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Transporte de carga

- Publicada em 19 de Maio de 2017 às 18:06

Setor tem 200 mil veículos estacionados nas garagens

Redução da movimentação de mercadorias pelas estradas brasileiras encolheu o faturamento e provocou um envelhecimento da idade média dos caminhões que fazem este serviço

Redução da movimentação de mercadorias pelas estradas brasileiras encolheu o faturamento e provocou um envelhecimento da idade média dos caminhões que fazem este serviço


JOÃO MATTOS/JOÃO MATTOS/ARQUIVO/JC
Cerca de 200 mil caminhões estão parados nas empresas de transporte de cargas do País. O número equivale a dois anos e meio de produção, levando-se em conta o que foi fabricado de 2014 a 2016. A crise econômica, que resultou na queda generalizada do consumo e paralisação de obras das construtoras envolvidas na Lava Jato, assim como da Petrobras, levou a uma ociosidade recorde de veículos que transportam alimentos, eletroeletrônicos, materiais de construção e veículos, entre outros itens.
Cerca de 200 mil caminhões estão parados nas empresas de transporte de cargas do País. O número equivale a dois anos e meio de produção, levando-se em conta o que foi fabricado de 2014 a 2016. A crise econômica, que resultou na queda generalizada do consumo e paralisação de obras das construtoras envolvidas na Lava Jato, assim como da Petrobras, levou a uma ociosidade recorde de veículos que transportam alimentos, eletroeletrônicos, materiais de construção e veículos, entre outros itens.
Pesquisa realizada em janeiro pela Associação Nacional de Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) constatou que mais da metade das transportadoras brasileiras tinham, em média, 10% das frotas paradas. Pelos cálculos do presidente da entidade, José Hélio Fernandes, pelo menos 200 mil veículos estavam encostados. O número pode ter se reduzido nesses últimos meses em razão da demanda por transporte de grãos, mas, ainda assim, a ociosidade é elevada, avalia Fernandes.
A TSA Cargo, com sede em Guarulhos, São Paulo, mantém quase 20% de sua frota, de 180 veículos, encostada em quatro pátios. A empresa atua principalmente no transporte de mercadorias importadas ou destinadas à exportação. De 2013 para cá, o faturamento caiu à metade, para cerca de R$ 3,5 milhões.
"O setor está em colapso, na UTI, respirando com aparelhos", define Paulo Scremim, presidente do grupo, criado há 25 anos. Dos 420 funcionários que tinha em 2013, quando a crise se aprofundou, a TSA mantém atualmente 270. "Tive de demitir pessoal qualificado, alguns deles estavam na empresa há 20 anos", informa o empresário. "Assim que ocorrer uma recuperação do mercado, vou recontratar o que for possível."
De acordo com o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas de São Paulo (Setcesp), Tayguara Helou, além dos caminhões parados, os que continuam operando circulam com pouca carga, com operação sem rentabilidade. "O desdobramento disso será a falta de capacidade do setor em investir em renovação de frota, infraestrutura, treinamento de pessoal e melhoria da qualidade."
Helou ressalta ainda que, para não retornar de uma entrega com o caminhão vazio, empresas com frota própria (que não utilizam transportadoras) aceitam "qualquer preço" para transportar mercadorias e, com isso, puxam para baixo o preço do frete. "Transportar carga mal remunerada é um perigo constante, pois a empresa perde a capacidade de fazer a manutenção nos veículos e de operar com pessoal mais qualificado", afirma.
Sócio da Braspress - empresa de transporte de cargas fundada há 40 anos por seu pai, hoje com 93 filiais por todo o Brasil e com frota de 2.350 veículos próprios e 1,6 mil terceirizados -, Helou afirma "nunca ter visto crise tão forte no setor". Para Fernandes, da NTC&Logística, somente quando a indústria aumentar a produção e o comércio reagir, "a roda voltará a rodar".
Para o sócio da consultoria PricewaterhouseCoopers, Marcelo Cioffi, mesmo que o mercado melhore ao longo dos próximos meses, "as transportadoras primeiro vão colocar os veículos que estão parados na rua, para depois renovar a frota".
A recuperação da produção, portanto, pode levar mais tempo já que transportadoras e empresas com frota própria detêm 65% da frota de caminhões que circulam pelo País. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) tem registrado 1,67 milhão de caminhões aptos a realizar fretes, segundo dados atualizados neste mês.
Roberto Cortes, presidente da fabricante de caminhões e ônibus MAN Latin América, cita o exemplo dos atacadistas, que, segundo ele, tradicionalmente renovavam suas frotas a cada dois anos. "Ultimamente, eles deixarem de ir às compras" por causa da redução da entrega de mercadorias em geral.
Na área de logística, a frota em uso normalmente tinha entre dois e três anos de operação, mas agora a idade está na faixa dos seis anos, o que, na opinião de Cortes, não é condizente com o negócio desse segmento. "Quando o nível de confiança melhorar e a questão política se equalizar, esses clientes vão voltar, pois não é interessante para eles manter caminhões velhos", afirma o executivo.

Crise afeta o setor, mas há otimismo moderado para 2017

A Sondagem Expectativas Econômicas do Transportador 2016, realizada pela CNT (Confederação Nacional do Transporte) e divulgada no final de novembro do ano passado, mostrou o peso do impacto da crise na economia sobre o setor de transporte. A maioria das empresas (60,1%) revelou que teve diminuição de receita bruta em 2016, e 58,8% precisaram reduzir o número total de viagens. Para 74,6%, houve aumento do custo operacional. A pesquisa se baseou em entrevista com 795 transportadores de todo o País, que atuam nos diferentes modais (rodoviário, ferroviário de cargas, metroferroviário, urbano de passageiros por ônibus, aquaviário e aéreo).
A maioria dos entrevistados (90,7%) considera que a crise política também os afetou negativamente. Pelo menos 37,4% das empresas do setor reduziram o número de veículos em operação em 2016. Esse cenário refletiu na retenção de mão de obra. De dezembro de 2015 a setembro de 2016, foram demitidos 52.444 trabalhadores no setor. Somente nos últimos seis meses, 58,1% das empresas brasileiras de transporte tiveram de reduzir o quadro de funcionários devido à situação econômica do País.
Para este ano, 47,7% dos empresários esperam obter receita bruta maior, e 48,8% confiam que haverá um melhor desempenho da atividade econômica. O levantamento da CNT apontou que 53,5% dos transportadores aumentaram a confiança na gestão econômica do governo, e 60,5% concordam com as medidas fiscais anunciadas. A Sondagem mostra também que 49,3% dos empresários acreditam que a retomada do crescimento na economia do País só será percebida em 2018. Para 23,6% deles, essa percepção ocorrerá em 2017.
"A crise econômica tem causado impacto negativo no setor de transporte. Acreditamos em um novo momento, com esse novo governo, que está fazendo o ajuste fiscal necessário e fortes investimentos em infraestrutura de transporte", afirma o presidente da CNT, Clésio Andrade. Conforme a sondagem, a maioria dos entrevistados (83,5%) apoia a participação de investidores internacionais nas novas concessões da área de transporte. A CNT tem trabalhado fortemente com seus escritórios na China e na Alemanha para atrair investimentos estrangeiros para obras de infraestrutura de transporte no Brasil.
 

Montadoras operam com apenas 20% da capacidade

Na Mercedes, pelo menos o telefone voltou a tocar para consultas, diz o executivo Luiz Carlos de Moraes

Na Mercedes, pelo menos o telefone voltou a tocar para consultas, diz o executivo Luiz Carlos de Moraes


MERCEDES-BENZ/MERCEDES-BENZ/DIVULGAÇÃO/JC
No ano passado, as montadoras produziram 60,6 mil caminhões, o mais baixo volume em 17 anos. Em 2015, foram 74 mil e, no ano anterior, 140 mil. Nos primeiros quatro meses de 2017, saíram das linhas de montagem 21,6 mil unidades, o que representa uma recuperação de 6,5% em relação ao mesmo período de 2016. Ainda assim, as fábricas operam com apenas 20% da capacidade produtiva instalada.
Assim como ocorre com os automóveis, o que tem ajudado a produção a reagir são as exportações. De janeiro a abril, as vendas externas de caminhões aumentaram 43,3% em relação ao mesmo intervalo do ano passado, somando 8.313 unidades. As vendas internas, no entanto, estão 24,1% inferiores no comparativo com os números de 2016, com a venda de 13,1 mil unidades.
"Pelo menos o telefone voltou a tocar, e estamos recebendo novas consultas", se consola o diretor da Mercedes-Benz, Luiz Carlos de Moraes, também vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A previsão da entidade é que, somando caminhões e ônibus, deverão ser vendidos até dezembro 65,6 mil veículos dos dois segmentos, pouco acima dos 61,7 mil do ano passado.
Para a produção é esperada alta de 26%, para 100 mil unidades, das quais 34,4 mil devem ser exportadas. A Argentina ficará com pelo menos metade desses veículos para atender à demanda de sua economia, que deve crescer 3% neste ano. Moraes espera que a recuperação das vendas comece a partir do segundo semestre. "Será uma retomada moderada", adianta. Entre os fatores que devem ajudar a reverter a queda atual, ele cita a volta do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e a provação das reformas da Previdência e trabalhista, ambas apoiadas pela Anfavea.
"A reforma trabalhista vai trazer modernização nas relações entre as empresas e os trabalhadores, vai reforçar os acordos negociados e vai valorizar as ações dos sindicatos", afirma o presidente da Anfavea, Antonio Megale. "Haverá um impacto positivo nas decisões de investimentos futuros no País."

Força Nacional patrulha as rodovias e as favelas do Rio

Agentes reforçam a segurança com foco no combate ao roubo de cargas e repressão ao crime organizado

Agentes reforçam a segurança com foco no combate ao roubo de cargas e repressão ao crime organizado


VLADIMIR PLATONOW/VLADIMIR PLATONOW/ABR/JC
O aumento do número de roubo de caminhões e de cargas levou à mobilização de soldados da Força Nacional, que começaram a atuar no reforço da segurança no Rio de Janeiro, neste mês, dando prioridade a pontos de maior fluxo de caminhões ao longo da avenida Brasil e dos acessos ao Complexo do Chapadão, conjunto de favelas que concentra o maior número de roubo de veículos e de cargas no estado.
No acesso ao Morro da Pedreira, um dos locais mais violentos da cidade, apoiados por policiais da cidade, os agentes montaram blitz para fiscalizar documentos pessoais e dos veículos. Motoristas estão sendo obrigados a descer dos caminhões e mostrar a carga que estão transportando.
O envio da Força Nacional atendeu a pedido do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), como forma de colaboração do governo federal para reduzir os índices de violência urbana no Rio de Janeiro. O pedido foi feito depois da tentativa de invasão de uma facção criminosa à Cidade Alta, em Cordovil, na zona Norte, no dia 2 de maio. A ação resultou na queima de nove ônibus e dois caminhões, o que quase paralisou a avenida Brasil, a principal via de acesso ao Rio.
No total, foram enviados 300 homens da Força Nacional, que se juntaram aos 125 que já estavam na cidade do Rio desde fevereiro passado, ajudando a reforçar o patrulhamento, após os protestos contra a votação de medidas impopulares na Assembleia Legislativa. Um efetivo da PRF (Polícia Rodoviária Federal) também deverá ser enviado ao estado, ainda sem data definida, para auxiliar na repressão ao roubo de caminhões e de cargas.