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Finanças

- Publicada em 26 de Fevereiro de 2017 às 15:53

Custo do crédito no Brasil vai demorar a cair

Um debate antigo voltou à tona: o custo do crédito no Brasil. Um conceito de difícil compreensão, o spread está no centro de uma agenda do Banco Central (BC) para reduzir a taxa de juros cobrada do consumidor para estimular a economia. O spread é a diferença entre o custo do dinheiro para o banco (o quanto ele paga ao tomar empréstimo) e o quanto ele cobra para o consumidor na operação de crédito. Em números: é taxa de aplicação (32,8%) menos a de captação (9,5%), que resulta numa margem de 23,3 pontos percentuais, segundo o BC.
Um debate antigo voltou à tona: o custo do crédito no Brasil. Um conceito de difícil compreensão, o spread está no centro de uma agenda do Banco Central (BC) para reduzir a taxa de juros cobrada do consumidor para estimular a economia. O spread é a diferença entre o custo do dinheiro para o banco (o quanto ele paga ao tomar empréstimo) e o quanto ele cobra para o consumidor na operação de crédito. Em números: é taxa de aplicação (32,8%) menos a de captação (9,5%), que resulta numa margem de 23,3 pontos percentuais, segundo o BC.
O spread teve, em dezembro do ano passado, uma leve queda de 1,1 ponto percentual em relação ao mês anterior, mas voltou a subir em janeiro. Mesmo com a expectativa de continuidade da queda da Selic, a taxa básica de juros, ainda vai demorar para o barateamento do crédito aliviar de vez o bolso do consumidor. "Vamos engatinhar na queda do spread, a melhora só será sentida em 2018 e 2019", diz Mauricio Godoy, professor da escola de negócios Saint Paul. Mas a dúvida é natural: se a taxa Selic está caindo, a inflação já foi projetada para abaixo da meta e a economia parece dar sinais de melhora, por que o crédito continua caro para o consumidor?
Godoy explica que o spread olha para o histórico e a perspectiva de inadimplência dos consumidores. E, diante do cenário de curto e médio prazos, com 12,9 milhões de desempregados, é difícil imaginar que as condições de renda irão melhorar. Na prática, quer dizer que o desempenho capenga da economia e o desemprego alto mantêm acesa a luz vermelha para o risco de calote, mesmo que a inadimplência média entre pessoas físicas e jurídicas esteja estável em 3,7%.
Com esse alerta, os bancos continuam sem grandes estímulos para ofertar crédito, e o spread permanece elevado. Além do aperto nas finanças dos consumidores, do lado das empresas a situação também inspira cuidados. A maioria das companhias opera com alto nível de ociosidade, ou seja, sem reabsorver a grande massa de trabalhadores desempregados.
Para complicar o cenário, outro vilão do spread alto é o descasamento das operações bancárias. Com mais pessoas recorrendo a reservas financeiras de emergência, diminuem os recursos prontamente disponíveis para pagamento de bens e serviços, também chamados de saldo médio diário dos meios de pagamento restritos (ou M1). A cifra ficou em R$ 325,3 bilhões em janeiro, queda de 4,6% no mês.
Ainda dentro das operações estão as reservas que o banco faz contra possíveis calotes, a chamada Provisão para Devedores Duvidosos (PDD), que também contribuem para rarear o dinheiro disponível para crédito. Se considerado o spread só do crédito livre, quando o banco tem liberdade para estipular o custo dos empréstimos e financiamentos, como crédito pessoal e cheque especial, o lucro dos bancos responde pela maior fatia do spread, segundo o próprio BC.
Com a economia patinando, o desemprego crescente e a taxa básica de juros em queda, mas ainda num nível elevado, o diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, acredita que 2017 será um ano difícil para o crédito. Os consumidores "colocaram o pé no freio" para assumir novos empréstimos nos bancos, observa. Essa cautela aparece nos resultados do crédito contraído pelo consumidor junto aos bancos apurado pela Boa Vista SCPC. No mês passado, a procura por crédito no sistema financeiro caiu 1,1% ante dezembro de 2016, descontada a sazonalidade do período.
 

Só oferta para aposentados cresce em meio à retração

Em meio à retração generalizada de crédito que o País vem atravessando, apenas uma categoria de financiamento registra crescimento significativo: a do crédito consignado para aposentados. De acordo com dados do Banco Central, no acumulado de 12 meses até janeiro, o avanço do saldo do consignado foi de 15,6%, enquanto o saldo total de crédito para os brasileiros ficou praticamente estável (0,6%).
Para este ano, com o cenário ainda incerto de recuperação da economia, os bancos continuam centrando fogo nas linhas de crédito que oferecem menor risco de calote. Além do consignado para os aposentados, que tem inadimplência praticamente zero, porque o desconto da prestação é feito antes de o dinheiro chegar no bolso beneficiário, grandes instituições financeiras apostam agora no crédito que antecipa o saldo das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
O Bradesco, por exemplo, começou a operar o crédito pessoal com garantia no saldo do FGTS há cerca de uma semana. Até a semana passada, o banco tinha fechado 100 contratos de créditos atrelados ao FGTS, um desempenho, segundo o diretor executivo adjunto do Bradesco, João Carlos Gomes da Silva, que ficou dentro das expectativas.
Para antecipar os recursos, o banco cobra juros entre 2,5% a 4,4% ao mês, dependendo do histórico de crédito do cliente. O diretor observa que a taxa mínima de juros é muito próxima da cobrada nos consignados do INSS: 2,34% ao mês.
O Santander foi o primeiro banco que entrou nessa modalidade de financiamento, em meados de janeiro, logo após o governo anunciar que liberaria R$ 43 bilhões que estavam parados nas contas inativas do FGTS. Eduardo Jurcevic, superintendente executivo de produtos de pessoa física e consignado, explica que o saque dos recursos do FGTS pode ser antecipado com juros que variam entre 2,59% e 4,59% ao mês.

Juros subiram até para o consignado

Apesar de ser um crédito com retorno mais garantido em relação a outras linhas, as taxas de juros cobradas pelos bancos nos financiamentos consignados para os aposentados subiram em janeiro, seguindo um movimento geral de alta de juros para famílias e empresas.
Pesquisa do Banco Central (BC) mostra que a taxa anual de juros dos aposentados, que era 30,3% em dezembro, atingiu 30,7% em janeiro. Com os cortes sucessivos feitos pelo Comitê de Política Monetária do BC na taxa básica de juros desde outubro, a expectativa era de que a redução fosse repassada aos consumidores, especialmente aos beneficiários do INSS. O BC explica que a alta dos juros ocorreu, porque os bancos ampliaram as margens, isto é, o spread - a diferença entre o custo de captação e empréstimo.
O ciclo de contração do crédito, que registrou queda de 3,5% no ano passado para os empréstimos destinados a famílias e empresas, deve se encerrar nos primeiros meses deste ano, segundo avaliação da Acrefi, associação que reúne as financeiras. Nicola Tingas, economista da entidade, projeta um avanço entre 5% e 8% do saldo total de crédito do sistema financeiro em 2017. Mas ele pondera que a retomada do crédito para as famílias pode acontecer em um ritmo mais lento.