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Teatro

- Publicada em 05 de Março de 2017 às 16:09

Performance com proximidade e emoção

A temporada 2017, nas artes cênicas, está começando bem, a julgar-se pela proposta apresentada pelo espetáculo da coreógrafa Bia Diamante na sexta-feira passada. Bia montou um espaço seu, no bairro Petrópolis. Numa sala, ela desenvolve suas aulas; numa outra, apresenta seus espetáculos. Ele é relativamente grande, com quase sete metros por outros sete, ou algo parecido. Contra as paredes, em três lados, as cadeiras (poucas, 20 espectadores a cada performance). A quarta parede que, no teatro realista, seria respeitada, isolando o espaço cênico do público, aqui funciona ao contrário: é entrada e saída do(s) intérprete(s), tudo em tons cinzas (nada a ver com aqueles romances pseudamente eróticos), com cortinas vermelhas. Nesta quarta parede, uma tela de pelo menos 2,5 metros de comprimento por 1,5 metro de altura torna-se parte do cenário que, na verdade, é absolutamente despojado. Além de tudo isso, há uma espécie de tatame, também em cinza escuro. Bia Diamante pinta virtualmente espaços com os corpos de seus bailarinos. Neste caso, Mara Nunes: ex-funcionária administrativa da Polícia Civil, agora aposentada, ex-professora de dança de salão, foi escolhida por Bia Diamante para esta performance cerca de meia hora (insisto, prefiro falar em performance do que em espetáculo, propriamente dito: não é para ser assistido, é para ser sentido).
A temporada 2017, nas artes cênicas, está começando bem, a julgar-se pela proposta apresentada pelo espetáculo da coreógrafa Bia Diamante na sexta-feira passada. Bia montou um espaço seu, no bairro Petrópolis. Numa sala, ela desenvolve suas aulas; numa outra, apresenta seus espetáculos. Ele é relativamente grande, com quase sete metros por outros sete, ou algo parecido. Contra as paredes, em três lados, as cadeiras (poucas, 20 espectadores a cada performance). A quarta parede que, no teatro realista, seria respeitada, isolando o espaço cênico do público, aqui funciona ao contrário: é entrada e saída do(s) intérprete(s), tudo em tons cinzas (nada a ver com aqueles romances pseudamente eróticos), com cortinas vermelhas. Nesta quarta parede, uma tela de pelo menos 2,5 metros de comprimento por 1,5 metro de altura torna-se parte do cenário que, na verdade, é absolutamente despojado. Além de tudo isso, há uma espécie de tatame, também em cinza escuro. Bia Diamante pinta virtualmente espaços com os corpos de seus bailarinos. Neste caso, Mara Nunes: ex-funcionária administrativa da Polícia Civil, agora aposentada, ex-professora de dança de salão, foi escolhida por Bia Diamante para esta performance cerca de meia hora (insisto, prefiro falar em performance do que em espetáculo, propriamente dito: não é para ser assistido, é para ser sentido).
O corpo que temos à nossa frente é comum, sem nenhuma marca específica de uma bailarina, a não ser os pés que lhe servem de suporte e apoio. Ela é uma pessoa cotidiana. Seu cabelo está cortado junto ao coro cabeludo, como se, com isso, ela abdicasse de uma identificação de gênero. O que temos à nossa frente é um corpo humano. Composições existenciais, como se chama esta performance, e que ficará em cartaz todas as sextas-feiras e sábados, até fins de abril, descobrindo objetos e espaços que funcionam como sua memória, uma memória emocional.
Primeiro, duas almofadas, também cinzas, com as quais ela joga e atrás das quais se esconde e olha para os que também a estão mirando, os espectadores. Depois, uma poltrona, da qual ela tira os pés, imediatamente transformados em espécie de velas ou marcos que determinam espaços que se vão fechando cada vez mais em torno de seu corpo. Os objetos são, depois, reunidos, e as almofadas, de certo modo, transformam-se em entes queridos (crianças?) a que a personagem nina.
Ela anda/experimenta através do espaço, buscando entendê-lo, apropriar-se dele, assumi-lo, enfim. Caminhar exige equilíbrio, a que aquele corpo humano, a nossa frente, tenta chegar.
Enfim, muda-se de tática. Inicia-se toda uma passagem lúdica, em que se passa a jogar com seis retângulos de plástico, vermelhos. No final do espetáculo, estes seis retângulos vão ser fixados na tela que se encontrava na parede, equilibrando-se e criando uma composição plástica contrastando entre o cinza da tela e o vermelho dos retângulos.
Perguntei a Bia Diamante como se ensaia um trabalho deste tipo, sem nenhuma trilha sonora, o que facilita a memorização dos movimentos. Bia responde que é fruto de muito treino e de muito ensaio. Ou seja, tem de haver repetições (esta palavra é extraordinariamente fiel ao que se precisa fazer, aqui, para que o corpo de certo modo automatize os movimentos e reconheça os espaços, assim como um datilógrafo reconhece o teclado de sua máquina de escrever/computador). É preciso, para isso, habilidade, naturalidade, concentração. O público não assiste, apenas, ao trabalho: de certo modo, ele vai visualizando o desenho virtual que Bia Diamante desenvolve através do corpo da atriz. Ao mesmo tempo em que há intimidade e emoção, há também distanciamento e racionalidade.
Um belo espetáculo para que pensemos a respeito de todas as potencialidades de um corpo humano e seu espaço, uma memória e o corpo ereto que nos diferencia dos animais.
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