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Cinema

- Publicada em 12 de Abril de 2017 às 23:23

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Hélio Nascimento
Realizado no ano de 1956, Rastros de ódio é um dos grandes momentos na filmografia de John Ford. Não é apenas um dos maiores westerns de toda a história do cinema. As obras-primas não são limitadas pelos gêneros nas quais se expressam e ultrapassando limites costumam impor-se num panorama amplo, enriquecendo o cinema e a arte do período em que foram concretizadas. Na última lista da Sight and Sound, publicada em 2012, resultado de uma enquete realizada pela revista britânica com diretores e pessoas ligadas ao cinema em vários países, o filme ficou em sétimo lugar entre os melhores de todos os tempos. Ford, que foi um dos cinco que voltaram do notável livro de Marc Harris, é um dos responsáveis pela importância e a grandeza do cinema.
Realizado no ano de 1956, Rastros de ódio é um dos grandes momentos na filmografia de John Ford. Não é apenas um dos maiores westerns de toda a história do cinema. As obras-primas não são limitadas pelos gêneros nas quais se expressam e ultrapassando limites costumam impor-se num panorama amplo, enriquecendo o cinema e a arte do período em que foram concretizadas. Na última lista da Sight and Sound, publicada em 2012, resultado de uma enquete realizada pela revista britânica com diretores e pessoas ligadas ao cinema em vários países, o filme ficou em sétimo lugar entre os melhores de todos os tempos. Ford, que foi um dos cinco que voltaram do notável livro de Marc Harris, é um dos responsáveis pela importância e a grandeza do cinema.
O tema dominante de sua obra é o da tentativa de reconstrução do núcleo familiar decomposto pela rudeza e as distorções. Em muitos de seus filmes, o trecho inicial focaliza a volta ao lar do homem que pode ser o combatente que retorna ou o ausente que regressa à casa. O cineasta já foi chamado de o Homero das pradarias, por não se afastar dessa temática, que deriva da Odisseia e por sempre tecer variações em torno do mais clássico e nobre dos temas. Não há admirador de cinema que desconheça o plano inicial de Rastros de ódio e difícil é para qualquer cinéfilo não se emocionar quando John Wayne abraça Natalie Wood no momento do reencontro, quando, vitória da civilização, o humanismo suplanta a agressividade. No final, que repete o plano inicial registrando um movimento contrário, o Ulisses fordiano se afasta de um mundo recomposto e no qual não há lugar para ele.
A grandeza de Rastros de ódio tem dado origem a cenas e mesmo a filmes nele inspirados. O mais recente é este Os cowboys, que até pelo título assume a homenagem, mesmo que esta retomada se afaste de maneira bastante criativa do modelo no qual se inspira.
Os cowboys é o primeiro filme de Thomas Bidegain, roteirista respeitado e que agora faz uma estreia que não é apenas promissora, pois revela de maneira inquestionável um cineasta bem superior a algumas elogiadas figuras do atual cinema francês. Como roteirista e agora também como diretor ele coloca em cena personagens reais cujos dramas têm origem em problemas contemporâneos. No caso, estamos diante do tema do islamismo na Europa. Porém, o cineasta procura fugir dos lugares-comuns e tenta uma operação destinada a aprofundar as observações, método que costuma estar ausente de filmes que procuram as simplificações tão apreciadas pelos movidos pelas facilidades do panfleto e das colocações superficiais. Se a questão é a ameaça de uma cultura por outra, a sequência inicial é bastante esclarecedora. Estamos na França, mas a festa, a música e a dança são americanas. É deste universo submetido a uma realidade externa, que se afasta a filha seduzida pelo islamismo. Desta vez, em vez de ser sequestrada por índios depois de um massacre, ela voluntariamente procura outro caminho, aberto por outra influência externa. Está assim exposta uma crise ampla.
Começa, então, uma busca que parece nunca terminar, uma infinita procura de recomposição da família e durante a qual uma realidade difícil de ser contemplada é colocada diante do espectador. É quando o cineasta mais se aproxima do filme de Ford. Aqui, o tio é substituído pelo pai, mas o autoritarismo é o mesmo e o ódio racial, semelhante.
Num recurso que, depois da aproximação, o afasta do original, Bidegain expõe com clareza o desastre que costuma aguardar os comandados pela irracionalidade. A novidade no filme é o protagonismo que o filho assume a partir de certo momento. E as variações então tecidas em torno do epílogo do filme de Ford mostram originalidade, ao focalizar uma realidade complexa e na qual o humanismo é uma possibilidade tênue. Monumentos como Rastros de ódio dificilmente serão igualados, mas certamente é salutar perceber que os melhores dos tempos atuais estão atentos para a grandeza do passado cinematográfico. Como realizador, Bidegain se impõe já em seu primeiro trabalho. A dramaticidade do relato é mantida em todo o desenrolar da ação e o filme mostra claramente que conhecer e admirar o cinema de outros países é algo fundamental. A contrário da cópia desprovida de rebeldia e imaginação.
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