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Direitos humanos

- Publicada em 30 de Março de 2017 às 22:29

Cresce número de casos de violência contra a população de rua em Porto Alegre

Viaduto São Jorge, na avenida Bento Gonçalves, teve barraca incendiada

Viaduto São Jorge, na avenida Bento Gonçalves, teve barraca incendiada


JONATHAN HECKLER/JC
Servidores da rede de atendimento a pessoas em situação de rua de Porto Alegre revelaram, nesta quinta-feira, um aumento na incidência de casos de violência envolvendo essa parcela da população nos últimos meses. A reunião da qual os profissionais participaram, na Câmara de Vereadores da Capital, foi marcada após um homem que morava há dois meses na Praça da Matriz ser morto a tiros no local. Ironicamente, na madrugada do dia em que a reunião seria realizada, um casal de moradores de rua também foi baleado e morreu na Zona Norte.
Servidores da rede de atendimento a pessoas em situação de rua de Porto Alegre revelaram, nesta quinta-feira, um aumento na incidência de casos de violência envolvendo essa parcela da população nos últimos meses. A reunião da qual os profissionais participaram, na Câmara de Vereadores da Capital, foi marcada após um homem que morava há dois meses na Praça da Matriz ser morto a tiros no local. Ironicamente, na madrugada do dia em que a reunião seria realizada, um casal de moradores de rua também foi baleado e morreu na Zona Norte.
Daniella Canabarro, assistente social do Centro de Promoção da Criança e do Adolescente São Francisco de Assis (CPCA), relata que, desde o início do ano, o projeto Ação Rua tem recebido denúncias de incêndios a barracas onde vivem pessoas em situação de rua. "Lugares como o viaduto São Jorge, na avenida Bento Gonçalves, costumavam ter muitos moradores de rua, e já não têm mais. Nas barracas que sobraram, é possível ver marcas de incêndio", pontua. Daniella cita um homem que morava no local, que teve sua barraca incendiada, e preferiu não registrar ocorrência, por medo de represálias. "Depois disso, ele desapareceu. Faz meses que ninguém o vê."
As denúncias recebidas pelo Centro de Referência às Vítimas de Violência são difíceis de ter continuidade, de acordo com a coordenadora do centro, Maria Helena de Castilhos, também devido ao medo da população de rua. "Eles denunciam, mas não querem continuar. E eu entendo, até porque já tivemos vazamento de informações, e pessoas foram perseguidas por isso", salienta.
O servidor da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) Mateus Cunda, da Proteção Social Especial, conta que recebeu, no final de 2016, três casos de pessoas em situação de rua agredidas na Zona Norte e internadas no Grupo Hospitalar Conceição em um período de 30 a 40 dias. Na Zona Sul, foi registrada uma sequência de três agressões a pessoas trans, que foram para o Hospital de Pronto Socorro em estado grave.
Além disso, Cunda percebe uma crescente demanda de retirada de pessoas de determinados locais desde o final de 2016, através do 156, telefone da prefeitura. Entre janeiro e metade de fevereiro de 2017, 80 demandas nesse sentido foram registradas. "Tentamos fazer um contraponto com o solicitante, pois os pedidos são muito agressivos. Mas, de qualquer forma, temos problema na nossa estrutura para atender às solicitações, com poucos telefones disponíveis, carros, vigilância, portaria, o que faz com que muitos serviços estejam até fechados", informa.
A Central de Abordagem da Fasc, na qual trabalha a pedagoga Patrícia Mônaco, recebe demandas por abordagens a crianças, adolescentes e adultos em situação de rua em Porto Alegre, através dos telefones 156 e (51) 3289-4994. Muitas das solicitações envolvem retirada de pessoas de determinados locais. "Conversamos diretamente com a comunidade e procuramos reverter a ideia preconceituosa sobre a população de rua de que todos são ladrões. Tentamos desconstruir esse dogma, pois a criminalidade existe em todos os âmbitos da sociedade", defende.
Em grande parte dos pedidos, especialmente oriundos do 156, predomina um discurso de "retirada da vagabundagem", e uma confusão, conforme Patrícia, quanto aos serviços de segurança pública e assistência social.
A pedagoga percebe, ainda, um esvaziamento de locais tradicionalmente repletos de população de rua, como o viaduto da avenida Borges de Medeiros e o terminal da Praça Parobé. "Como o Centro está com mais policiamento desde a Operação Avante e há esse aumento nos casos de violência, essa população está mais difusa em lugares das zonas Norte e Sul", explica.

Comissão recebe denúncias de desaparecimentos

Segundo o vereador Marcelo Sgarbossa (PT), a Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança (Cedecondh) da Câmara tem recebido denúncias de desaparecimento nas ruas de Porto Alegre. "Ninguém sabe para onde foram. Junto com isso, percebe-se uma intensificação da violência com a população de rua desde o final de 2016", ressalta.
Representando a população de rua frequentadora da Escola Municipal de Porto Alegre (EPA), Dilson Correia concorda. "Vivemos em uma sociedade desagregadora, que criminaliza as pessoas nas ruas. Em São Paulo, comerciantes chegaram a contratar pessoas para matarem os moradores de rua, e ninguém nunca foi punido por isso. Aqui na Capital, o comércio diz para a imprensa que as vendas caíram, porque a população de rua fica perto dos estabelecimentos. Cria-se essa ideia, e as pessoas sofrem ainda mais, pela violência de policiais e da população em geral", destaca.
Correia aponta que um projeto de polícia comunitária reduziu significativamente a violência contra a população de rua em Minas Gerais e que seria interessante implementar algo nesses moldes no Rio Grande do Sul. Ele sugere, ainda, a criação de um setor específico na Polícia Civil para investigação de casos. "A polícia não se aprofunda na investigação das nossas mortes e, por isso, ficamos com laudos precários e não podemos nem mesmo provar os casos de violência", observa.