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- Publicada em 30 de Março de 2017 às 22:38

Estranhas memórias de Porto Alegre

Há quem diga que Porto Alegre ainda é uma província, uma açoriana tímida. Os mais críticos falam que é uma carroça. Porto Alegre sempre cultivou lendas e histórias, inventadas ou não, e sempre gostou de apelidos e nomes pitorescos para ruas e becos. Quem não lembra das histórias da noiva abandonada no altar da Igreja Santa Terezinha depois da delação de alguém ou da casa de gays masculinos na zona Sul?
Há quem diga que Porto Alegre ainda é uma província, uma açoriana tímida. Os mais críticos falam que é uma carroça. Porto Alegre sempre cultivou lendas e histórias, inventadas ou não, e sempre gostou de apelidos e nomes pitorescos para ruas e becos. Quem não lembra das histórias da noiva abandonada no altar da Igreja Santa Terezinha depois da delação de alguém ou da casa de gays masculinos na zona Sul?
O livro 20 Relatos Insólitos de Porto Alegre (Libretos, 216 páginas, R$ 34,00), do consagrado e premiadíssimo jornalista e escritor Rafael Guimaraens, autor de Tragédia da Rua da Praia e A Dama da Lagoa, entre outros 15 livros publicados, justamente trata da alma de Porto Alegre, de suas estranhas histórias. Os 20 relatos misturam drama, romance, tragédia, memória, jornalismo e teatro, envolvendo personagens reais e cenários, incluindo locais que não existem mais.
O trabalho é resultado de mais de uma década de pesquisas históricas e o autor, que já tem uma extensa obra dedicada à memória da cidade, utilizou toda sua vasta experiência e ótimo faro jornalístico para a seleção destas histórias. Segundo Guimaraens, as histórias são diferentes, mas guardam a estranheza que provocam nos leitores como fator comum.
Narrando o suicídio de Honorina, viúva de Júlio de Castilhos que não suportou a dor causada pela morte do marido depois de 20 anos de vida em comum, o autor envolve o leitor, torna-o cúmplice. Ela se suicidou com um fogareiro, na antiga residência da família, onde hoje funciona o Museu Júlio de Castilhos.
O dramático caso de amor entre o compositor erudito José de Araújo Vianna e a cantora e pianista Olinta Braga; o surgimento da mística em torno da moça assassinada que virou Maria Degolada, santa popular; e a maldição da Negra Inácia, que foi acusada de feitiçaria e assassinada pelos patrões, estão entre as narrativas do volume. Guimaraens utiliza formas narrativas e estilos diferentes para mostrar aspectos da memória de Porto Alegre, sem preocupar-se com juízos de valor ou avaliações morais.
Os episódios marcantes e trágicos da encenação da peça Roda Viva em nossa cidade, em pleno período de anos de chumbo, de censura e violência, e a espetacular fuga da Ilha do Presídio a bordo de duas panelas, igualmente revelam facetas esquisitas de nossa Porto Alegre. Streep-tease no Bar Novidades; e O incrível sumiço do chefe de polícia estão também no livro, contados com inventividade e criatividade, mas com respeito à verossimilhança e à honestidade, próprios da boa literatura e do jornalismo de qualidade.
Com mais esta ótima contribuição, Rafael Guimaraens com suas narrativas saborosas, mostra nossas memórias estranhas e nos faz compreender melhor esta cidade e seus habitantes.

lançamentos

  • A última camélia (Novo Conceito, 304 páginas), de Sarah Jio, autora de Neve na primavera e As violetas de março, best-sellers do N.Y. Times, narra sobre a última espécie de uma camélia rara e Flora, jovem americana que vai tentar obter a flor, numa mansão inglesa. Um amor e crimes estão se juntam na busca.
  • Anotações de meu diário: um lema - hei de vencer (Viapampa, 248 páginas), de Vilson Ferretto, advogado consagrado, escritor e ex-vereador de Uruguaiana, revela décadas de uma vida intensa e produtiva, em páginas de um diário iniciado na juventude, em 1953. De menino nascido na roça, de família modesta, Vilson vive trajetória exemplar e inspiradora.
  • Histórias de Taiwan, de Cláudia Presser Sepé, esposa de Yen Ko Chegn, taiwanês, traz nove contos folclóricos do país, que marcaram a infância e juventude de Yen. A obra conta com fotos feitas pelo casal e ilustrações de Cremilda Lenz Pereira. Lançamento nesta sexta-feira, na Fnac.

SE...

Se você consegue acordar cedo com as palavras e notícias catastróficas metralhadas pelos radiojornais e telejornais e levantar da cama;
Se você mais uma vez desistiu de fugir dos bandidos e se mandar de mala e cuia para o Uruguai (muito frio), Miami (muito caro), Rio de Janeiro (muita violência), Portugal, Austrália, Nova Zelândia (muito longe), Canadá, Suécia, Dinamarca ou Noruega (caríssimo);
Se você tem esperança profissional brasileira de que a Lava Jato é eficiente e duradoura como um eletrodoméstico nórdico e que não vai ser lavada e tornada obsoleta por alguma anistia tipo aquelas de parlamento italiano, que sujaram as mãos limpas;
Se você acha que ainda existe alguma verdade, alguma ética e que é possível revogar a Lei de Gerson e dar uma limpada geral na política, na economia e nos poderes públicos;
Se você acha que dá para controlar muuuuuuitooo a corrupção, o propinoduto e as demais tretas e aplicar o dinheiro em saúde, educação e segurança;
Se você acha que a gente vai conseguir pensar mais no coletivo e não só nos interesses individuais, pensar um pouco mais no que pode fazer pelo País e não só no que o País pode fazer por nós, pensar que estamos no mesmo barco, no meio da tempestade;
Se você acha que podemos aproveitar melhor nosso potencial turístico, nossas riquezas naturais, nossas qualidades pessoais e nossa rica e diversificada cultura;
Se você acha que surgirão novos e bons líderes e partidos políticos, com propostas de união nacional em torno de interesses públicos verdadeiros;
Se você acha que os administradores públicos conseguirão gastar bem o que tem e não gastarão o que não têm;
Se você acha que as pessoas obterão empregos, conseguirão poupar, não gastar o que não têm e observar o que fazem cidadãos de outros países, em termos de vida, consumo, hábitos e ideias;
Se você ainda tem capacidade de sonhar e achar que sonhos se tornam realidade, ouvindo Pixinguinha, Villa Lobos, Tom Jobim, Ary Barroso, Chico, Gil, Caetano e tantos outros;
Se você acha que é possível desarmar os bandidos, para não precisar armar os cidadãos e que é possível dar um jeito na criminalidade e deixar de viver com medo de sair para a rua e enfrentar a roleta-russa cotidiana das calçadas;
Se você acha que é possível melhor entendimento entre as forças do capital e do trabalho e debate sereno, transparente e real sobre as questões da previdência social;
Se você acha que é possível, seguindo o modelo sueco, um País com menos ou sem excelências, privilégios, gastos públicos controlados, pompas e circunstâncias reduzidas, término de almoços e jantares PJ (pessoa jurídica) e PP (poder público), auxílios esquisitos, cartões de crédito corporativos e outros penduricalhos; Se você acha que é possível um teto para remunerações públicas;
Se você acha que é possível conversarmos, respeitadas as diferenças e juntarmos, todos, os cacos desse Brasil fraturado, para bem de todos e para bens dos que ainda vão nascer;
Bom, aí então és um brasileiro consciente, esperançoso, realista e que, junto com os demais, pode tentar dar um jeito no que está aí.

a propósito...

Vêm aí as eleições. Tomara que na reforma política - aquela que não sai nunca - os parlamentares ouçam e respeitem os eleitores. Respeito, liberdade e democracia são ótimos e os cidadãos agradecem. Há quem não queira votar em quem já está no poder. Há quem queira - parece que são milhões - renovar para valer e dar um solene cartão vermelho para os representantes que não os representam. Há cidadãos que já estão saindo no braço para cima de parlamentares em aeroportos. Violência não é bom para ninguém. Os políticos devem se dar conta que a cordialidade, o caráter lúdico, a ginga e a paciência dos brasileiros acabaram. Todos esperam que eles se toquem. Ou então serão tocados para fora. Ainda é tempo de eles ouvirem a gritaria das ruas.