Essas vagas dentro das empresas preparam profissionais para ter uma visão completa dos negócios

Trainees promovem aprendizado em direção à liderança


Essas vagas dentro das empresas preparam profissionais para ter uma visão completa dos negócios

Oportunidades de trainee são um caminho para quem pensa em desenvolver atividades de gestão em uma grande empresa. Isso porque a modalidade, baseada em treinamentos, já prepara o profissional em direção à liderança de equipes e tomada de decisões.
Oportunidades de trainee são um caminho para quem pensa em desenvolver atividades de gestão em uma grande empresa. Isso porque a modalidade, baseada em treinamentos, já prepara o profissional em direção à liderança de equipes e tomada de decisões.
Uma vez aprovado, geralmente o trainee passa por um programa intensivo para conhecer a companhia e suas diferentes áreas, num programa que dura aproximadamente um ano (ou mais). Depois, é hora de "arregaçar as mangas" e mostrar serviço.
Carolina Janczura, 32 anos, é administradora de empresas e entrou na gigante de auditoria PwC aos 22. "Eu era muito tímida, tinha pânico de falar em público", conta. Tarefa que hoje tira de letra, em treinamentos e consultorias que presta.
"Foi uma evolução bem pessoal", diz. Dez anos após a admissão, ela é gerente da área de Risk Assurance da Região Sul, o que contempla os escritórios da capital gaúcha e Curitiba - e que significa que apenas um cargo a separa do mais alto escalão da empresa, o de sociedade.
Atualmente, sua carteira de clientes é a maior da sua área. "Porque sou a funcionária mais antiga do meu setor", justifica ela.
Recém-saída da faculdade, em 2007, Carolina se candidatou para vários processos seletivos de trainee, alguns em Porto Alegre, outros em São Paulo. Conforme fora avançando nas etapas da PwC, abandonou os demais. "No primeiro ano, tudo é novidade. É um tempo de muito aprendizado", sublinha.
No caso dela, a companhia tem um plano de carreira superestruturado, assim como as práticas de coaching e feedback. Aos poucos, foi aprendendo a lidar com pessoas e a se comunicar da melhor maneira - também em inglês. Entre as suas responsabilidades atuais estão a busca por clientes, apresentação de propostas, gerenciamento de projetos e escalação de times para execução do trabalho.
"Eu consigo ver que, em 10 anos, eu evoluí muito mais do que eu poderia imaginar", aponta Carolina, que agora é quem acompanha a entrada de trainees na empresa e atua como conselheira. "Acho muito legal acompanhar as mudanças. É inimaginável o quanto se aprende em um ano", dimensiona. Apesar de que, segundo ela, todo mundo entra com um ponto de interrogação - como ela, uma década atrás.

Gestão para a nova geração

O último processo seletivo para trainees da PwC fechou no dia 3 de abril, com 400 vagas abertas para 42 mil candidatos, das áreas de Ciências Contábeis, Administração, Direito, Economia e Tecnologia da Informação. A empresa tem 16 escritórios no Brasil, e a média de idade dos funcionários é de 28 anos. Rafael Biedermann, 37, faz parte do time de 180 sócios da companhia no País, e explica como uma empresa centenária direciona a inserção da nova geração.
GE - Como é a política da empresa para os trainees?
Rafael - Estamos investindo muito na geração millennial (jovens nascidos entre 1980 e 2000). É um trabalho de desconstrução dos clichês de que eles são teimosos, apressados. A gente quer que essas características se transformem em potenciais para agregar valor à nossa firma, com as suas competências e habilidades.
GE - Isso é um desafio?
Rafael - O desafio é nós conciliarmos o perfil deles com as tradições de uma empresa centenária. Nem tudo o que os jovens querem no momento que querem acontece. Tem que ter sensibilidade para não ultrapassar os níveis e momentos certos que acontecem dentro da empresa, e saber que se está entrando em uma organização que tem suas normas e processos. A tradição e a inovação têm de andar juntas.
GE - Quais as práticas da empresa para reter este colaborador, não perdê-lo?
Rafael - O trainee consegue trilhar diversos tipos de carreira dentro da própria firma. A grande maioria dos nossos funcionários é muito jovem, então é um clima legal, de juventude, com uma ampla opção de escolha e um plano bem definido, com treinamentos em que ele sabe exatamente o que vai precisar cumprir em cada etapa para chegar à sociedade.
GE - Vocês estimulam que se chegue à sociedade?
Rafael - Sim, a todo mundo que entra a gente apresenta um leque de opções para chegar nisso, as regras do jogo são muito bem colocadas sobre a estrutura. Mas entrar é outro processo. Acho que aí mora o grande desejo de não mais ser um empregado, e sim participar das decisões, da administração, e isso envolve todos os riscos e benefícios que uma sociedade tem. Existe um sócio-líder elegido por um comitê.
GE - E como o empreendedorismo se encaixa no meio desta estrutura?
Rafael - A gente tem toda a parte técnica, mas temos a veia de conquistar novos clientes, negociar contratos, de ter uma participação ativa na comunidade. De trainee até gerente sênior, a competência de empreendedorismo é muito incentivada, porque também é um caminho pra chegar à sociedade.

BOM SABER

Geralmente, os processos seletivos de trainee levam alguns meses até cumprirem todas as etapas, que em geral incluem carta de apresentação, testes online de raciocínio lógico, português e idiomas, entrevistas em outra língua, dinâmicas de grupo e encontro presencial. #paciência

Eu quero ser líder, mas quem sou eu?

"O programa de trainee, independentemente da empresa, começa colocando o futuro líder em situações de desafio", explica Rossana Caetano, 42 anos, professora da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs). Isso, segundo ela, é para constatar se o profissional tem capacidades e postura para assumir um posto de gestão.
Para exercer uma função de responsabilidades e liderança, "uma questão que está muito em voga é o autoconhecimento", aponta - uma vez que habilidades se aprendem e competências são adquiridas com o tempo.
O mais difícil é saber escutar e entender o próprio lado emocional. "Se tu tens um bom conhecimento de ti, sabes inclusive quais pontos faltam se desenvolver mais", salienta.
Segundo ela, cada vez mais, as empresas estão olhando para este lado ao formar os seus líderes, pois ao perceber as fragilidades é que nascem as oportunidades de crescimento. Nisso, ela destaca três bases que a pessoa líder deve ter: saber lidar com grupos, ter atitude e maturidade. "Saber que se algo não deu certo a culpa é sua, por exemplo, porque você não deu suporte. O líder precisa estar maduro para se responsabilizar tanto pelo lado positivo quanto pelo negativo dos seus resultados", explica. Algo que é supercomum no empreendedorismo.
E, para saber aproveitar os feedbacks negativos e usar os problemas para crescer, é preciso uma sensibilidade mais apurada. "Ou seja, a pessoa precisa estar emocionalmente preparada", diz.
A pedido de uma grande empresa de tecnologia que queria inovar nos treinamentos, Rossana desenvolveu, dentro da Pucrs, uma metodologia de liderança baseada exclusivamente na descoberta do "eu".
"É perceptível que os líderes natos são pessoas abertas, que se abrem para a experiência", conta. "A resistência acontece com pessoas que não são muito maduras", observa, frente à irreverência das propostas.

Empreender dentro das grandes

Caio Batista tem 26 anos e é natural de Brasília - onde boa parte da população se ocupa no funcionalismo público. Aos 23, recém-saído da faculdade de Engenharia Agrônoma, ele sabia que queria um caminho mais dinâmico, onde soubesse que poderia contribuir efetivamente em mudanças e crescer. Assim, foi acabar cumprindo os 11 meses do programa de trainee da Ambev, companhia de bebidas com rótulos conhecidos popularmente, como Brahma, Antarctica, Skol, Budweiser, Colorado, Guaraná Antarctica, entre outras. É uma das maiores empresas brasileiras, presente em 18 países - e uma das mais procuradas quando o assunto é trainee. Somente em 2016, os dois programas da empresa geraram mais de 60 mil inscrições pelo Brasil.
Ele é o especialista regional agronômico que faz parte do time responsável por toda a cevada que abastece as cervejarias do Brasil e da América Latina, especialmente Uruguai e Argentina. Ou seja, se no bar você pedir uma Polar ou qualquer uma das cervejas citadas acima, saiba que tem o dedo do Caio no processo.
Do início do trainee, em 2013, até agora, Caio já passou pelas cidades de Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro, Passo Fundo e Porto Alegre, onde mora. A base da operação fica na Maltaria Navegantes, na capital gaúcha, embora esteja sempre visitando os hermanos. Ao todo, ele é responsável, direta ou indiretamente, por 30 profissionais. "Quando você vê que a sua mão está fazendo diferença num negócio, isso engrandece", orgulha-se. "Empreendedorismo é você se desafiar, se sentir o dono do negócio, fazer a engrenagem andar. A partir deste entendimento, o que eu faço é tocar um negócio dentro de uma corporação", salienta. Uma das características ímpares da empresa, para ele, é o clima informal.
"Não preciso marcar uma reunião para trocar uma ideia com um líder mais sênior, posso fazer isso durante o café, posso chamar para conversar. Esse modelo acaba acelerando resultados e tirando barreiras", conclui.