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Teatro

- Publicada em 16 de Fevereiro de 2017 às 22:45

História e dramaturgia

Tenho aproveitado algumas das atrações do Porto Verão Alegre para conhecer espetáculos que, por um motivo ou outro, deixei de assistir, ao longo de temporadas anteriores e que se firmaram, ao longo deste tempo. São os casos de O anexo secreto, por exemplo, e Frida Kahlo, à revolução!. Ambos os trabalhos são bastante autorais e ambos estão vinculados a acontecimentos da história do século XX.
Tenho aproveitado algumas das atrações do Porto Verão Alegre para conhecer espetáculos que, por um motivo ou outro, deixei de assistir, ao longo de temporadas anteriores e que se firmaram, ao longo deste tempo. São os casos de O anexo secreto, por exemplo, e Frida Kahlo, à revolução!. Ambos os trabalhos são bastante autorais e ambos estão vinculados a acontecimentos da história do século XX.
Frida Kahlo, à revolução! é o mais autoral deles. Trata-se de um projeto de dramaturgia e de interpretação de Juçara Gaspar que aborda a figura da pintora e militante comunista mexicana Frida Kahlo, em algum momento companheira do pintor Diego Rivera e que albergou em sua casa, inclusive, a Leon Trotski, quando este fugiu (infrutiferamente, como se sabe) da perseguição de Stalin.
A seleção de enfoques que Juçara Gaspar apresenta destaca a personalidade individual de Frida, que inclui, evidentemente, sua relação com Diego, mas olvida aquela com Trotski; salienta a perspectiva da artista, mas, sobretudo, preocupa-se em situá-la enquanto uma artista revolucionária, que faz da arte um modo de militância. O espetáculo, por sua relativa brevidade (uma hora) e por ser um trabalho solo, evidentemente é sintético. Por vezes, em demasia. Quem conheça a biografia de artista poderá seguir as referências. No entanto, quem a desconheça, terá dificuldades em entender muitas dessas referências. O que garante o interesse do trabalho, enquanto espetáculo cênico, é a opção, provavelmente do diretor Daniel Colin, pela trilha sonora enquanto fio condutor da narrativa. Assim, Luciano Alves, o músico que se coloca ao vivo e interfere continuamente no espetáculo, acaba repartindo, com a atriz, a atenção do público. Embora o espetáculo tenha tido lotações esgotadas e chegasse a ter uma sessão extra, confesso que esperava mais do trabalho. O que é, de fato, excelente, é a interpretação da atriz. Juçara Gaspar tem o tipo físico ideal para a personagem, que encarna com absoluta convicção. Tem presença cênica, ótima voz e sabe ocupar a cena como poucas atrizes. O espetáculo vale por todo este conjunto.
Quanto a O anexo secreto, é uma revisita ao conhecido diário da menina judia-alemã Anne Frank, que conseguiu esconder-se dos nazistas durante muitos anos, até ter sua família descoberta. Levados a diversos campos de concentração, ela faleceu num deles e seu diário foi encontrado muitos anos depois, salvo pela mesma sra. Miep Gies que os havia escondido. Ela queria tornar-se escritora famosa com aquelas anotações cotidianas. Conseguiu isso e muito mais: fixou, para a eternidade, a prisão em vida a que os nazistas obrigaram milhares de judeus, na tentativa de sobreviverem ao holocausto. O pai, único sobrevivente da família, conseguiu editar o livro e, a partir de então, ele se tornou um dos textos mais traduzidos, editados e lidos do mundo.
A diretora Fernanda Moreno fez a adaptação dramatúrgica do diário e também dirige o espetáculo, nascido nas salas do Departamento de Arte Dramática da Ufrgs, o que significa que seu elenco é inteiramente formado por jovens intérpretes. Mas também aqui a militância ajuda na qualidade do trabalho. Há convicção e interiorização das personagens por parte do grupo de quatro atores, que interpretam variados personagens, desde a cena que ocorre na rua, na parte externa do teatro, e que dramaticamente se passa numa sala de aula, até a encenação interna, que representa o anexo secreto em que a família Frank viveu com outras pessoas, escondidos, até serem, aparentemente, delatados.
Não há uma filosofia específica emanada do espetáculo, a não ser a força da personalidade da menina Anne. Mas também aqui, Fernanda Moreno teve o cuidado de não torná-la heroína: ela é uma menina adolescente, com todas as contradições. Há muitos anos, o diretor Pereira Dias também encenou um Diário de Anne Frank, no teatro de Arena, com excelente repercussão. Neste caso atual, Gabriel Fontoura, Leo Beillo, Madalena Leandra e Natália Vargas Xis nos dão um espetáculo emocionado mas objetivo, em que a luz tem importância capital para o clima criado no trabalho. Excelente experiência a mostrar o amadurecimento de Fernanda Moreno.
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