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comércio exterior

- Publicada em 20 de Março de 2017 às 11:07

Brasil desperta o apetite do dragão chinês


VISUALHUNT/DIVULGAÇÃO/JC
O Brasil em crise virou a grande oportunidade para os chineses ampliarem seus negócios no País. Sem medo de gastar e com forte apetite para o risco, eles planejam desembolsar neste ano mais US$ 20 bilhões na compra de ativos brasileiros - volume 68% superior ao de 2016, segundo a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China (Ccibc). O movimento tem sido tão forte que o Brasil se transformou no segundo destino chinês de investimentos na área de infraestrutura no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
O Brasil em crise virou a grande oportunidade para os chineses ampliarem seus negócios no País. Sem medo de gastar e com forte apetite para o risco, eles planejam desembolsar neste ano mais US$ 20 bilhões na compra de ativos brasileiros - volume 68% superior ao de 2016, segundo a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China (Ccibc). O movimento tem sido tão forte que o Brasil se transformou no segundo destino chinês de investimentos na área de infraestrutura no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
Na lista de companhias que planejam desembarcar no País, de olho especialmente nos setores de energia, transportes e agronegócio, há nomes ainda desconhecidos dos brasileiros, como China Southern Power Grid, Huaneng, Huadian, Shanghai Eletric, Spic e Guodian. "Há dezenas de empresas chinesas que passaram a olhar o País como oportunidade de investimentos e estão há meses prospectando o mercado brasileiro", diz Charles Tang, presidente da Ccibc.
Enquanto essas companhias não chegam, outras chinesas estão mais avançadas na estratégia de expandir os negócios. A State Grid, por exemplo, liderou os investimentos no ano passado, com a compra da CPFL; a China Three Gorges arrematou hidrelétricas que pertenciam à estatal Cesp e comprou ativos da Duke Energy; a China Communications Construction Company (CCCC) adquiriu a construtora Concremat; e a Pengxin comprou participação na empresa agrícola Fiagril e na Belagrícola.
Segundo levantamento das consultorias AT Kearney e Dealogic, de 2015 para cá, os chineses compraram 21 empresas brasileiras, que somaram US$ 21 bilhões. "Hoje, o Brasil é um país que está barato, por conta do cenário político e econômico. E isso é visto como uma grande oportunidade pelo investidor chinês", afirma o diretor para a área de infraestrutura da A.T. Kearney, Cláudio Gonçalves.
O atual movimento dos asiáticos no Brasil tem sido considerada como a terceira onda de investimentos chineses. Na primeira, vieram grandes multinacionais, como a Baosteel, de olho no setor de mineração e aço. A empresa chegou a fazer parceria com a Vale para construir duas siderúrgicas no País, mas o projeto não prosperou. Em 2011, comprou uma pequena participação na Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, que aposta na exploração de nióbio.
Na segunda onda de investimento chinês, apareceram companhias que tinham pouca ou quase nenhuma experiência no mercado externo, afirma o advogado do escritório Demarest Mário Nogueira. Ele explica que, nesse segundo movimento, muitas empresas - incluindo do setor automobilístico - não se deram bem no Brasil, por não terem recebido orientação adequada de como funcionava o mercado nacional. "Dessa leva, algumas quebraram, e outras tentam até hoje se desfazer de ativos."
A onda atual também inclui empresas inexperientes no mercado internacional, mas gigantes na China, com muito dinheiro para gastar. E, desta vez, as companhias têm se cercado de assessores financeiros e jurídicos. "Tem cliente que montou escritório de representação e está há três anos estudando o mercado brasileiro. De tanto rodarem em busca de negócios, já conhecem mais o País do que eu", afirma Nogueira.
Por ora, os escândalos revelados pela Operação Lava Jato envolvendo as maiores empreiteiras do Brasil estão longe de serem vistos como fator de preocupação econômica ou de instabilidade política pelos investidores chineses. Pelo contrário, têm ajudado, já que os preços dos ativos caíram.
Nos próximos meses, vários negócios em andamento poderão ser concluídos. É o caso da Shanghai Electric, que estuda assumir projetos de transmissão da Eletrosul, cujos investimentos somam
R$ 3,3 bilhões; a Spic está na disputa pela compra da Hidrelétrica Santo Antônio; e a CCCC tem vários ativos na mira, de construtoras a ferrovias. Outra que fez aquisições em 2016 e não deve parar por aí é a Pengxin. A empresa negocia a compra de parte do banco Indusval. Fontes afirmam que há ainda planos de a Pengxin levantar um fundo de US$ 1 bilhão para investir em agricultura. 

Controles à importação de alimentos preocupam

Parceiros comerciais de Pequim mostram-se alarmados com os planos da China de exigir inspeções intensivas de importações de alimentos, mesmo de itens de baixo risco como vinho e chocolate. Os Estados Unidos e a União Europeia afirmam que isso poderia gerar um custo de bilhões de dólares no comércio para o país. A regra poderia inflamar as tensões com o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que prometeu elevar tarifas sobre importações da China e da União Europeia.
Pela regra chinesa, que deve entrar em vigor no início de outubro, cada remessa de alimento deve exigir um certificado de um inspetor estrangeiro que confirma que ela atende aos padrões chineses. Outros países exigem essas inspeções apenas para carne, laticínios e outros itens perecíveis.
A novidade alarma fornecedores que veem a China como um mercado crescente, como os de frutas dos Estados Unidos, vinho francês, chocolate alemão, massa italiana e suco de laranja australiano. Eles reclamam que a China já usa essas regras para atravancar o acesso de carne e outros itens ao país, violando seu compromisso com o livre mercado. "Isso poderia reduzir muito dramaticamente as importações de alimentos", afirmou o embaixador alemão em Berlim, Michael Clauss. "Isso em geral parece mais uma proteção para os produtores chineses que algo sobre a segurança alimentar."
Os reguladores chineses argumentam que um escrutínio maior é necessário, já que aumentam as importações de alimentos. Segundo eles, o país pode considerar sugestões sobre alternativas. A China argumenta que as inspeções são apoiadas pelo Codex Alimentarius da Organização das Nações Unidas, uma espécie de código para alimentos, segundo fontes ligadas ao tema.

Confiança com economia chinesa se fortalece entre bancos e empresas

A confiança na economia da China entre banqueiros e empresários aumentou, de acordo com uma pesquisa trimestral do Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês), à medida que a produção industrial e o investimento na segunda maior economia do mundo se fortaleceram. O índice de confiança dos banqueiros na economia ficou em 64,9%, 11,2 pontos percentuais maior que o trimestre anterior, segundo o PBoC.
Executivos-chefes de empresas também disseram que estavam mais confiantes na economia, e que seus lucros aumentaram ligeiramente em relação ao mesmo período do ano anterior. A China deverá ter crescimento econômico de 6,5% este ano, ligeiramente inferior ao crescimento do PIB de 6,7%, em 2016.

Lava Jato facilita caminho para entrada na área de infraestrutura

Parcerias, como as estabelecidas no setor de energia, têm pautado negócios

Parcerias, como as estabelecidas no setor de energia, têm pautado negócios


ISSOUF SANOGO/AFP/JC
O envolvimento das maiores construtoras do Brasil na Operação Lava Jato tem ajudado a pavimentar a entrada do capital asiático nos principais projetos de infraestrutura do País. No entanto, isso não quer dizer que o investidor chinês tenha espírito aventureiro e esteja disposto a entrar em qualquer barca furada que encontre pela frente, de acordo com Cláudio Gonçalves, diretor para a área de infraestrutura da consultoria A.T. Kearney Brasil.
O olhar asiático avalia cada detalhe da operação antes de apresentar uma proposta, afirma o consultor. Mas esse olhar não se limita ao imediatismo da proposta. "Os chineses pensam numa lógica baseada no longo prazo, por isso são focados em setores de base e estratégicos, como infraestrutura logística e energia", comenta Gonçalves.
A realidade desfavorável para investimentos em países da Europa também favorece o Brasil. "Ainda há uma série de entraves econômicos em toda a Europa. Não há muitas oportunidades de grande porte pelo mundo. Por isso, os chineses passaram a olhar para outros países, como o Brasil, que ainda tem um longo caminho para avançar na área de infraestrutura."
Gonçalves chama atenção para o fato de que muitas empresas chinesas têm feito investimentos em parceria com companhias brasileiras para fincar a bandeira em determinados setores, como o de energia. Trata-se de uma medida de cautela, para conhecer como o setor funciona. A partir daí, passam a atuar de forma independente. "Eles passam por uma primeira etapa para aprender. Depois, saem criando suas próprias estruturas."
Na avaliação do consultor, o Brasil deve seguir caminhos já trilhados por outros países, como Portugal, Angola e Moçambique, onde os chineses compraram participações em empresas de energia, bancos, seguradoras e linhas transmissão. A favor dos asiáticos está o financiamento estatal. Invariavelmente, quando miram negócios em algum país, os chineses trazem consigo uma estatal financeira para bancar parte de seus projetos, o que dá independência em relação a financiamentos locais como os do Bndes, cada vez mais pressionados.
"Essa invasão chinesa tende a se intensificar no Brasil. Para além dos investimentos, cabe ao País analisar os riscos de concentrar todos os ovos na mesma cesta", comenta Gonçalves. "É preciso considerar que há uma preocupação estratégica por trás disso. Estamos falando de setores de base de uma nação."