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Teatro

- Publicada em 07 de Abril de 2017 às 00:04

Simples, mas extremamente bonito

Fui assistir a O andarilho, primeiro, porque a sinopse sobre o espetáculo me chamou a atenção e, segundo, porque se trata de um grupo que tem raízes no Interior, neste caso, a cidade de Santo Antônio da Patrulha. Não saí decepcionado. A dramaturgia de Lú Endress é simples, mas eficiente, e se afirma graças à direção do espetáculo, assinada por Alex Limberger, a quem se deve creditar os principais méritos da concepção, repartindo-os com os intérpretes que são, também, responsáveis pela trilha sonora, ainda assinada por Germano Reis.
Fui assistir a O andarilho, primeiro, porque a sinopse sobre o espetáculo me chamou a atenção e, segundo, porque se trata de um grupo que tem raízes no Interior, neste caso, a cidade de Santo Antônio da Patrulha. Não saí decepcionado. A dramaturgia de Lú Endress é simples, mas eficiente, e se afirma graças à direção do espetáculo, assinada por Alex Limberger, a quem se deve creditar os principais méritos da concepção, repartindo-os com os intérpretes que são, também, responsáveis pela trilha sonora, ainda assinada por Germano Reis.
O conceito é simples, mas flexível e produtivo. A partir de algumas das mais tradicionais peças do cancioneiro sul-rio-grandense, muito conhecidas, o que facilita serem entoadas pelo público, à medida em que são apresentadas pelos atores, desenvolve-se um roteiro simples, marcado pela aproximação de três ou quatro histórias tradicionais. O espetáculo é engraçado, dinâmico e poético, às vezes mesmo brilhante, como na versão regionalizada da canção Escravos de Jó, que recebe uma coreografia precisa e surpreendente, emocionando a todos.
De um "causo" de pescadores, já que o grupo vem de uma região marcada pela tradição marítima, às histórias mais tradicionais de encontros e desencontros entre peões e prendas, o espetáculo permite que os três intérpretes mostrem sua versatilidade e suas potencialidades. Valquíria Cardoso tem uma voz muito bonita e sabe interpretar. Gustavo Dienstmann e Philipe Phillipsen formam uma excelente dupla, completada pela figura feminina, com excelente presença em cena, valorizada sobremaneira pelo figurino, bonito e bem cuidado, que senta bem nos intérpretes.
O espetáculo propõe, enfrenta e resolve bem um desafio que ainda na semana passada eu referia: a busca de um público múltiplo. Aqui, graças à música, crianças, jovens e adultos sentem-se compensados pelo que veem-ouvem em cena e acompanham com interesse a todo o trabalho. Penso, apenas, que um certo tom nostálgico poderia ser trocado, passando os tempos verbais do passado para o presente. Afinal, estas coisas estão acontecendo, sim, no presente, diante dos olhos da plateia e o espetáculo certamente ganharia maior dinamicidade e proximidade, ainda, se fosse presentificado.
Este tipo de espetáculo que busca, nas raízes regionais, mesmo que idealizadas, sua inspiração de criação, é fundamental. Podemos admitir que a criançada de hoje curte todo o tipo de maquininha eletrônica e se diverte com isso. Mas a maquininha tanto pode mostrar um rock pauleira quanto um espetáculo deste tipo. Se não estivermos envolvidos por preconceitos, que são sempre lastimáveis, vamos nos interessar por aquilo que mais nos tocar a sensibilidade. E este O andarilho, que se inicia com inteligência - mesmo que às vezes meio massacrado pelo som muito baixo da fala dos atores - quando traz os vários vocábulos pelos quais designamos o andarilho, logo define com clareza ao que veio e o que pretende: retomar nossa cultura de raiz. Com esta busca de identidade, o espetáculo se apresenta com humildade, mas eficiência, sobretudo pela correta escolha dos materiais utilizados, com destaque para a trilha sonora. Vi mães cantando com alegria ao lado dos filhos, e vislumbrei crianças sorrirem quando identificaram a canção que estava sendo interpretada. Estar atualizado não significa romper raízes: podemos equilibrar conhecimentos e sensibilidades, de tal modo que quando encontrarmos alguma referência a um aspecto qualquer de uma cultura distante, vamos a nos dar conta de que aquilo não é, assim, tão distante do que constitui também a nossa identidade. Este é o mérito deste tipo de espetáculo: nos devolve não apenas ao passado, mas sobretudo nos indica desde onde viemos e onde nos encontramos, nos ajuda a nos compreender. Saí feliz e encantado: torço para que o público aumente nos próximos fins de semana, porque o grupo é sério e trabalha evidentemente com afinco.
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