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infraestrutura

- Publicada em 12 de Março de 2017 às 22:48

Novos grupos disputam concessão de aeroportos

Empresa brasileira de infraestrutura CCR, presidida por Renato Vale, compõe a lista de candidatos às concessões

Empresa brasileira de infraestrutura CCR, presidida por Renato Vale, compõe a lista de candidatos às concessões


AE/JC
O primeiro leilão de concessão da era Michel Temer deve ter uma cara bem diferente das disputas verificadas nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Com as grandes construtoras penduradas na Lava Jato e sem a presença da Infraero, a licitação dos aeroportos de Salvador (BA), Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS) e Florianópolis (SC), marcada para quinta-feira, deve ser protagonizada pelas companhias internacionais e fundos de investimentos.
O primeiro leilão de concessão da era Michel Temer deve ter uma cara bem diferente das disputas verificadas nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Com as grandes construtoras penduradas na Lava Jato e sem a presença da Infraero, a licitação dos aeroportos de Salvador (BA), Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS) e Florianópolis (SC), marcada para quinta-feira, deve ser protagonizada pelas companhias internacionais e fundos de investimentos.
A lista de candidatos às concessões é ampla. Entre as operadoras estrangeiras de aeroportos estão as espanholas AviAlliance, Aena e OHL, a suíça Zurich, a argentina Corporación América, a alemã Fraport e a francesa Vinci. Do lado brasileiro, surgem grandes fundos, como Pátria e Vinci Partners, a empresa de infraestrutura CCR, presidida por Renato Vale, e algumas construtoras, como a CR Almeida.
Na semana passada, a maioria delas estava debruçada sobre planilhas para traçar as estratégias e definir se vão ou não participar da disputa. Apesar de terem de entregar as propostas hoje na BM&FBovespa, na sexta-feira, algumas ainda tentavam ter aprovação dos acionistas para entrar no leilão, e outras trabalhavam em acordos com construtores, caso vençam a concessão.
Fontes afirmam que a tendência é que as estrangeiras participem da licitação em parceria com empresas ou fundos brasileiros. É o modelo seguido pela AviAlliance, que se uniu ao Pátria, e pela Zurich, com a Vinci Partners. No mercado, também se cogitava a parceria entre a Fraport e a CR Almeida. Mas algumas podem entrar sozinhas, como a Corporación América, que administra os aeroportos de Brasília e de Natal.
Ao contrário do que ocorreu nas concessões passadas, protagonizadas pelas grandes construtoras, agora boa parte das empreiteiras não deve entrar como investidora, mas apenas no consórcio construtor. Para alguns grupos, a escolha da empresa que vai tocar as obras deve ficar para um segundo momento, depois da disputa. Mas, para reduzir os riscos, empresas estrangeiras têm preferido fechar acordos antes de entregar a proposta. Segundo fontes, Racional e Queiroz Galvão estavam entre as candidatas para tocar as obras de alguns grupos.
Apesar da quantidade de interessados que estudaram os quatro aeroportos, ninguém garante que o leilão será competitivo, nem se terá ágios elevados, como nas concessões passadas (Guarulhos, 373%; Brasília, 673%; Viracopos, 159%; Galeão, 294%; e Confins, 66%). Em todos esses aeroportos havia participação direta ou indireta de construtoras.
"Esse leilão está mais justo. Pode não ter ágio (como no passado), mas terá pretendente", afirma o sócio da BF Capital, Renato Sucupira, que fez os estudos de viabilidade dos quatro aeroportos que vão a leilão (dois foram selecionados pelo governo). Em Brasília, o clima também é de cautela. Fontes do governo acreditam que o leilão terá interessado, mas não descartam a possibilidade de algum lote dar vazio, ou seja, não ter interessado.
De fato, a preocupação aumentou na sexta-feira, quando a espanhola OHL, com um grupo coreano (KAC), desistiu de participar do leilão. Um dos entraves, que também pode afastar a presença da CCR, é a questão da defasagem de demanda. Os estudos do governo são de 2015. Mas, no ano passado, o volume de passageiros caiu 19% em Salvador, 13% em Fortaleza, 9% em Porto Alegre e 5% em Florianópolis, afirmam fontes que estão acompanhando os estudos. Isso atrapalha a elaboração da proposta, diz um candidato ao leilão.
Por outro lado, houve correções em relação ao processo anterior. A Infraero, que, nos últimos leilões, teve participação compulsória de 49% em todos os aeroportos, foi excluída das concessões. Essa foi uma medida para tentar atrair investidor estrangeiro, já que as grandes construtoras, que lideraram os consórcios vencedores dos leilões passados, não têm capacidade financeira para entrar na disputa. Além disso, houve melhora nas condições de pagamento das outorgas, afirmou outro candidato à licitação.
Segundo especialistas, a expectativa é que os aeroportos do Nordeste tenham mais competição. Uma das explicações é a maior proximidade com a Europa e a possibilidade de trazer voos internacionais diretos para Salvador e Fortaleza. "O apelo comercial é maior, já que esses terminais têm maior capacidade de trazer estrangeiros", disse uma fonte. De qualquer forma, alguns aeroportos também têm problemas delicados, que afetam as decisões dos investidores.
Em Salvador, por exemplo, a construção da segunda pista terá de ser feita em uma área de dunas, o que significa ter problemas com órgãos ambientais. O edital tentou resolver a questão, dizendo que, se não for possível construir, haverá um reequilíbrio econômico para retirar as obrigações do concessionário. "Mas é um fator de insegurança", disse uma empresa interessada no leilão. A extensão da pista de Porto Alegre também sofre algumas restrições, já que há uma invasão na área.
Para o governo, o leilão desta semana pode dar fôlego novo à economia, que vem de dois anos de recessão. De acordo com o edital de licitação, os quatro aeroportos vão exigir investimentos de
R$ 6,61 bilhões durante o período de concessão. Além disso, o leilão vai reforçar o caixa do Tesouro, já que uma parte da outorga terá de ser paga à vista (25% do preço mínimo mais ágio). No mínimo, o governo federal, que vive grave crise fiscal, pode arrecadar cerca de R$ 750 milhões.

Certame pode diminuir críticas que têm sido apontadas à velocidade do programa

Se for bem-sucedido, como esperam os técnicos envolvidos em sua preparação, o leilão de concessão dos aeroportos de Fortaleza, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre poderá aplacar as críticas que já começam a surgir dentro do próprio governo sobre a velocidade do programa. A área econômica, que luta para fechar as contas públicas deste ano dentro da meta, gostaria que os recursos dos leilões ingressassem mais rapidamente no caixa do Tesouro.
"Projetos de infraestrutura têm um período longo de maturação", justificou um auxiliar do ministro Moreira Franco, responsável pelo Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). E, ao contrário do que ocorria no governo anterior, a ordem agora é agir sem açodamento. 
O leilão dos aeroportos, por exemplo, poderia ter sido marcado para dezembro de 2016, 30 dias após a publicação do edital. Porém, explicou o técnico, o governo optou por marcar para março para dar mais tempo para as empresas, sobretudo as estrangeiras, se prepararem. 
Da mesma forma, há uma carteira de usinas hidrelétricas a serem leiloadas que gerariam taxas de outorga de R$ 11 bilhões à União. Mas o PPI as colocou em compasso de espera porque há disputa judicial em torno de alguns projetos. A decisão foi resolver esse imbróglio antes de avançar. 
"Não adianta sair anunciando uma lista de projetos, envolvendo bilhões de reais, se eles não acontecem", pondera um técnico. "Não vamos ficar aqui fazendo planos de power point que depois não saem do papel." 
Além de seguir seu ritmo sem se pautar pela necessidade de gerar receitas, o programa de concessões de Temer mudou a destinação de R$ 25 bilhões em taxas de outorga que serão cobrados das cinco concessionárias de ferrovias que terão seus contratos renovados antecipadamente. Tradicionalmente, esses recursos iriam para o Tesouro Nacional e ajudariam a fortalecer o resultado primário. Porém, o governo planeja usar o dinheiro integralmente para construir novas ferrovias. 
A lista de empreendimentos já está pronta e engloba, por exemplo, o Ferroanel de São Paulo e um novo acesso para a Baixada Santista. Também está prevista uma ligação ferroviária para o Porto de Açu, que será o principal para os projetos do pré-sal. Outro projeto na lista é uma linha de Água Boa, no Leste de Mato Grosso, até Campinorte (GO), onde se interligará com a Norte-sul. 
Além dos aeroportos, estão programados para este mês os leilões de dois terminais no porto de Santarém, no dia 23. Também estão programadas licitações para contratar estudos que embasarão a concessão de seis empresas estaduais de saneamento: Casal (AL), Caesa (AP), Caema (MA), Cosanpa (PA), Compesa (PE) e Deso (SE). E, até o dia 31, será aberta uma consulta pública para a concessão das BRs 364 e 365 entre Goiás e Minas Gerais. Por isso, os técnicos insistem que o programa não está devagar.