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Indústria

- Publicada em 23 de Maio de 2017 às 21:57

Calçadistas apostam em preço e variedade

Fabricantes brasileiros produziram cerca de 920 milhões de pares de calçados em 2016

Fabricantes brasileiros produziram cerca de 920 milhões de pares de calçados em 2016


DINARDI BORGES/DINARDI BORGES/SICC/DIVULGAÇÃO/JC
Em queda desde 2014, a produção de calçados no Brasil tem sentido os efeitos da crise econômica. A retração no consumo, que afeta praticamente todos os setores da economia, traz desafios à indústria calçadista, que busca formas de se adequar ao novo momento. As estratégias entre as empresas variam, mas as principais tendências continuam sendo a redução nos preços e a maior variedade de produtos para atingir uma gama maior de consumidores.
Em queda desde 2014, a produção de calçados no Brasil tem sentido os efeitos da crise econômica. A retração no consumo, que afeta praticamente todos os setores da economia, traz desafios à indústria calçadista, que busca formas de se adequar ao novo momento. As estratégias entre as empresas variam, mas as principais tendências continuam sendo a redução nos preços e a maior variedade de produtos para atingir uma gama maior de consumidores.
Segundo o presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, a expectativa de retomada na demanda sofreu um baque com os novos escândalos políticos na semana passada. "Caso tudo se resolva em no máximo um mês, podemos ter um incremento na demanda a partir de setembro. Antes disso, só com algo não previsto, como um frio muito grande", comenta Klein. O mercado interno corresponde atualmente a 90% das vendas da indústria, que no ano passado produziu cerca de 920 milhões de pares.
Sem poder apostar em um crescimento do bolo, cabe às indústrias brigarem pelas fatias já postas à mesa. A solução encontrada pela Dilly Sports, que produz calçados com as marcas Mormaii, Diadora e Red Bull, por exemplo, passou por um reposicionamento de preços. A empresa com sede em Novo Hamburgo entrou no mercado em 2014, "no meio do turbilhão", como define o gerente comercial Milton de Souza, e foi direcionada pelo próprio mercado. "Nos posicionamos nos pontos de venda com calçados abaixo de R$ 200,00, que possuem maior giro nas lojas multimarcas", conta Souza. A estratégia teria trazido uma retomada nas vendas, com crescimento de 50% até aqui em 2017 em relação ao mesmo período do ano anterior.
Já a Kidy, marca de calçados infantis com sede em Birigui (SP), afirma ter apostado na tecnologia para reduzir custos de produção. "Reduzindo no operacional, aumentamos a competitividade, que é ainda mais importante em um momento de sensibilidade econômica grande no mercado", afirma o gestor de vendas da empresa, Rafael Menezes. A indústria, que afirma ter crescido 5% em vendas nesse primeiro semestre, caminha também para a outra via, que é a da variedade - a coleção conta com 350 modelos, "o que permite abranger vários nichos", de acordo com Menezes.
Os ciclos de produção, por conta disso, estão cada vez mais curtos, com lançamentos mais contínuos. Jakson Wirth, diretor administrativo da Ramarim, de Nova Hartz, afirma que o consumo tem mudado também para uma compra com perfil cada vez mais de necessidade, com fatores como durabilidade e versatilidade ganhando espaço. "Cada marca tem buscado se adequar respeitando a sua trajetória e seu nicho. Qualquer comportamento de manada seria perigoso", analisa Wirth, que vê o setor também já mais preparado para lidar com os problemas por conta da longa duração da crise. No caso da Ramarim, o objetivo tem sido, além da maior variedade, a transmissão de segurança aos lojistas, tomando menos riscos no desenho dos produtos e dando mais ênfase à pesquisa.
A situação é semelhante na Usaflex, de Igrejinha, que aumentou de sete para 18 o número de lançamentos durante o ano. O CEO da empresa, Sérgio Bocayuva, vê, assim, a chance de maior aproximação entre os times de vendas e os varejistas. O executivo ainda relativiza a opção de alguns lojistas apenas pelo preço baixo, caso não leve em conta a qualidade dos produtos. "Assim, para garantir o mesmo resultado, o esforço de venda dele tem de ser três vezes maior", argumenta Bocayuva, que enxerga nisso uma "canibalização" do mercado. "Depois, quando o consumidor recuperar o poder de compra, não voltará mais naquela loja que ficou com fama apenas de barateira", projeta. A empresa afirma ter crescido 25% nas vendas até aqui em 2017 em relação ao ano passado.

Mesmo com cenário difícil, novas empresas continuam surgindo no mercado

O panorama de queda no consumo, que tem modificado a forma de atuação da indústria, deixa aberta, também, a porta para novos entrantes no setor calçadista. A maior informação dos consumidores, mais antenados às tendências da moda com as redes sociais, por exemplo, é vista como potencial por marcas como a Awana, que entra no mercado brasileiro a partir do Salão Internacional do Couro e do Calçado (Sicc), que termina hoje em Gramado.
"Os preços são situações de mercado, que já estão dados. Há outras soluções, desde que se aceite correr o risco", defende o diretor da Awana, Adriano Engelke. Natural de Sapiranga, o empresário já atua com a empresa na Europa e nos Estados Unidos, com a produção sendo feita principalmente na Ásia. Agora, entra no mercado brasileiro com os mesmos modelos, que já estariam testados no mercado visto que o Hemisfério Norte costuma atuar uma estação à frente em relação ao Brasil.
"Precisamos de ideias diferentes para poder entrar aqui, pois apostar na mesmice seria complicado", continua Engelke, que afirma ter encaminhada a produção dos calçados com duas fábricas brasileiras para atender o mercado local.
Embora não possa ser chamada de nova, a situação da Via Uno é semelhante. A marca, tradicional do setor calçadista, passou anos fora do mercado de lojas multimarcas em decorrência das dificuldades da empresa fabricante, até ter sido vendida em leilão, em 2015. A compradora foi a RR Shoes, de Santo Antônio de Patrulha, que trouxe a Via Uno de volta às feiras no Sicc.
"O importante, nesse momento, é conhecer o seu nicho e conseguir produzir dentro do preço balizado pela concorrência", defende o diretor da empresa, Anderson Haag. Segundo o executivo, há produtos que chegam a ser abandonados caso não se consiga fabricá-los dentro da faixa de preço estabelecida pelo mercado.
O foco, portanto, tem sido na pesquisa e na inovação. "Estamos tendo muita conversa entre lojista e designer, não se faz mais coleção que, quando chega no mercado, se vê que não tinha saída porque estava com o preço errado", argumenta Haag. A empresa, que retomou o canal do varejo multimarcas neste ano, está produzindo cerca de 14 mil pares por dia na sua unidade em Santo Antônio da Patrulha.