Estágios para pessoas acima de 50 anos e programas para aposentados mostram que há uma mudança de paradigmas

O mercado de trabalho não tem idade


Estágios para pessoas acima de 50 anos e programas para aposentados mostram que há uma mudança de paradigmas

Poder de escolha define Celso Meirelles, 72 anos. O bancário, natural de Bagé e aposentado há duas décadas, decidiu que sua idade não significaria o fim da carreira profissional. Ele é um dos participantes do programa Senhor Orientador, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que reintegra em seu quadro pessoas de instituições bancárias e experientes no mercado de concessão de crédito. É uma das iniciativas brasileiras que colocam diferentes gerações para desenvolverem projetos juntos.
Poder de escolha define Celso Meirelles, 72 anos. O bancário, natural de Bagé e aposentado há duas décadas, decidiu que sua idade não significaria o fim da carreira profissional. Ele é um dos participantes do programa Senhor Orientador, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que reintegra em seu quadro pessoas de instituições bancárias e experientes no mercado de concessão de crédito. É uma das iniciativas brasileiras que colocam diferentes gerações para desenvolverem projetos juntos.
O Senhor Orientador abriu 510 vagas no início deste ano, em uma seleção a nível nacional. Após passar por um treinamento oferecido pelo Sebrae, Celso foi contratado.
"Nós temos a função de visitar as empresas que o Sebrae indica para fazer uma análise com relação ao aspecto financeiro", descreve.
A experiência que Celso e outros aposentados tinham na época em que a tecnologia bancária não era tão avançada lhes dá um diferencial agora, quando o computador resolve muitas questões de forma automática. Aos empreendedores, Celso aconselha como e onde buscar crédito, faz a verificação financeira, o fluxo de caixa, o gerenciamento de gestão, entre outros suportes.
E a vontade de continuar na ativa nunca se aposentou da vida do bancário. Antes de integrar a equipe do Sebrae, engordou o currículo. Prestou serviços financeiros para a empresa da filha e outras de pequeno porte de forma independente.
Celso, que mora em Rio Pardo, avalia que a decisão de continuar trabalhando faz parte de seus ideais. Ele percebe que há certa carência em termos de conhecimentos de números entre os donos de negócios - algo que ele domina.
Outro fator motivante é receber cursos do Sebrae, o que resulta, segundo Celso, em uma prestação de serviço de qualidade. Além disso, manter as atividades, para ele, gera prazer e sentimento de realização.
"Eu gosto e vi uma possibilidade de me manter ativo e ajudar a comunidade e as empresas que compõem a minha região. Me sinto muito bem nessa função", afirma. Jornadas mais reduzidas e a liberdade de poder fazer seus próprios horários contribuem para essa satisfação. "Se eu precisar viajar, passear, visitar meus netos que moram em outro estado, não tem problema. Eu administro meu tempo", conta.
O bancário aponta a boa saúde física e mental como resultado de sua rotina profissional. E a questão da mistura de gerações é algo que o encanta. A troca de experiências práticas e sua proximidade com a tecnologia são constantes.
As empresas, conforme o aposentado, devem enxergar os participantes do programa como preparadores. "Não podemos tirar o mercado de trabalho destes jovens. Podemos, sim, ser seus gurus", sugere.

Economista cria plataforma de estágio acima dos 50

Um tabu no mercado de trabalho é a tal "régua". Este é um elemento que aponta a faixa etária máxima de um profissional dentro das empresas. Nos últimos anos, aliás, ela anda bem baixa, fazendo com que trabalhadores a partir de 48 anos sejam trocados por pessoas jovens. Pensando nisso, a economista Maria Glória Yacoub, 50 anos, criou o projeto Estagiário Experiente. A plataforma ficou em sétimo lugar no Torneio Idear, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), em 2016, e atualmente está na fase de mentorias.
A iniciativa foi resultado da percepção de que vários amigos de Maria Glória estavam ficando desempregados por conta da idade. Para piorar, após a demissão, vinha a dificuldade de recolocação.
Com este cenário identificado, ela passou a planejar como poderia colaborar. Sua ferramenta consiste em conectar pessoas com o mercado. O trabalho dela é chegar nas organizações, na área de recrutamento e seleção, e mostrar que os estagiários experientes têm seu valor.
É necessário que a régua da faixa etária suba dentro das organizações, avalia a economista. "A gente tem a porta de entrada dos mais jovens extremamente aberta. E temos a ponta de cima, composta por profissionais mais maduros, que não estão conseguindo se encaixar", afirma.
O contexto da sociedade como um todo mudou, considera Maria Glória, citando que, cada vez mais, se tem filhos tarde. "O filho de uma pessoa que o gera aos 38, 40 anos vai atingir os 20 quando ela tiver 58, 60. Como esse responsável dará suporte para toda a educação - Ensino Fundamental, Ensino Médio e universidade - se vai ser expulso do mercado aos 48 anos?", questiona.
O Estagiário Experiente atuará com plataforma on-line, a qual disponibilizará espaços para publicações, fará a conexão entre empresas e candidatos e oferecerá cursos e workshops, tanto para as organizações quanto para seus integrantes.
A plataforma tem um conceito amplo. Serve para pessoas que nunca estiveram no mercado de trabalho e hoje gostariam de se inserir (como donas de casa), para quem foi demitido ou para aqueles que, com 50 anos ou mais, resolveram dar um novo rumo na vida e ingressar em uma faculdade.
"O Estagiário Experiente ganhou esse nome pois a pessoa que participa está em um novo estágio de vida. A cada momento, a gente reaprende, se reinventa. A vida é um estágio. E experiente porque cada uma agrega suas experiências de vida", descreve.
A novidade vai ser lançada, oficialmente, no final do ano, pois a equipe ainda trabalha em se relacionar com o ecossistema empreendedor gaúcho.
O objetivo é colocar a plataforma definitivamente no ar quando as portas para essa parte da população estiverem realmente abertas para a demanda do Estado. A rentabilidade do novo negócio de Maria Glória virá através dos convênios com universidades, organizações, cursos, espaços para publicidade, entre outros.
"É preciso debater com os dois lados, pois as empresas ainda enxergam a pessoa madura como o preguiçosa, que quer largar tudo e parar, que é resistente à mudança. Existe essa cultura. Deve haver uma renovação de mindset das estruturas empresariais sobre o papel dos mais experientes no mercado de trabalho", ressalta.

Empresa de pesquisa traçará o perfil do novo idoso

Com o intuito de compreender a percepção e a representação social do idoso na sociedade, e a (in)visibilidade dessa faixa etária para e dentro das marcas, a Vitamina Pesquisa, de Porto Alegre, está desenvolvendo um estudo sobre esse grupo. A diretora da empresa, que iniciou suas atividades em 2007, é Luciana Morais, 37 anos.
Segundo ela, ser idoso e ser improdutivo é uma relação com data de validade. Que está vencida, inclusive. Desconstruir alguns estereótipos que permeiam o senso comum é uma das motivações da empresa. Ao perceberem um número cada vez maior de pessoas idosas, ativas e produtivas - em todos os sentidos -, os integrantes da Vitamina buscaram estudar o comportamento desse grupo.
Uma simples constatação fez a pesquisa sair do papel. "Existe vida depois dos 50, 60 anos, sabe?", argumenta Luciana. A diretora comenta que, através de um trabalho anterior, sobre gênero, se chegou ao estudo sobre essa fase da vida, tendo sob ela um olhar mais profundo.
"O Rio Grande do Sul é o primeiro estado do Brasil em porcentagem de população de idosos. Temos em torno de 12%", dimensiona. Questões voltadas à maneira como o poder público enxerga essa população e a representa, se faz ações voltadas a ela e se essas pessoas se sentem inseridas nessa sociedade serão avaliadas.
Para o projeto, a Vitamina formou um time com uma socióloga, uma antropóloga e uma jornalista. As expectativas para o compilado de dados é grande, uma vez que as pesquisas de mercado da Vitamina prometem entregas com leituras sensíveis, próximas e com ferramentas sensoriais, como vídeos e imagens.
Atualmente, o grupo está na fase qualitativa. Em julho, deve ser iniciada a quantitativa. E, a partir de agosto, as conclusões devem ser levadas ao público. A divulgação será feita através de um relatório - cujo link será compartilhado nas redes sociais da marca - e, provavelmente, em um evento.
Esse levantamento não foi contratado por nenhuma empresa, partiu mesmo de uma preocupação interna. "O termo idoso vem carregado de aspectos negativos, como uma pessoa de menor atualização. Queremos colocar luz nessa questão. Por sermos uma empresa de pesquisa de mercado, também temos o dever social de levantar dados e trazer discussões para a sociedade que acreditamos ser relevantes. Ou seja, vamos usar nossa expertise em prol da comunidade", destaca.