Caroline da Silva

Os quatro integrantes do Biquini Cavadão - o cantor Bruno Gouveia, o guitarrista Carlos Coelho, o tecladista Miguel Flores da Cunha e o baterista Álvaro 'Birita' - começaram a pensar em um novo álbum depois do lançamento de CD/DVD/BD Me leve sem destino, em 2015, que já trazia quatro faixas inéditas além dos sucessos dos 30 anos de carreira. Foi aí que o vocalista sugeriu ser o momento de concretizar antigos sonhos. Um era fazer um disco com o reconhecido produtor musical Liminha, que foi baixista dos Mutantes e já foi responsável pela produção de mais de 180 títulos. Gouveia considera esta uma lacuna na trajetória do grupo.

Com os dois trabalhos mais recentes, foi entregue ao ícone do pop brasileiro um recado: "Sabemos que você não deve ter ideia do que é o Biquini Cavadão hoje, provavelmente tem uma ideia nossa formada há muitos anos. Dê uma sacada antes de a gente conversar". O vocalista conta que, depois de poucos dias, Liminha telefonou afirmando ter tido uma bela surpresa. "Partimos deste ponto. Fizemos juntos a seleção do repertório de 30 canções que foram filtradas para 12. Liminha, ainda por cima, por conta de nossa formação atual sem baixista, gravou os baixos e fez uma imersão conosco em cada música." Além de tocar contrabaixo em todas as faixas, nesse primeiro disco com o grupo carioca, o produtor também colaborou com gravações adicionais de violão, bandolim, guitarra e loops. As voltas que o mundo dá (R$ 24,90) foi gravado entre maio e agosto de 2016, nos Estúdios Nas Nuvens, de propriedade de Liminha.

O novo trabalho foi lançado agora em fevereiro, e uma turnê de divulgação do registro já está confirmada. Porto Alegre se encontra nos planos do roteiro, segundo Gouveia: "Certamente. A tour Me leve sem destino, do DVD anterior, passou por aí e foi ótima. Queremos voltar ao Rio Grande do Sul como um todo".

Criada em 1983, no Rio de Janeiro, a Biquini Cavadão é uma das grandes bandas brasileiras das últimas décadas. Com um som que mistura rock, reggae e pop, o grupo é autor de sucessos como Vento ventania, Quanto tempo demora um mês, Janaína, Dani e Tédio. O vocalista adianta uma renovação sonora em As voltas que o mundo dá: "Graças ao trabalho que fizemos com Liminha". As 12 letras retratam vivências, conquistas e derrotas no âmbito pessoal e profissional dos integrantes, buscando compreender a vulnerabilidade da vida, das alegrias, de um novo amor, de uma separação, de uma tragédia. O título da seleção vem de um verso da 7ª faixa, Nossa diferença de idade: "Quem poderá nos explicar/ As voltas que o mundo dá?".

Falando sobre a recepção da sua obra, Gouveia brinca: "Para estarmos há mais de 32 anos fazendo shows pelo País, nossa música foi passada de pai para filho. E vice-versa! E, sim, parafraseando a letra do novo disco, a nossa felicidade se revela nessas diferenças de idade. O público do Biquini Cavadão hoje varia dos 15 aos 55 anos".

Todas as faixas são assinadas pelo grupo; a maioria, com parcerias. Nas influências da banda, o rock na língua inglesa sempre foi presente. Explorando mais esse universo, tiveram composições com os norte-americanos Eric Silver e Beth Hart, além do neozelandês Simon Spire. Atentos a novos talentos, seguiram a bem-sucedida conexão com Dudy Cardoso (coautor da canção Roda-Gigante, indicada ao Grammy Latino em 2013).

"Desde o começo, decidimos assinar tudo coletivamente." O vocalista explica que a sugestão foi dada pelo amigo e produtor Carlos Beni: não perder tempo brigando por quem compôs o quê. "E ele estava totalmente certo. Cada um tomou as rédeas em momentos que a criatividade faltou a outro integrante. Há sucessos de todos num mesmo bolo." O cantor destaca que, nos momentos mais difíceis pelos quais passaram, foi bom comemorar juntos quando entrava algum dinheiro de direito autoral.

Atualmente, Gouveia relata escrever com o guitarrista e, às vezes, sozinho. "Birita também costuma compor solitariamente. Mas, quando vamos arranjar a música, é como se ela ali deixasse de ser minha ou de outro membro. Todos participam." Sincero, o artista detalha as formas de participação nos valores: "Em uma faixa de um de nós com outro compositor, o primeiro recebe 50% e nós todos dividimos a outra metade. Se forem dois de nós, o outro recebe um terço e dividimos os outros dois. Vimos bandas acabarem por estas discussões. Nunca tivemos problemas com isso". Não somente a renovação de público, temas e sons, mas também esta fórmula pode ser o motivo para a manutenção de mais de três décadas do Biquini Cavadão na estrada.