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Operação Lava Jato

- Publicada em 13 de Março de 2017 às 17:30

Sempre existiu caixa-2, diz Emílio Odebrecht

Patriarca da empreiteira Odebrecht, o executivo Emílio Odebrecht, presidente do Conselho de Administração da empresa, afirmou ontem à Justiça que "sempre existiu" caixa-2 na construtora para doações de campanha não oficiais.
Patriarca da empreiteira Odebrecht, o executivo Emílio Odebrecht, presidente do Conselho de Administração da empresa, afirmou ontem à Justiça que "sempre existiu" caixa-2 na construtora para doações de campanha não oficiais.
"Sempre existiu. Desde a minha época, a época do meu pai e também de Marcelo (Odebrecht)", declarou ao juiz Sérgio Moro, em depoimento sigiloso ao qual a reportagem teve acesso.
O engenheiro falou como testemunha de defesa de seu filho Marcelo Odebrecht, presidente do grupo e preso pela Operação Lava Jato, na ação que acusa o ex-ministro Antonio Palocci (PT) de agir em favor dos interesses da empresa.
Durante cerca de meia hora, ele declarou que este era "um modelo reinante" no País. Segundo ele, a Odebrecht doava para todos os partidos, por dentro e por fora, muitas vezes com "uma mescla" de recursos oficiais e não oficiais.
"Na minha época, as coisas eram muito mais simples. Não tinha a complexidade que a organização passou a ter, trabalhando em mais de 20 países e lidando com 'n' negócios", afirmou.
Emílio, que também fez acordo de colaboração premiada, se afastou do dia a dia da empresa a partir de 2001, quando deixou a presidência do grupo. Segundo ele, na sua época, havia apenas um "responsável" por operacionalizar os recursos não contabilizados, repassando-os a políticos ou partidos beneficiados. Existia uma regra: ou a gente não contribuía para ninguém, ou para todos", declarou.
O patriarca do grupo disse que jamais tratou de pagamentos ilícitos com Palocci, mas "não tem dúvidas" de que ele pode ter sido um dos operadores do PT e recebido recursos em favor do partido.
Ele afirmou que o ex-ministro era "um homem sensato e bem informado", e que gostava de debater sobre o futuro do País com ele. Era sua orientação, afirmou, que outros executivos da Odebrecht levassem a membros do governo "agendas de diálogo", com "contribuições daquilo que era importante para o País". "E não levar egoisticamente apenas os seus interesses", declarou.
No início da audiência, o juiz federal Sérgio Moro entendeu que o depoimento do patriarca deveria ficar em segredo de justiça até a quebra do sigilo da delação da Odebrecht pelo Supremo Tribunal Federal (STF) - o que depende de decisão do ministro Edson Fachin.
Além do depoimento de Emílio Odebrecht, também depôs em sigilo o executivo Márcio Faria, outro delator da empreiteira.
 

A Moro, Cardozo declara que caixa-2 é 'histórico e cultural' no Brasil

Ex-ministro disse que prática 'nem sempre agasalha a corrupção'

Ex-ministro disse que prática 'nem sempre agasalha a corrupção'


ANDRESSA ANHOLETE/AFP/JC
Após um depoimento de não mais que 20 minutos ao juiz Sérgio Moro ontem, o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo (PT) disse que "infelizmente" o caixa-2 no Brasil é "histórico, cultural, mas nem sempre agasalha a prática de corrupção".
Cardozo falou a Moro por videoconferência de São Paulo. Ele, que defendeu a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) no impeachment, foi arrolado como testemunha de defesa do ex-ministro Antonio Palocci (PT), réu na Lava Jato. Moro ouviu testemunhas ligadas à ação na qual Palocci é acusado de atuar para favorecer os interesses da Odebrecht junto ao governo federal na contratação de sondas de exploração do pré-sal com a Petrobras.
"Eu disse (a Moro) que infelizmente o caixa-2 no Brasil é histórico, cultural, mas nem sempre agasalha a prática da corrupção. Às vezes, se doa o dinheiro sem que você efetivamente saiba a origem. Há situações distintas: a corrupção tem uma origem, caixa-2 tem outra", relatou Cardozo, que parou para falar com jornalistas após o depoimento.
Ele disse que não poderia dar detalhes de suas respostas, mas que foi questionado sobre a prática de caixa-2 durante campanha do PT. Enquanto conversava com repórteres, uma pessoa passou de carro gritando "ladrão". Segundo Cardozo, "tudo é ilegal", mas é importante "precisar qual a ilegalidade que se coloca". "Caixa-2 é ilegal? É. É recriminável? É. É eticamente reprovável? É. Mas não se confunde necessariamente com corrupção ou lavagem de dinheiro. Pode se confundir? Pode. É frequente até que isso ocorra? Sim. Pelo menos isso é que se sabe ao longo da história brasileira. Agora, que são coisas diferentes, são."
 

Outro executivo da Odebrecht conta que Palocci era o 'italiano'

Mais um delator da Odebrecht confirmou que o ex-ministro Antonio Palocci (PT) era o "italiano" na planilha de pagamentos não contabilizados da empresa. Ao prestar depoimento ontem ao juiz Sérgio Moro, Márcio Faria, apontado como representante da Odebrecht no cartel de empreiteiras da Petrobras, afirmou que Palocci mantinha contato diretamente com Marcelo Odebrecht.
Segundo ele, Palocci e Marcelo faziam "follow up" dos projetos onde a Odebrecht era investidora. Moro perguntou a Faria quem era "italiano," e o executivo respondeu: "Era o ex-ministro Palocci".
As iniciais "LC" e "JSG" em e-mails trocados sobre negócios do estaleiro Enseada Paraguaçu eram, segundo Faria, referência a Luciano Coutinho, ex-presidente do Bndes, e José Sérgio Gabrielli, então presidente da Petrobras.
O primeiro a identificar Palocci como o "italiano" foi o executivo da Odebrecht Fernando Sampaio Barbosa, na semana passada. Nesta segunda-feira, porém, o patriarca Emílio Odebrecht disse, pela manhã, desconhecer o codinome de Palocci.
Faria contou que outro executivo da Odebrecht, Rogério Araujo, foi procurado pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, que lhe informou que a propina no contrato do estaleiro seria de 1% do valor do contrato, do qual dois terços iriam para o PT e um terço para "o pessoal da casa" - funcionários da Petrobras.
Depois disso, Barusco teria procurado novamente a empresa e dito que "o assunto evoluiu" e o 1% de propina que valeria para todos os estaleiros nacionais deveria ser pago integralmente ao PT, pois o "pessoal da casa" receberia dos estaleiros estrangeiros - Jurong e Keppel. "Já tínhamos dito que não pagaríamos", afirmou Faria, explicando que o pagamento de propina foi recusado, porque o investimento privado era muito alto. O executivo confirmou, no entanto, que a empresa pagou propina em outros contratos da Petrobras aos então diretores Renato Duque, Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco dentro e fora do País.
No depoimento, Faria também explicou como era operacionalizado o pagamento de propina da empreiteira no esquema de corrupção da Petrobras. Ele disse que, assim que recebia os pedidos de pagamentos de propina, repassava as informações para o Setor de Operações Estruturadas, o chamado departamento de propina da empresa, no qual o então diretor Hilberto Silva dava as cartas. Este determinava que seus assessores Fernando Migliacio e Eduardo Soares fizessem os pagamentos.