O secretário municipal de Saúde de Porto Alegre, Erno Harzheim, revelou ontem que um novo convênio a ser assinado na metade de 2017 permitirá a ampliação dos serviços oferecidos pelo Hospital Restinga e Extremo-Sul (HRes). Ainda não é possível, contudo, determinar quais alas serão abertas. A negociação envolve Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Secretaria Estadual de Saúde (SES), Ministério da Saúde (MS) e o Hospital Moinhos de Vento (HMV), administrador do HRes.
O acréscimo de novos tipos de atendimento no hospital depende de verbas do Programa de Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), do governo federal. "Temos vigente um contrato de seis meses e, depois, faremos um convênio de maior duração relativo ao HRes. Isso é prioridade, porque o serviço ali é fundamental para a região", aponta Harzheim.
Inaugurado em julho de 2014, até hoje o estabelecimento não atingiu seu pleno funcionamento. O Bloco Cirúrgico e a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) ainda estão fechados, devido à falta de repasses federais. "Estamos orgulhosos de ter investido, com recursos do Proadi-SUS e de isenções filantrópicas, mais de R$ 150 milhões em um sistema de saúde que acreditamos que fará diferença para a população da Restinga e do Extremo-Sul", avalia o superintendente executivo do HMV, Mohamed Parrini. Entre 2013 e 2015, o número de óbitos anuais da região caiu 22,4%, de 568 para 504. Entre crianças com menos de um ano, a redução foi de 24 para 16 mortes.
Em palestra no evento Grand Round, do HMV, o secretário municipal de Saúde enfatizou a precariedade da saúde da Capital, tão grave que exige medidas que não podem esperar a situação financeira estar menos crítica. "Por ser capital, Porto Alegre tem uma participação importante na saúde do Rio Grande do Sul, e precisa ter uma relação com os outros municípios até maior do que a existente atualmente, em alguns serviços", defende.
Na opinião de Harzheim, o Sistema Único de Saúde (SUS) criou "cercas" em cada um de seus serviços, que funcionam como clubes. "Hospitais que teriam capacidade para atender 3 mil pessoas por mês acabam atendendo 700, porque são aquelas que já conseguiram entrar. O sistema está tão invertido que uma pessoa bate em uma porta do SUS e dizem para ela que é a porta errada. Os usuários são ditos como os errados, enquanto os errados somos nós", aponta.
Um exemplo disso é a quantidade média de atendimentos a pacientes novos que os Centros de Atendimentos Psicossociais (Caps) realizam mensalmente: 18. "Isso mostra que a porta deles não está aberta. O serviço se fecha em si, as cercas formam seus clubes. Por opção ou situação de vulnerabilidade social, muitas pessoas ficam de fora. Quando o cidadão pensa em acessar o serviço, ele precisa ser puxado. É por essa dificuldade que temos problemas tão graves de sífilis congênita e tuberculose, por exemplo", salienta o secretário.
A abertura de Unidades Básicas de Saúde (UBS) até as 22h, e não até as 18h, pretende reduzir um gargalo no qual os usuários, ao não serem atendidos na atenção primária, procuram serviços de maior complexidade, como os pronto-atendimentos. "Não tem sentido investir em unidades de pronto-atendimento para atender 75% de pacientes com casos sem gravidade. O que precisamos é priorizar a atenção primária", afirma Harzheim. O secretário já adianta que o registro de atendimentos será menor do que o de meses anteriores até abril, mas que, devido à reorganização promovida pela SMS, a partir de maio, voltará a aumentar.