavam aposentados cantando e dançando, inclusive contando com uma rainha com faixa e tudo. Toda terça tem festa, das 14h às l6h, para alegria de muitos que se divertem e esquecem de suas dificuldades de aposentados pelo INSS. Sinto-me feliz com isso, disse a Rua da Praia.

a propósito...

A Rua da Praia disse que aguarda, ansiosamente, pelo dia do conserto do piso de basalto e pelas obras de revitalização previstas pela prefeitura. Disse que quer seguir democrática, plural, popular, diversa e única, especialmente na esquina democrática, palco livre de todos para variadas manifestações, políticas, musicais, comerciais e outras que a cidadania achar conveniente. A Rua da Praia pede que tudo seja feito na Santa Paz, que é o melhor para todo mundo.
A Rua da Praia deu tchau pedindo para eu não desaparecer, mesmo que deixe de trabalhar no Centro. Disse que gosta muito da gente, que sem as pessoas se sente tão sozinha como um pé de sapato sem o outro, como disse o Mario Quintana, que ainda caminha por ela.