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Consumo

- Publicada em 26 de Fevereiro de 2017 às 21:51

Dívidas das famílias devem cair no segundo semestre

De acordo com levantamento, consumidores do Brasil não atingiram situação de consumismo excessivo

De acordo com levantamento, consumidores do Brasil não atingiram situação de consumismo excessivo


JC/
O futuro do comércio brasileiro não está comprometido pelo endividamento das famílias. Simulações com uma trajetória de estabilidade real do crédito à pessoa física mostram que, mesmo sem crescimento da renda, a parcela de comprometimento das dívidas das famílias poderia começar a cair já a partir da metade deste ano, atingindo 21,5% em dezembro e 20,0% no final de 2018.
O futuro do comércio brasileiro não está comprometido pelo endividamento das famílias. Simulações com uma trajetória de estabilidade real do crédito à pessoa física mostram que, mesmo sem crescimento da renda, a parcela de comprometimento das dívidas das famílias poderia começar a cair já a partir da metade deste ano, atingindo 21,5% em dezembro e 20,0% no final de 2018.
A constatação está no estudo "Consumo & Endividamento - O futuro do comércio no Brasil está comprometido?", realizado pela Assessoria Econômica da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS). A pesquisa revela que a expansão da relação consumo/PIB, que chegou a 64% em 2016 (um patamar considerado relativamente elevado para os padrões brasileiros), não ocorreu em função de um aumento acelerado do consumo, mas por causa da redução de 8,7% do PIB capita acumulado nos últimos dois anos (2016 e 2015).
"Se comparado a muitos outros países, podemos dizer que o brasileiro parece não ter atingido uma situação de 'consumismo' excessivo. Considerando países com renda per capita semelhante, ficamos em uma posição intermediária no confronto entre consumo e PIB, abaixo de países como México e Turquia, e semelhante ao Chile", constata o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn.
Outro dado levantado indica que a elevação da taxa de juros levou a um aumento recente no comprometimento da renda das famílias brasileiras com dívidas, e não o aumento do endividamento em si. Só as despesas com o pagamento de juros passaram a consumir quase 3 pontos percentuais de renda a mais entre 2013 e 2016, enquanto as despesas com amortizações só caíram.
Além disso, na comparação com outros países, a relação entre o volume de crédito à pessoa física e o PIB no Brasil pode ser considerada moderada. O estudo aponta que o patamar da taxa de juros e a renda das famílias surgem como limitadores muito mais evidentes para o desempenho do comércio nacional do que o nível de endividamento.
Os brasileiros estão em processo de ajustes de suas contas. O volume real de crédito à pessoa física caiu em mais de 7,0% no período de dezembro/2014 a dezembro/2016, e esse movimento já permitiu a contenção do comprometimento da renda familiar com dívidas e a interrupção na alta da inadimplência, mesmo com a renda ainda em trajetória de queda.
O estudo destaca, entretanto, que a combinação de crise econômica e de comprometimento da renda com dívidas resultou no aumento da inadimplência nos lares brasileiros a partir de 2015. A alta, no entanto, foi relativamente pequena se comparada a um histórico recente.

Gaúchos estão entre os brasileiros menos endividados, aponta estudo

Segundo os dados da Fecomércio-RS, o Rio Grande do Sul é um dos estados que estão menos longe de uma normalidade histórica em relação à inadimplência. As contas em atraso com o sistema financeiro, que chegaram a 3,18% no primeiro semestre do ano passado, já recuaram para 2,61% no fim de 2016. Para retornar ao mínimo da taxa de inadimplência já encontrada na série, os gaúchos precisariam quitar mais R$ 145,3 milhões em dívida - valor que representa apenas 2,1% do total do Brasil, que, para atingir os mesmos patamares, demandaria R$ 7 bilhões.
A queda na inadimplência em 2016 é vista como um bom sinal pelo presidente da entidade, Luiz Carlos Bohn. "Além disso, a dívida é curta, e os juros estão baixando, assim como a inflação. São todos fatores que podem ajudar na recuperação da economia", argumenta o mandatário. Embora refute o otimismo, Bohn afirma que os indicadores ajudam a pelo menos diminuir o pessimismo dos empresários. "O que é um aceno para o pessoal desempregado, para que possa, daqui a pouco, passar a ser adimplente", comenta o presidente.
A alusão aos desempregados é feita, porque, na visão de Bohn, grande parte da inadimplência atual é involuntária. São pessoas que, quando contraíram os créditos, vislumbravam o pagamento, mas, com a perda do emprego, perderam também a capacidade de quitar as parcelas. Segundo Bohn, 14% dos endividados afirmam não ter condições de pagar nenhuma parte de suas dívidas. Os bons indicadores, principalmente em relação aos juros, poderiam ajudar a mudar o quadro com as renegociações.
Para os lojistas, a situação aumenta a expectativa dos próximos anos. "Já para 2017, em específico, a previsão ainda é de pouco crescimento", analisa Bohn. Enquanto a confiança atual dos comerciantes, outro indicador medido pela entidade, está nos 91 pontos (patamar que demonstra pessimismo), a expectativa para o futuro já passa dos 131 (que significa otimismo). Apesar disso, Bohn argumenta que as reduções nos juros e no risco país, aliadas ao andamento das reformas, podem acelerar a retomada. No Estado, a confirmação de uma grande safra agrícola também é um fator que será preponderante para o sucesso do varejo.
 

Comprometimento da renda tende a sofrer redução até o mês de junho

O estudo da Fecomércio-RS revela cenários positivos para a economia das famílias a partir deste ano. Ele mostra, por exemplo, que, se consideradas apenas as dívidas atuais já contratadas e supondo uma estabilidade da renda, o nível de comprometimento da renda familiar com o pagamento de contas cairia dos atuais 22,0% para 19,2% no final do primeiro semestre de 2017 e para menos de 15% (mesmo nível de 2005) até o fim do ano.
"As dívidas atuais, que já foram formadas até 2016 e são resultado de toda a expansão de crédito ocorrida até aqui, não poderiam ser responsabilizadas por um comprometimento do futuro do comércio, pois elas se dissipam relativamente rápido", afirma Luiz Carlos Bohn.
Com a taxa de juros em ciclo de redução, a tendência é de que as dívidas formadas a partir de 2017 pesem menos no bolso das famílias brasileiras. "Caso o percentual de renda mensal utilizado para o pagamento de contas fosse estabilizado ao nível que se encerrou em 2016, o saldo de crédito às famílias poderia crescer 2,2% em 2017 e 7,4% em 2018", explica o presidente da Fecomércio-RS, considerando esse cenário mesmo que não ocorra um crescimento real da renda das famílias.
"As ações que beneficiam o comércio são as mesmas que contemplam toda a população brasileira, e envolvem políticas públicas que devem mirar o desenvolvimento econômico e a estabilidade de preços no longo prazo." Para Bohn, esses são elementos fundamentais para ampliar a renda, reduzir a taxa de juros e impulsionar o setor.