A Organização das Nações Unidas (ONU) pede que o governo da Venezuela garanta "investigações transparentes" em relação às mortes ocorridas nos últimos dias no país, no contexto de protestos realizados em diversas cidades. "Estamos profundamente preocupados com a escala de violência na Venezuela", declarou Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos. "Pedimos que as forças de ordem atuem e operem respeitando suas obrigações", alertou, em uma referência às suspeitas de violação de direitos humanos. "A administração desses protestos precisa estar dentro de padrões internacionais", insistiu, alertando que o uso da força seja evitado.
Ravina citou 23 mortes "supostamente relatadas" nas quais o contexto "não está claro". Para a população, o escritório da ONU também faz um apelo. "Solicitamos que usem meios pacíficos para fazer suas vozes serem ouvidas", disse. Por anos, o governo de Caracas tem rejeitado a entrada de missões das Nações Unidas relacionadas com apurações sobre direitos humanos.
Ontem, um homem de 23 anos foi morto em uma manifestação política contrária ao governo Maduro. Ele é a 26ª vítima fatal desde que os protestos começaram, há cerca de um mês. De acordo com a agência Reuters, Orlando Medina morreu na hora, após ser atingido por um tiro na cabeça em uma rua da cidade de El Tocuyo, capital do estado de Lara.
Desde o início das manifestações, 15 pessoas foram mortas nos atos e outras 11 durante saques que têm ocorrido nas noites e madrugadas, segundo autoridades. Há ainda relatos extraoficiais de outros óbitos. Os protestos têm ocorrido na Venezuela quase que diariamente.
Na semana passada, a ONU já havia alertado ao governo do presidente Nicolás Maduro que sua iniciativa de entregar armas à população apenas faria aumentar o risco de um confronto no país. "Dar armas a civis implica um risco muito alto", alertou Rupert Colville, porta-voz do Alto Comissariado para Direitos Humanos, órgão que, ao longo dos anos, tem tentado aproximar a oposição ao governo de Maduro, sem sucesso. "O que se necessita nesse contexto de conflito é que a tensão seja reduzida, não que seja incrementada. Quanto maior o número de armas pelas ruas, maior a possibilidade de que possam ser usadas", disse Colville.
Maduro anunciou a aprovação de um plano para expandir para 500 mil os membros da milícia bolivariana. Os dirigentes da oposição convocaram uma nova manifestação para hoje.