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Segurança pública

- Publicada em 12 de Janeiro de 2017 às 16:30

Lei de Drogas superlotou presídios, aponta ONG

População prisional teve aumento de 85% entre 2004 a 2014, chegando a mais de 622 mil pessoas

População prisional teve aumento de 85% entre 2004 a 2014, chegando a mais de 622 mil pessoas


JC
A chave para se resolver a crise do sistema prisional brasileiro é combater a superlotação, avalia a ONG Human Rights Watch (HRW), que divulgou, nesta quinta-feira, seu Relatório Mundial 2017. O trabalho analisa práticas na área de direitos humanos em cerca de 90 países. A entidade classifica a situação dos presídios no Brasil como de "absoluto desastre" e aponta como fator para o aumento de 85% na população carcerária de 2004 a 2014 - chegando a mais de 622 mil pessoas, 67% a mais do que a capacidade das unidades - a Lei de Drogas de 2006, que aumentou penas para traficantes.
A chave para se resolver a crise do sistema prisional brasileiro é combater a superlotação, avalia a ONG Human Rights Watch (HRW), que divulgou, nesta quinta-feira, seu Relatório Mundial 2017. O trabalho analisa práticas na área de direitos humanos em cerca de 90 países. A entidade classifica a situação dos presídios no Brasil como de "absoluto desastre" e aponta como fator para o aumento de 85% na população carcerária de 2004 a 2014 - chegando a mais de 622 mil pessoas, 67% a mais do que a capacidade das unidades - a Lei de Drogas de 2006, que aumentou penas para traficantes.
"O Brasil não vai conseguir construir presídios suficientes. A solução passa pelo sistema judiciário", afirma o pesquisador da HRW César Muñoz, que esteve nas penitenciárias do Complexo de Curado, em Pernambuco, onde os motins são constantes, e de Pedrinhas, no Maranhão, onde mais de 60 presos foram mortos entre 2013 e 2014. "Entrar em um presídio no Brasil é uma volta no tempo, quase à Idade Média. São celas escuras, sem ventilação, absolutamente insalubres", relata.
A expansão das audiências de custódia, que aceleram as decisões judiciais para presos em flagrante, garantindo o direito ao réu de ser visto por um juiz, é citada como uma das saídas para diminuir a superlotação. Segundo a HRW, em todos os países da América Latina esse direito é respeitado integralmente, à exceção do Brasil e de Cuba.
O relatório dá destaque negativo ao País também por conta do grande número de execuções praticadas por policiais. Isso abastece o ciclo da violência em áreas que já têm altos índices de criminalidade e eleva o risco de morte dos policiais. Em 2015, 393 agentes foram assassinados no Brasil - no mesmo ano, eles mataram 3.345 pessoas.
Fundada em 1978, a HRW é uma respeitada ONG com sede em Nova Iorque. Seus relatórios apontam violações aos direitos humanos como forma de chamar a atenção da comunidade global para esses abusos, e de pressionar governos a combatê-los.

Em reunião com presidentes de TJs, Cármen Lúcia pede 'esforço concentrado' nas execuções penais

Presidente do STF também cobrou dados sobre presos provisórios

Presidente do STF também cobrou dados sobre presos provisórios


JOSÉ CRUZ/ABR/JC
A ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), pediu aos presidentes dos Tribunais de Justiça (TJs) dos estados brasileiros e do Distrito Federal que informem, até as 17h da próxima terça-feira, a disponibilidade de juízes, auxiliares e servidores para trabalhar em um "esforço concentrado" nas execuções penais, para acelerar a análise dos processos.
A ideia é que, por 90 dias, uma equipe de cada tribunal esteja deslocada para isto. A reunião, que ocorreu nesta quinta-feira, durou cinco horas e contou com presidentes dos TJs de estados de todo o Brasil, com exceção do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso. A ideia do "esforço concentrado" nas execuções penais parte da constatação de que há uma quantidade enorme de presos aguardando julgamentos em todo o País, o que aumenta a massa carcerária. Trata-se de uma medida, de certa forma, alternativa aos mutirões carcerários antigamente realizados pelo CNJ.
A ministra também pediu informações sobre quantos presos provisórios existem na população carcerária de cada estado, ponto importante para reunir dados a fim de basear as ações nacionais. "É hora de agir com firmeza e rapidez", afirmou Cármen Lúcia.
O presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas, Flavio Pascarelli, comentou que, em seu estado, cenário de recentes chacinas em casas prisionais, um mutirão carcerário começou a ser feito a partir de quinta-feira. O magistrado disse também que haverá uma reunião "com todos os órgãos que participam do sistema penitenciário, como Defensoria Pública, Ministério Público e secretarias de Segurança, e, a partir daí, tomar medidas concretas".
A reunião foi a primeira que uniu autoridades do Poder Judiciário de todo o Brasil em 2017. Na semana passada, Cármen Lúcia havia se encontrado com presidentes dos TJs dos estados da região Norte e do Maranhão.

Relatório da ONU de 2015 alertava sobre falta de segurança no complexo penitenciário de Manaus

A Secretaria Especial de Direitos Humanos publicou o relatório elaborado pelo Subcomitê das Nações Unidas para Prevenção à Tortura sobre a inspeção feita em presídios de quatro estados brasileiros em outubro de 2015. As conclusões foram enviadas ao governo federal em novembro passado. De 19 a 30 de outubro daquele ano, cinco peritos do subcomitê da ONU passaram por 22 delegacias, prisões, centros de detenção provisória, instalações para adolescentes, hospitais penitenciários e instituições forenses de Brasília, Pernambuco, Rio de Janeiro e Amazonas.
No relatório, os peritos alertam sobre a superlotação no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, onde 56 detentos morreram em uma disputa de facções no início deste ano. Na época da visita, o local abrigava 1.203 apenados, quando a capacidade era de 450. Os peritos citaram também um caso ocorrido no complexo em 2002, quando 12 presos foram mortos. Eles alertaram que a superlotação poderia levar a incidente similar a qualquer momento, o que acabou ocorrendo.
"O comentário que ouvi dos peritos sobre Manaus, em 2015, foi sobre a falta de segurança nos presídios. E a questão da segurança é um dos pontos mais observados pelo subcomitê. Os presos também precisam de segurança e ninguém se preocupa com isso. A população carcerária é invisível e indesejável. E o que gera esse tipo de crise é o tratamento desumano, além da questão de facções rivais serem colocadas juntas. Aí é guerra, eles se matam mesmo", diz Margarida Pressburger, integrante do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU.
Em Roraima, onde recentemente ocorreu o massacre de mais de 30 pessoas em uma penitenciária agrícola, ainda não houve inspeção do subcomitê internacional. A situação precária dos presídios também foi citada durante encontros entre os peritos da ONU e integrantes do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, órgão criado pelo governo e integrado também pela sociedade civil.
"Essa desgraça que ocorreu no Amazonas e em Roraima estava prevista. A situação penitenciária do Brasil é muito preocupante. Primeiro, porque a população carcerária é muito grande, maior do que o número de habitantes de muitas cidades, e, segundo, pela situação precária em que os detentos são mantidos", afirma Margarida.
A superlotação nos presídios continuou sendo um problema no País, apesar das recomendações feitas pela ONU no relatório da visita anterior, em 2011. "O relatório é praticamente idêntico ao de 2011. Nenhuma das medidas sugeridas foi adotada. O País ignorou as recomendações do subcomitê", lamenta.
O Brasil deve responder ao relatório até maio. A Secretaria Especial de Direitos Humanos afirmou que não vai se pronunciar e que o assunto está sendo tratado internamente no âmbito do Ministério da Justiça e Cidadania.