Os incidentes da violência no Espírito Santo vão além dos nossos clássicos conflitos de rua. Indicam uma nova qualidade de protesto social, agora protagonizado pelas mulheres dos policiais, ao abraçarem, braço a braço, os portões dos batalhões, numa vigília sem descanso. Desapareceu a hipótese, de ainda poucas semanas, de cansaço na ida às praças, caracterizando esses confrontos a exaustão do diálogo com as corporações e sindicatos.
A nova militância feminina, motivada pela falta e atraso de salário no orçamento doméstico, cria uma insatisfação irredutível nos lares dessa coletividade afrontada. As donas de casa cobram diálogo direto com as autoridades e criticam a instabilidade de seus possíveis acordos. Essa resistência passou a independer, por inteiro, da volta dos maridos ao trabalho, como se viu no posterior retorno às unidades da Polícia Militar, negociado pelo governo capixaba. Fala-se, até mesmo, numa representação do grupo, com 40 mulheres a abrir o seu dito "direito" com o governo. No entrementes e na vigília, segue o abraço das grades e o entoar de orações, de par com o Hino Nacional. Deparamos, a bem da tomada de consciência coletiva do País, um novo protagonista, que declara que as associações não representam as mulheres e que se trata, sem volta, de um movimento das famílias. A novidade deverá, inclusive, passar à lei, como reconhecimento da figura do motim, tanto os policiais venham à resistência inesperada, na segurança de seus cônjuges. As normalizações da ordem pública estão à volta com novas figuras de conflito, a se superar pelo entendimento desse neofeminismo no País.
Membro da Academia Brasileira de Letras