Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Partidos

- Publicada em 28 de Maio de 2017 às 22:23

Queda de Aécio é brecha para novas lideranças

Aécio Neves está afastado do cargo por determinação do STF

Aécio Neves está afastado do cargo por determinação do STF


EVARISTO SA/AFP/JC
De quase presidente do Brasil no segundo turno das eleições de 2014, com uma diferença para sua oponente de menos de 3,5 milhões de votos, o senador mineiro Aécio Neves (PSDB) viu sua imagem política se esfacelar nas últimas semanas, sob o peso da delação do empresário Joesley Batista e da gravação em que o senador lhe pede R$ 2 milhões em propina.
De quase presidente do Brasil no segundo turno das eleições de 2014, com uma diferença para sua oponente de menos de 3,5 milhões de votos, o senador mineiro Aécio Neves (PSDB) viu sua imagem política se esfacelar nas últimas semanas, sob o peso da delação do empresário Joesley Batista e da gravação em que o senador lhe pede R$ 2 milhões em propina.
Sem apoio de seus pares, afastado do cargo e com um pedido de prisão expedido pela Procuradoria-Geral da República pendente de análise no Supremo Tribunal Federal (STF), a possibilidade de recuperação de Aécio é mínima, na opinião dos cientistas políticos Rafael Madeira, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), e Rodrigo Stumpf González, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). "Será muito difícil ele se reerguer", avalia Madeira. "São questões muito pesadas, porque ali (na delação) a gente saiu de um cenário de caixa-2 para um outro patamar", diz, mencionando o envio do dinheiro a uma empresa ligada a seu companheiro de partido, o senador Zezé Perrella (MG), e à menção de matar o primo que faria a entrega do dinheiro pedido a Joesley Batista.
Para Rodrigo González, "praticamente uma geração inteira do partido está sendo ceifada". Para ele, o único nome de maior peso que "ainda não está totalmente envolvido" em denúncias é o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. "Ele está sobrevivendo, em um certo sentido, como liderança viável". Por outro lado, González acredita que o momento é de oportunidade para lideranças mais novas que as anteriores, não só como o atual prefeito de São Paulo, João Doria Júnior, como também para Nelson Marchezan Júnior, prefeito de Porto Alegre. "Marchezan e Doria, que podiam esperar uma carreira de poder crescer no partido daqui a 10 anos, 15 anos, de repente, podem começar a se considerar alternativas, se não na próxima eleição, em pouco", analisa.
Cauteloso, Madeira só vê o sucesso de novas lideranças ocorrendo em um cenário "otimista". "Se não se queimarem na administração das prefeituras, tanto um quanto outro podem ascender a um posto de maior protagonismo nacional em função desse vazio de lideranças nacionais, já que todas elas estão sendo mais ou menos chamuscadas por esses escândalos", avalia.
Para Madeira, a delação que expôs Aécio e as denúncias que também envolvem o ex-ministro das Relações Exteriores José Serra - também outro nome tradicional do PSDB nas disputas presidenciais - retira dos tucanos o discurso da ética e da moral que os colocavam no campo partidário oposto ao PT, e dá a figuras como Doria, ou até o expoente da extrema-direita Jair Bolsonaro (PSC), a chance de crescer. "Em um contexto em que se tem mais de 20 anos de polarização entre PT e PSDB, eles têm espaço para construir uma imagem do novo no sentido de sair dessa polarização."

Tucanos da 'ala jovem' pedem renúncia de Aécio Neves para acabar com 'caciquismo' na sigla

Antes leais ao presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, que vê sua imagem política combalida em meio a uma delação contundente envolvendo seu nome, os quadros tucanos em ascensão na cena política nacional querem aproveitar para acabar com a era do "caciquismo" tucano. Os chamados "cabeças pretas" do PSDB pregam agora teses que vão da refundação do partido às eleições diretas para eleger o novo líder da legenda.
Esse grupo, que é formado pela "ala jovem" do PSDB na Câmara e prefeitos eleitos no ano passado, também defende o desembarque imediato do governo Michel Temer (PMDB) e a renúncia definitiva de Aécio do comando - o senador foi afastado após as denúncias da JBS. Durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT), foram eles que assumiram a linha de frente do partido pressionando os caciques para dar apoio à saída da petista. "Se o PSDB não mudar, será confundido com os demais partidos e vai se afundar", disse o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior, que disse ver espaço para disputa interna.
Aos 45 anos, o gaúcho é um dos principais representantes dos "cabeças pretas". Ele avaliou que o eleitorado está em busca de um novo perfil de político. "Quem não mudar ou ficar em cima do muro vai cair dele. As pessoas querem ter em quem confiar. Querem menos ideologia e mais resultado", afirmou.
É a mesma posição do prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa, de 38 anos, reeleito em primeiro turno no ano passado com 77% dos votos. Ele defende a participação da base em qualquer tipo de escolha. "Político com medo de disputar eleição não serve para estar na vida pública. Defendo eleição interna direta. A base deve ser ouvida e os filiados devem participar", disse.
Ainda mais novo, com 37 anos, deputado licenciado Bruno Covas, vice-prefeito de São Paulo, disse que a renovação necessária ao PSDB já está em andamento e sob o comando da ala jovem do partido. "Acredito que, em função do atual momento, essa troca de bastão pode ser acelerada. É o que o eleitor quer, políticos mais conectados com a realidade e abertos ao contato constante pelas mídias sociais", afirmou.
Segundo ele, a prorrogação do mandato de Aécio (sem uma convenção nacional), no ano passado, foi equivocada. "Podemos rever essa decisão, ao meu ver, e, passado esse turbilhão, temos de antecipar essa renovação da direção partidária no segundo semestre."
Para o deputado federal licenciado, Floriano Pesaro, de 49 anos, a nova geração tucana está pronta para assumir o comando. "É hora de trocar, os mais jovens têm de assumir o protagonismo", disse o atual secretário estadual de Desenvolvimento Social.
Aos 42 anos, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, afirmou que "é o momento de o PSDB renovar a Executiva e aproveitar para oxigenar o partido". Sua avaliação é de que Aécio não tem mais condições de continuar na presidência do partido, ainda que afastado, devendo renunciar. Mesmo que isso ocorra, porém, a chance de "diretas já" dentro da legenda ainda está longe de ser viabilizada.
Mas, de acordo com o deputado federal Otávio Leite, presidente do PSDB-RJ, não apenas o comando deve mudar, mas o estatuto, considerado por ele do "século passado".