As ruas do Espírito Santo seguiram praticamente sem policiamento na manhã de ontem, uma vez que um movimento de familiares de policiais militares bloqueia a saída de viaturas. O reforço de 1.000 homens das Forças Armadas e 200 da Força Nacional de Segurança fez com que alguns comerciantes se sentissem mais seguros para abrir as portas, mas não impediu que a Região Metropolitana de Vitória vivesse mais uma madrugada violenta nesta terça-feira. Segundo o Sindicato de Policiais Civis do Espírito Santo, foram confirmados 75 homicídios nos últimos quatro dias.
O reforço dos militares se concentra em terminais de ônibus da cidade. Sendo assim, os ônibus voltaram a circular pelo menos até as 19h. No entanto, a prefeitura de Vitória manteve a suspensão das aulas e do atendimento em postos de saúde.
Desde sábado, o estado vive uma onda de criminalidade, com assaltos, arrastões e assassinatos. Vídeos publicados na internet mostram lojas sendo saqueadas e até um ônibus roubado de um terminal. Embora o governo capixaba não confirme o número de óbitos, policiais relatam que os corpos recolhidos no fim de semana têm sinais de execução, geralmente com dois a quatro tiros na cabeça, no peito ou nas costas. No Instituto Médico Legal de Vitória, a movimentação de parentes é intensa e há superlotação de corpos.
O movimento formado por familiares de policiais, que continua obstruindo batalhões e quartéis, reivindica aumento salarial e vem conversando com a Secretaria da Segurança Pública do estado. No domingo, porém, o governo afirmou que só negocia quando o policiamento voltar às ruas.
O vice-presidente do Sindicato dos Policiais Civis, Humberto Mileip, afirmou que, depois dos policiais militares, os civis também poderão entrar em greve no Espírito Santo. "Nosso salário é um dos mais baixos do Brasil. Nos últimos anos, não houve recomposição por causa da inflação", justifica.
Uma decisão da Justiça considerou o protesto ilegal e determinou multa para as associações de policiais. As associações, no entanto, dizem não ser responsáveis pelo movimento dos familiares. "Forçaram a barra ao responsabilizar as associações", disse o major Rogério Fernandes Lima, presidente da Associação dos Oficiais Militares do Espírito Santo. "Só tem um culpado por essa situação: aquele que rompeu o diálogo", afirma, em referência ao secretário de Segurança, André Garcia.