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RESPONSABILIDADE SOCIAL

- Publicada em 27 de Junho de 2017 às 15:08

Na batida do martelo

Mobilização do grupo Rafuagi e da Ache busca tornar realidade o espaço de acolhimento de jovens

Mobilização do grupo Rafuagi e da Ache busca tornar realidade o espaço de acolhimento de jovens


JONATHAN HECKLER/JONATHAN HECKLER/JC
Há quatro anos e meio, integrantes do grupo de rap gaúcho Rafuagi e parceiros resolveram mobilizar Esteio e batalhar por um espaço dedicado ao hip-hop no município, onde seriam oferecidos cursos gratuitos relacionados ao gênero musical a jovens em situação de vulnerabilidade. Criaram a Associação da Cultura Hip-Hop de Esteio (Ache) e submeteram, em 2013, o projeto à votação em Consulta Popular, mecanismo do governo estadual em que a população elege prioridades em diferentes áreas. Mesmo com votação expressiva, não receberam o repasse do poder público a que tinham direito, o que frustrou os associados e demais pessoas que apostaram na ideia para mudar a vida na comunidade.
Há quatro anos e meio, integrantes do grupo de rap gaúcho Rafuagi e parceiros resolveram mobilizar Esteio e batalhar por um espaço dedicado ao hip-hop no município, onde seriam oferecidos cursos gratuitos relacionados ao gênero musical a jovens em situação de vulnerabilidade. Criaram a Associação da Cultura Hip-Hop de Esteio (Ache) e submeteram, em 2013, o projeto à votação em Consulta Popular, mecanismo do governo estadual em que a população elege prioridades em diferentes áreas. Mesmo com votação expressiva, não receberam o repasse do poder público a que tinham direito, o que frustrou os associados e demais pessoas que apostaram na ideia para mudar a vida na comunidade.
Por anos, o sonho esteve ofuscado, até que uma aposentada de 78 anos, a dona Flora Acadorli, proprietária de um imóvel próximo a BR-116, aceitou assinar um contrato de comodato com a associação, em fevereiro deste ano, e ceder o uso do espaço por cinco anos, renováveis. Não utilizado pela família, o imóvel foi alvo de invasões, furtos e vandalismo nos últimos meses, motivando dona Flora a apoiar o projeto e dar novos ares ao local. É ali que está nascendo a primeira Casa da Cultura Hip-Hop no Estado - que, quando estiver concluída, também será a maior do Brasil em área, com mais de 1,5 mil metros quadrados. "Uma senhora de mais de 70 anos conseguiu perceber a importância da cultura hip-hop e desse projeto que político e empresário nenhum tinha visto antes", afirma Rafael Diogo dos Santos, o Rafa, do Rafuagi, de 28 anos.
Hoje, a casa na rua José Guimarães, número 203, é um canteiro de obras. No pátio de entrada, um grande bloco de concreto indica onde ficará a loja da Ache, cuja renda deve viabilizar a manutenção do espaço no futuro. A fachada, que será toda grafitada, é uma tela em branco, exceto pelas duas janelas no segundo andar e a massa cinzenta no meio delas, onde antes estava uma terceira abertura.
Ao entrar no imóvel, somente é possível definir onde fica cada atividade nos dois andares pelos nomes colados às portas - graffiti, MC, DJ, biblioteca e coworking, hostel, atendimento psicossocial, centro de inclusão digital. Para a biblioteca, o grupo já tem alguns livros e acervo de jornais doados, mas espera arrecadar mais exemplares nos próximos meses. Eles negociam, por exemplo, com uma professora gaúcha que tem mais de 30 mil livros em casa. A área de informática, por outro lado, está mais encaminhada, a partir da doação de 35 computadores, 35 cadeiras e 35 mesas pelo Banrisul. Outro local que promete ganhar alta procura na casa é o estúdio, que servirá não só para o hip-hop, mas também para artistas de outros gêneros musicais que desejam criar trabalhos independentes. Por fim, ao lado dessa sala, no que atualmente é uma sacada, eles pretendem criar um hostel para acomodar artistas e parceiros da Casa Hip-Hop depois de eventos.
A parte mais corajosa da obra, porém, acontece no extenso terreno dos fundos. A associação projeta uma área de jardinagem, até seis contêineres para abrigar salas temáticas e operação de empreendimentos, horta comunitária, academia ao ar livre e a tão esperada quadra poliesportiva, com arquibancada para 200 pessoas, que também deve receber estruturas móveis para campeonatos de skate.
A reforma é exclusivamente tocada por voluntários, e os coordenadores acreditam que seja necessário em torno de R$ 30 mil para terminá-la - verba que esperam receber via doações espontâneas, destinação por leis de incentivo, recursos de Termos de Ajustamento de Conduta (TAC) a instituições de interesse público e eventos próprios. Eles também lançaram, recentemente, uma campanha no Facebook (facebook.com/cchesteio) para arrecadar 180 sacos de cimento para a construção da quadra. Aceitam ainda doações de tijolos para fechar a área que falta no segundo andar e também novos voluntários para o trabalho - será anunciado em breve um dia de mutirão. "O que tiver sobrando em casa, pode trazer", brinca Rafa. "A galera não aguenta mais de ansiedade, quer ver pronto."
A data de inauguração foi fixada em 19 de agosto, quando a Casa da Cultura Hip-Hop de Esteio passará a atender os adolescentes, de 15 a 18 anos, nas oficinas de teatro, boxe, capoeira, cinema, MC, DJ, beatmaker, breaking e graffiti. Os cursos terão duração de 10 meses, separados em quatro módulos, e ocorrerão sempre no contraturno escolar. Após a inauguração, o grupo irá a escolas públicas e vilas convocar estudantes às atividades. Depois, eles farão uma triagem, com base em questionários, dando preferência aos jovens em situação mais difícil e com famílias desestruturadas. "Queremos combater o ócio improdutivo com algo positivo", diz Rafa. "Mas não é só a questão lúdica, queremos profissionalizar", completa o coordenador financeiro da Ache, o técnico em mecânica Alan Bitello, 30 anos. Quando estiver em funcionamento pleno, o grupo espera atender 4 mil pessoas por mês, transformando o local em uma fábrica de novos talentos.

Conheça a Casa da Cultura Hip Hop de Esteio

Oficina de DJ
Aulas teóricas e práticas com equipamentos profissionais, como toca-discos e mixer. Abordará também a história da cultura hip hop no mundo.
Oficina de Beatmaker
Ensinará o básico em produção musical de rap e o uso de plataforma profissional, em aulas teóricas e práticas. Não será necessário conhecimento prévio para participar.
Oficina de Breaking
Mostrará técnicas de dança, variações coreográficas, exercícios e dinâmicas em conjunto, abordando também a origem da atividade.
Oficina de MC
Aulas teóricas e práticas de leitura e construção de poesias, acréscimo de ritmo, técnicas de rima, interpretação de texto, escrita, oratória e dicção.
Oficina de Graffiti
Teoria e prática do uso de lápis, borracha, diversos tipos de papel, caps, tinta spray, tinta à base d’água, esmalte sintético e óleo.
Sala Multiuso
Abrigará oficinas de teatro, cinema e boxe, além de funcionar como sala de conferências e reuniões.
Atendimento psicossocial
Identificação e acolhimento, entre os jovens, de vítimas de algum tipo de violência. Atividade desempenhada por profissionais da área.
Centro de Inclusão Digital
Sala de computadores e equipamentos para consulta e elaboração de trabalhos escolares, favorecendo a democratização do acesso à internet.
Biblioteca e Coworking
Acervo para consulta e empréstimo de livros, em um ambiente que promova a troca de conhecimento. Também local para reuniões de iniciativas diversas.
Área ao ar livre
Composta por quadra poliesportiva, área de jardinagem, horta comunitária, vila de empreendimentos e academia simples.
Loja da Ache
Venda de artigos relacionados ao hip hop, com parte das vendas revertida à manutenção do local.