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Teatro

- Publicada em 16 de Abril de 2017 às 14:58

Renovação juvenil

A montagem de um texto de William Shakespeare é sempre um desafio e, até certo ponto, uma audácia. A cultura, a linguagem, o tempo - tudo é tão diferente que é extremamente difícil e desafiador concretizar tal trabalho. Se nos encontramos, então, diante de um conjunto amador, como este que assumiu a montagem de As you like it (Como gostais, na tradução assumida, tradução corrente tanto em português quanto em espanhol), as coisas parecerão ainda mais complicadas.
A montagem de um texto de William Shakespeare é sempre um desafio e, até certo ponto, uma audácia. A cultura, a linguagem, o tempo - tudo é tão diferente que é extremamente difícil e desafiador concretizar tal trabalho. Se nos encontramos, então, diante de um conjunto amador, como este que assumiu a montagem de As you like it (Como gostais, na tradução assumida, tradução corrente tanto em português quanto em espanhol), as coisas parecerão ainda mais complicadas.
O desafio começa pela duração do espetáculo: o texto foi praticamente mantido em sua íntegra, de modo que, mesmo sendo uma comédia, o público já não está mais acostumado a um espetáculo tão longo. Por outro lado, a direção optou por uma simbiose às vezes fatal: os figurinos fazem referências diretas à época, mas não o cenário, aliás, praticamente inexistente, constituído apenas por aplicativos, por exemplo, o da árvore na floresta, ou adereços trazidos e levados pelos próprios intérpretes. Por fim, o número de personagens da obra é bastante grande - 22 explicitamente nomeados, fora a figuração de "nobres, pajens, habitantes dos bosques e acompanhamento", como menciona o texto, para ser representado por um número relativamente pequeno do elenco - 10 intérpretes, elenco numeroso para as atuais produções: só um grupo amador poderia se dar a este luxo; mas, de qualquer modo, significando que cada intérprete precisa viver pelo menos dois personagens; levando-se em conta que a direção optou por alguns deles assumirem apenas um personagem, significa que outros precisarão viver mais de dois, o que exige caracterização diferenciada de um para o outro, o que é sempre difícil para atores ainda inexperientes.
Confesso que fui apreensivo para o teatro: produção, duração, elenco, tudo me preocupava. Mas fui surpreendido e envolvido, ao longo da peça. A primeira observação que se deve fazer é que, afinal, o espetáculo anda tão bem - seja pelo espetáculo em si ou pelo texto (falaremos disso depois) - que a gente não sente o tempo passar. Segunda observação: se, nos primeiros minutos, o texto parece demasiadamente decorado, mas sem maior emoção, isso tudo se transforma na medida em que o trabalho avança, e o que a gente acaba por se dar conta é que, sim, o texto está extremamente bem decorado e introjetado, mas isso não é um aspecto negativo e, sim, positivo, porque a representação vai ganhando naturalidade, entusiasmo e acaba soando aos nossos ouvidos com extrema clareza. Aliás, este aspecto se torna uma das principais qualidades do trabalho: o texto passa de maneira clara e simples para o espectador, facilitando sua compreensão, já que os enredos desenvolvidos por Shakespeare, sobretudo nestas comédias cheias de quiproquós e reconhecimentos, há que se ter muita atenção para não se perder na história.
Por fim, a juventude do elenco acaba trabalhando em seu favor: os atores e atrizes efetivamente vivem a comédia, transmitindo-a, assim, com enorme convicção para o público, que não deixa de dar boas gargalhadas com as tiradas do chamado bardo de Avon, bem traduzidas e trazidas à contemporaneidade da língua portuguesa, sem expressões chulas ou simples gírias oportunistas.
No resumo, depois de duas horas e meia, a gente está encantado e quando se anuncia o final da peça, com a vinda do Epílogo à cena, a gente quer que o espetáculo continue. Para que isso ocorresse, o que aconteceu, de fato, em torno desta produção?
Não conheço o diretor Daniel Fraga, nem sua assistente de direção, Gabriela Boccardi. Conheço, sim, Natasha Centenaro, que assina a adaptação dramatúrgica. Também não conheço Rodrigo Trujillo, Augusto Stern ou Fernando Efron, responsáveis pela trilha sonora; Jony Pereira, que assina a cenografia; ou Berta Wilbert e Iara Sander, responsáveis pelos figurinos. Mas vou ficar de olho neste pessoal a partir de agora. Por quê? Porque aquilo que poderia ser ruim tornou-se bom: redescobertas de antigas práticas da comédia pastelão, nas bofetadas fingidas, por exemplo; saídas laterais de palco com rapidez e naturalidade; qualidade de interpretações que surpreendem. Franciela Aguiar é a grande revelação: começa devagarinho, vai se impondo e, ao final da peça, comanda totalmente o espetáculo. Mas todo o elenco tem verve, tem dedicação e entusiasmo e agrada por sua dedicação. Em suma, é um divertimento excelente, a mostrar a competência do grupo.
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