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Gestão

- Publicada em 19 de Junho de 2017 às 08:48

Lidar com frustrações ajuda a enfrentar obstáculos

Após diversas tentativas de adaptações, Barboza virou o jogo para manter o Cumbuca Bistrô, espaço que reúne um restaurante e uma padaria

Após diversas tentativas de adaptações, Barboza virou o jogo para manter o Cumbuca Bistrô, espaço que reúne um restaurante e uma padaria


MARCO QUINTANA/JC/MARCO QUINTANA/JC
Ainda que reconhecer quando um negócio está saturado seja importante para evitar consequências piores, quem opta por empreender, em qualquer ramo, precisa lembrar que desistir nem sempre é o caminho quando tudo parece estar dando errado. Pelo contrário, persistência e paciência são fundamentais quando surgem os piores obstáculos. Mas não se deve confundir resistência com apego e teimosia. "É preciso ter uma certa frieza para se afastar do negócio que se construiu a partir de um sonho pessoal e se colocar de fora para analisar o contexto", comenta o gestor da Raiar - Ambiente de Desenvolvimentos de Startups da Pucrs -, Leandro Pompermaier.
Ainda que reconhecer quando um negócio está saturado seja importante para evitar consequências piores, quem opta por empreender, em qualquer ramo, precisa lembrar que desistir nem sempre é o caminho quando tudo parece estar dando errado. Pelo contrário, persistência e paciência são fundamentais quando surgem os piores obstáculos. Mas não se deve confundir resistência com apego e teimosia. "É preciso ter uma certa frieza para se afastar do negócio que se construiu a partir de um sonho pessoal e se colocar de fora para analisar o contexto", comenta o gestor da Raiar - Ambiente de Desenvolvimentos de Startups da Pucrs -, Leandro Pompermaier.
Se o problema é sazonal ou peculiar ao momento, ou se o que interfere é uma mudança no mercado, pode-se observar as lacunas e oportunidades com informações que vão além da empresa afetada - uma vez que também impactam as demais do segmento. "Ao enxergar o contexto, é possível tomar a decisão de criar um novo produto ou serviço (o que é sempre um risco, porque pode não ser bem aceito), abrindo mão de outro que pode até ter obtido sucesso em um primeiro momento - mas deixou de render ou se estabilizou - e surfar uma nova onda", observa o gestor da Raiar. O especialista avalia que "sempre se tem como dar a volta por cima". "Basta acreditar, ser mais estrategista nas ações, e não se apegar na ideia original; mas, sim, capturar o que nela tem de bom e adaptá-la."
Para empreendedores que desenvolvem algum projeto em que percebam sinais de que o negócio não está no rumo certo (ou que algo está dando errado de fato), avaliar se o caminho percorrido é o melhor é, sem dúvida, o primeiro passo a ser dado, na opinião da psicóloga e coach executivo Luciana Saldanha. "É preciso fazer uma crítica e rever as estratégias, para confirmar se há ou não algum equívoco", explica. "E se não há erro, sempre é bom lembrar que, às vezes, as coisas demoram para engrenar", sugere Luciana.
Os proprietários do Cumbuca Bistrô, localizado no bairro Bom Fim, em Porto Alegre, passaram por todas estas etapas - não necessariamente nessa ordem. O casal de sócios-proprietários Alexandre Rodrigues Barboza e Jaqueline da Silva Zanini acabou usando a estratégia da aposta em outro nicho, após diversas tentativas de adaptações do negócio inicial. Na época, o faturamento estava em torno de R$ 13 mil por mês. Durante os dois primeiros anos de operação, a empresa alcançou um pico de atendimento "interessante", mas ainda longe do ideal, comenta Barboza. "Entre sábados e domingos, atendíamos de 100 a 120 pessoas em um espaço pequeno, era uma loucura."
A comida era servida em cumbucas (tanto a entrada, quanto o prato principal), e havia quatro opções no cardápio, que mudavam a cada dois meses. "Logo, o movimento começou a diminuir, então resolvemos aumentar para sete o número de opções no cardápio e agregamos um Prato do Dia, mas sem surtir muito efeito", recorda Barboza, ponderando que esta iniciativa "ao menos" fidelizou clientes. "O problema é que estávamos servindo apenas 15 a 20 almoços por dia. Ao longo do período, tentamos servir café da manhã e da tarde, além de abrir em horário de happy hour - mas sempre sem muito resultado", confessa o empreendedor.
Foi quando os sócios decidiram fazer uma última tentativa, antes de desistir do negócio, e compraram a ideia de um funcionário da casa, que tinha experiência em padaria. O resultado surpreendeu: as vendas explodiram, e hoje o negócio fatura de R$ 60 mil a R$ 70 mil por mês. A coach Luciana Saldanha destaca que todo empreendedor, ao abrir um negócio, tem que contar também com a hipótese de que as coisas não andem da forma desejada. "Rever estratégias e posicionamento pode ser o melhor caminho para lidar com os obstáculos externos", observa Luciana. Para ela, a questão da persistência está bastante vinculada à tolerância ao lidar com a frustração. "É muito comum empreendedores passarem por dificuldades no início do negócio. Em geral, é na segunda ou terceira tentativa que a empreitada vai dar certo", sinaliza.

O ideal é sempre ter um 'plano B'

Castro, Fontanella e Bueno, empreendedores da Petjog, optaram por produto que o mercado estivesse pronto para consumir

Castro, Fontanella e Bueno, empreendedores da Petjog, optaram por produto que o mercado estivesse pronto para consumir


Fredy Vieira/FREDY VIEIRA/JC
Se, mesmo com muito esforço, as coisas não engrenam em um negócio, continuar insistindo passa por saber lidar também com as expectativas, avalia o especialista em negócios on-line e idealizador do site Empreendedor Digital, Bruno Picinini. "Isso ajuda muito na hora de ter persistência; pois, só porque a pessoa vai criar um novo negócio, produto ou campanha, não significa que já vai conquistar o mundo vendendo milhões na primeira oferta. Isso raramente acontece", reforça. Conforme Picinini, o processo inclui cometer erros e tentar outra vez. "O ideal é sempre alinhar as expectativas e ter um plano B. Caso alguma coisa não saia como planejado, o empreendedor não ficará estagnado, remoendo o problema."
Outra dica de Picinini é olhar o erro como um teste, "porque, afinal de contas, é isso que é. Foi algo que se tentou, e que não deu certo". Sempre ter uma visão de longo prazo é outra sugestão do especialista. "Antes de desistir perante as dificuldades, o empreendedor deve pensar como será sua vida daqui a cinco ou 10 anos. "Talvez ele se veja de volta ao mesmo emprego que deixou, porque não gostava", comenta. Dedicar tempo para fazer um levantamento de como está a situação da empresa deve ser o primeiro passo, orienta a gestora de atendimento do Sebrae na regional Sinos, Cai e Paranhana, Bia Dauber.
"Fazer diagnóstico para identificar os gargalos e oportunidades de melhoria, analisar os números, as vendas, a gestão e os custos fixos são tarefas fundamentais." A gestora afirma que a maioria (60% a 70%) dos empreendedores atendidos pelo Sebrae detecta um gargalo no setor financeiro. A entidade oferece visita gratuita para micro e pequenas empresas, enviando um técnico para fazer levantamento do perfil de negócio e dar um direcionamento para empresários. Todo processo é gratuito.
Seja como for, tem que ter força e fôlego para fazer a mudança, destaca o gestor da Raiar - Ambiente de Desenvolvimentos de Startups da Pucrs, Leandro Pompermaier. "Depende muito de como o próprio empreendedor se preparoui para a fazer a mudança." O especialista afirma que é muito comum acontecer com startups o entendimento de que será preciso buscar uma "alternativa B" o mais rápido possível, quando há percepção que não há demanda no mercado.
Foi o caso dos sócios Artur de Castro, Rodrigo Bueno e Bruno Fontanella, que trabalham na startup Petjog há três anos. Após uma pesquisa com 287 pessoas, o trio foi testar no mercado um brinquedo eletrônico para cães e gatos. "A ideia era uma caixa alocada na parede, com um fio que ficaria se movimentando, e com o qual o cachorro brincava", explica Castro. O objeto teria formato de bola com movimento para todos os lados, diversos tipos de sons, luzes e até mesmo cheiro. "Não deu certo, porque precisava de muitos recursos", admite o empreendedor. Ainda assim, os sócios tentaram seguir com a proposta "por um bom tempo". "Mas não tínhamos o capital necessário (em torno de R$ 1 milhão); e, para fazer empréstimo, o crédito, além de caro para inovação, exigia garantia - e nenhum de nós tinha bens para cobrir."
Para piorar, havia outra dificuldade: "comercializar um produto muito inovador em um mercado que está engatinhando", explica Castro. Os empreendedores chegaram a fazer um protótipo, que ainda não evoluiu por falta de recurso para desenvolver a parte eletrônica mais apurada e a fabricação em escala do produto. Antes de detectarem que não poderiam seguir com a ideia naquele momento, o trio tentou empréstimos, investimento-anjo e várias aceleradoras. Mas os recursos que conseguiam eram pequenos e não suportavam o valor do projeto. "E quando alguém oferecia valor grande, a proposta não era vantajosa", explica Castro, admitindo que, em algumas vezes, ele e os dois sócios chegaram a pensar em desistir. "Quando há uma série de dificuldades, desmotiva, vai abalando os ânimos."
Mas quando os empreendedores da Petjog decidiram mudar o plano e lançar um produto que o mercado estivesse pronto para consumir (e que seria mais fácil de expandir), o jogo virou. Desenvolveram outro brinquedo: uma bola com base feita de material de blindagem de carro, onde é possível colocar ração dentro, para que, na medida em que o pet balance o objeto, seja recompensado com petisco.
Hoje, o produto é vendido em nove estados brasileiros. "Agora, estamos laçando uma versão com preço mais competitivo, e nosso objetivo é partir para exportações das duas linhas no ano que vem", projeta Castro. Quanto à ideia original, o empreendedor afirma não ter abandonado. "Estamos esperando para quando o mercado estiver pronto." O trio segue com o projeto e já conseguiu reunir R$ 550 mil através de editais públicos (Sesi/Senai Inovação; Sebrae Inova; e Design Export). "Estamos com o desenvolvimento alinhado. Daqui a dois meses, iremos buscar mais capital para expandir mais rápido a nossa área comercial", projeta Castro.

Processo de mudança exige esforços e criatividade para novas propostas

Os obstáculos à continuidade do Cumbuca Bistrô iniciaram no terceiro ano de negócio, quando o fluxo de clientes do restaurante caiu "consideravelmente", ficando muito abaixo do necessário para fazer o capital girar. "Trabalhamos um ano inteiro no vermelho, mas sempre na esperança de que as coisas iriam melhorar", conta o sócio-proprietário Alexandre Barboza. A proposta que norteava o negócio era um cardápio de almoço preparado com produtos mais nutritivos e saborosos. No início, o espaço abrigava 26 lugares.
Antes de passar a oferecer pães - também feitos com produtos diferentes do convencional, seguindo o conceito da proposta inicial -, o processo de mudança exigiu esforços. Mesmo no vermelho, os sócios contrataram uma consultoria do ramo, especializada em fermentação natural; realizaram uma série de testes de receitas; e investiram mais R$ 8,5 mil na compra de forno, masseira e armário de crescimento para os pães. Isso foi em meados de 2015, e até hoje a dupla continua procurando melhorar o produto. "Buscamos constante especialização. Estou iniciando um curso de fermentação natural", comenta Barboza. Ele acredita que teve mérito ao não se acomodar e ao ouvir a sugestão do funcionário Alessandro Paz Machado, que atualmente é responsável pelo setor de padaria.
Em junho de 2015, quando começou a venda dos pães, o almoço do Cumbuca Bistrô era servido até as 14h30min, quando a equipe do restaurante modificava a estrutura do espaço, para poder expor os produtos. "No início, a gente precisava recolher as mesas, pois bastava duas para disponibilizar as cestas com cinco tipo de pães", destaca Barboza. Mas, segundo o empreendedor, logo foi preciso começar a aumentar o volume da produção, e em dois meses já eram 20 tipos de pão, dispostos em cestas que ocupavam oito mesas.
"Foi uma explosão. Desde o primeiro dia, vendemos muito, aliás, vendemos tudo. Começamos a quase não dar conta, e foi muito rápido o resultado", recorda. Em um ano, a empresa cresceu e passou a acumular filas diárias, com cerca de 20 pessoas em média, aguardando por atendimento. Logo foi necessário investir outros R$ 8 mil para a aquisição de uma masseira maior. "A máquina inicial era pequena, suportava sete quilos de massa. Mas, em dois meses, quando vimos que estávamos o dia inteiro batendo massa, sem dar conta, compramos uma maior, para 25 quilos."
Contando com produção diária, o Cumbuca Bistrô hoje tem como carro-chefe o que foi implementado como um negócio secundário. O almoço ainda faz parte do contexto, mas, neste caso, a demanda continua na mesma média: de 15 a 20 almoços por dia. Apesar disso, os sócios não pensam em extinguir este serviço. Pelo contrário: preocupam-se atualmente em trabalhar, a partir do mês que vem, na área de confeitaria, com produção de doces e salgados, para oferecer uma maior variedade à clientela.
Atualmente, a casa oferece alguns produtos do gênero: além dos pães, é possível optar por pizzas, empadas, tortinhas de limão e de banana, e sonhos. "Dificilmente, sobra alguma coisa", garante Barboza, que, em novembro do ano passado, alugou um apartamento de 100 metros quadrados no andar de cima do restaurante, onde agora funciona a linha de produção da empresa. Em seguida, injetou em torno de R$ 80 mil na reforma da área de baixo, na construção de uma escada, implementação de um elevador e compra de mais equipamentos.